Assumindo poder vir a ser considerado saudosista, ou até mesmo piegas, não resisto a prosseguir o relato dos locais da minha infância. Sinto-me bem recordando e deixando desfilar pela memória os tempos da meninice. Estarei a envelhecer?
Hoje vou recordar o MONTE:
Antes que o dia amanhecesse, pelas segundas-feiras partiam os dois carros de parelha (chamavam-se de parelha por serem puxados por dois machos), com os mantimentos para a semana. Eram conduzidos pelo MANECAS e pelo FARINHEIRA. Quando o sol nascia partíamos nós, eu e o meu padrinho na charrete., conduzida pelo JANOTA . Ainda era uma distância muito razoável. Pois havia que apanhar atalhos para evitar a ribeira de Terena.
No Inverno, tempo das sementeiras, a coisa não era lá muito do meu agrado, valia a distracção dos relas (bácoros recém nascidos), a ordenha das cabras e as voltinhas no burro e o armar aos pássaros.
Mas no Verão… aí sim que bem se estava no MONTE. Era o tempo da ceifa, depois da debulha. O MONTE tinha mais vida, havia mais gente. Até porque na charrete iam sempre umas grades de cervejas, para os ceifeiros quando cumpriam a empreitada, e de pirolitos para mim.
O trabalho começava ao raiar da aurora, era altura de levantar, e ir espalhar as armadilhas, preparadas de véspera com isco tirado dos carapetos, depois com a pressão de ar ir para debaixo dos choupos à espera que algum passarito desse o corpo ao manifesto. Há hora do almoço juntava-se todo o pessoal na rua do Monte, para o gaspacho, confeccionado pelo LADISLAU, com muito pepino e tomate mas parco em azeite, e omisso em paio, substituído pelas azeitonas sapateiras. E vinha a sesta.
Pela tarde, era o banho na ribeira, e a pesca à lapa, onde muitas vezes o peixe era substituído por uma ou outra cobra de água, o que me fazia regressar ao Monte mais depressa que o que eu queria. O dia completava-se com o jantar, gaspacho para não variar, de vez em quando umas sopinhas de tomate, e quando o rei fazia anos uma açorda de pechelim. À noite armava-se a tarimba, à volta da eira, contavam-se histórias, com sorte lá havia um que tocava uma gaitada, outro que cantava uma chapota, e toca a dormir que o dia fui duro, e o de amanhã vai ser o mesmo.
Talvez, seja por isto, por ter vivido com todos aqueles que sentiram na pele o trabalho árduo da vida do campo, que autores como: ALVES REDOL (Fanga, Barca dos Sete Lemes), FERNANDO NAMORA (O Trigo e o Joio, A Casa da Malta, Retalhos da Vida de um Médico) JOSÉ SARAMAGO (Levantados do Chão) MIGUEL TORGA (A Criação do Mundo) MANUEL DA FONSECA (Seara de Vento), ocupam um lugar mais que previligiado, nas minhas leituras preferidas .
JÁ AGORA…. SABEM DE QUE MONTE ESTIVE A FALAR???
Xico Manel
Saudações Marroquinas
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