terça-feira, 3 de outubro de 2006
CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM
Compromisso (com) Portugal?
José Faustino
Segunda, 02 Outubro 2006
Reuniram pela segunda vez no Convento do Beato mais de meio milhar de gestores, empresários, economistas e afins.
A iniciativa chama-se “Compromisso Portugal”.
Nada me move contra este tipo de iniciativas, especialmente quando elas vêm do sector privado da sociedade e sem a atribuição de subsídios para a sua realização.
As opiniões de gente deste nível não se podem desperdiçar e certamente muitas delas serão aproveitadas por quem as possa utilizar.
É pena que tenham ficado apenas por sugestões ao Governo e não tenham também surgido medidas para o sector privado a que eles próprios pertencem, poderiam até ir um pouco mais longe, assumindo alguns compromissos para com o país, fazendo jus ao seu próprio nome.
Por exemplo: poderiam auto-limitar as suas próprias regalias, reduzindo o leque salarial praticado por muitas das suas empresas, aproximando-se do que se verifica nos outros países; poderiam também comprometer-se a não vender mais empresas aos espanhóis, especialmente depois de pedirem ajuda ao Presidente da Republica para manter os centros de decisão em Portugal.
Mas das conclusões do encontro, a que mais me fez pensar foi a do despedimento de 200.000 funcionários públicos.
Este número vindo de quem vem não é engano, 200.000 postos de trabalho têm incidência directa ou indirecta em mais de meio milhão de pessoas, estamos a falar de 5% da população portuguesa. É muita gente!
Sem dúvida que isto representaria uma redução da despesa pública anual equivalente a 4% do produto interno bruto era, sem dúvida, do ponto de vista económico, uma medida que em muito contribuiria para o equilíbrio das contas do Estado.
Mas, como dizia o Presidente Jorge Sampaio, há mais vida para além do défice, o que significa dizer que os governantes não podem só olhar à vertente económica, a vertente social é também muito importante.
Já se pensou o que se iria fazer a tanta gente? O sector privado teria capacidade de absorver toda esta gente? Penso que não.
A proposta feita, já teria outro valor se o sector privado se comprometesse a absorver pelo menos metade do número apontado, mas claro que isso não é possível.
É verdade que é urgente começar a reduzir a despesa pública pois como sabemos o Governo tem tido resultados inversos, a despesa cada vez é maior e quando se gasta mais do que se recebe sabe-se antecipadamente qual é o resultado.
Para equilibrar as contas públicas é necessário fazer grandes reformas de fundo e não aplicar apenas medidas avulsas como esta, isso é aliás, o que o Governo tem feito ultimamente.
Por outro lado, era só o que faltava era que os políticos para remediarem a situação económica a que chegámos, da qual são eles próprios os principais responsáveis, fossem agora criar mais um novo problema social desta envergadura.
Reduzir a despesa não significa só despedir trabalhadores é preciso muito mais imaginação, é isso que se exige a um bom gestor e no Beato, ao que parece, havia muitos.
Compromisso Portugal
Domingos Cordeiro
Terça, 03 Outubro 2006
Quando, há dois anos, surgiu o Compromisso Portugal e deu a conhecer ao que vinha foi visto por muitos, entre os quais me incluo, como algo a saudar.
Finalmente tínhamos a sociedade civil no debate da política económica e social.
Decorridos dois anos sobre aquele primeiro encontro, período durante o qual o Compromisso Portugal primou pelo silêncio, os mentores do movimento promoveram novo encontro, uma vez mais, no Convento do Beato.
Neste encontro, que teve forte cobertura mediática, apontaram, entre outras, para as seguintes medidas: O Governo deve despedir duzentos mil funcionários e deve promover a privatização total das empresas ANA, TAP e da CP, entre outras.
O que propuseram não contem novidade, é pouco acertado e esquece que o contexto económico e político do Pais são agora outros.
Entre o que disseram há dois anos e o que fizeram – que foi pouco ou nada – esvaiu-se o mérito da proclamação inicial do Compromisso Portugal.
Ficou-se pela receita.
Isto para não dizer que figuras do Compromisso já foram destacados governantes e que, enquanto tal, nada fizeram para mudar o estado das coisas que agora criticam.
O Pais tem uma doença endémica: criticam-se os governos, recriminam-se as políticas, pede-se menos Estado, mas, depois, se não é o Estado o motor das mudanças e do desenvolvimento, tudo continua como dantes.
Talvez por isso, o que ressalta do último encontro é que os empresários e gestores privados que ali se reuniram falaram, essencialmente, dum único negócio: o dos dinheiros públicos.
Ora a propósito de dinheiros públicos convêm lembrar que no passado dia 27 de Setembro, o insuspeito Forum Económico Mundial de Davos explicou que, no cômputo das actividades desenvovlvidas que concorrem para medir, em padrões internacionais a competitividade de Portugal, o sector privado tem pior nota do que o sector publico.
As empresas privadas ficam, assim, a perder no confronto com as instituições públicas.
Assim sendo, sem querer ser pretensioso, sugiro ao empresários e gestores privados que estiveram no Beato que, à frente das suas empresas, apostem numa liderança mais cautelosa e menos exuberante, na qualificação dos recursos humanos, investigação, desenvolvimento e investimento, e deixem os assuntos de Estado para os eleitos e eleitores.
Em suma, que se comprometam mais com Portugal.
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