Évora e a competitividade
Hélder Rebocho
Quarta, 04 Outubro 2006
No passado fim-de-semana foi dada à estampa num jornal de âmbito nacional e com honras de destaque na primeira página uma notícia que surpreendeu os Eborenses - Évora está no topo da competitividade entre 18 cidades capitais de distrito, segundo o estudo publicado pelo referido jornal. Confesso que fiquei no mínimo estupefacto com o teor da notícia.
Num primeiro momento olhei de imediato para o calendário, não fosse estar no dia 1º de Abril sem ter dado por isso. Não estava.
Por isso, num segundo momento belisquei os braços, pois pensei estar a sonhar. Também não estava.
Afinal vivo em Évora há 38 anos e nunca constatei que fosse sequer uma cidade competitiva e muito menos que fosse a mais competitiva do país.
Não sei se o título de primeira página foi mera casualidade, ou se pretendia “dar o jeito” a alguém, mas que os menos atentos poderiam cair no logro de pensar que Évora é a cidade mais competitiva do país, disso não tenho a mínima dúvida.
Vamos chamar as coisas pelos nomes sem artifícios ou habilidades. Aquilo que o referido estudo revela é que Évora é a cidade do país com maior potencial de competitividade, não é a mais competitiva, o que é bem diferente.
Sejamos claros, os indicadores que servem de base a este estudo não são a riqueza, o desenvolvimento, o nível de industrialização, o poder de compra ou o planeamento estratégico, porque se fossem, Évora seria, certamente, a última das 18 cidades.
Na minha opinião o aspecto mais importante, aquele que não constitui novidade para ninguém, resulta da constatação que Évora é uma cidade com elevadas potencialidades.
Também não é novidade nenhuma que essas potencialidades têm sido sucessivamente desaproveitadas pelos executivos camarários. Os resultados são demasiado visíveis para poderem ser encobertos pelo título de um jornal, é como pretender tapar o sol com uma peneira.
Basta olharmos á nossa volta para percebermos que o potencial competitivo de Évora está há muitas décadas em arquivo morto no edifício da Praça do Sertório, e o resultado, aliás, está á vista. O desemprego tem crescido para níveis preocupantes, a industria é quase nula, a mobilidade urbana toca o limiar do péssimo, a cultura já aqui não habita e faltam infra-estruturas adequadas às exigências de uma cidade de média dimensão.
De acordo com o estudo em questão, Évora é a cidade com maior potencial de competitividade, sendo comparada, em sentido figurativo, a uma estrada de terra batida com uma enorme recta para acelaração.
Pois muito bem, se beneficiasse de uma intervenção adequada, poderia em breve, passar a IP e no futuro até a auto-estrada do desenvolvimento. Mas para isso seriam necessários engenheiros competentes e um projecto de construção consistente, que infelizmente não existem, e por isso a estrada vai sendo remendada aqui e ali apenas para tapar buracos causados pela inércia de quem muito promete e nada faz. Asfalto, nem vê-lo.
Os dados que servem de base ao estudo são de 2002, por isso aguardo com expectativa nova publicação de resultados daqui a três anos, quando se fizer o balanço de dois mandatos consecutivos do actual executivo camarário.
Pela forma como Évora tem sido tratada, nessa altura a velha estrada de terra batida com uma enorme recta, que se poderia ter transformado em auto-estrada, já estará intransitável. Esta será a principal consequência do erro de adjudicação da obra a quem não tinha capacidade para a fazer.
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