Introdução: Desta vez Augusto Mesquita, que nos permite mensalmente transcrever os seus artigos publicados na Folha de Montemor escreve sobre uma profissão nobre, que por certo vai trazer à memória de todos nós momentos inesquecíveis vividos com condutores de táxis .
Quem não tem momentos vividos (para o bem e para o mal) com homens que exerceram e exercem tal profissão?
É um recordar que a todos e em diversas localidades irá trazer lembranças vividas.
No que me diz respeito, imediatamente me acorreram à memória o Zé Afonso, o Quaresma, o Tomé, o Valente e mais recentemente o Pimpão.
Recordo com saudade as noites em que o taxista (por acordo directo) nos levava aos bailes “fora” e quando a troco do bilhete e do bife no Bidais nos deslocávamos a Vila Viçosa para no Cine Teatro assistíamos a uma belíssima sessão de cinema.
Leiam e recordem…
Em Agosto de 1913 Montemor-o-Novo acolheu o primeiro automóvel de aluguer
O táxi propriamente dito, apareceu historicamente quando foram aplicadas taxas à sua utilização através de taxímetros. Contudo, o serviço de transportar pessoas numa grande cidade a qualquer pessoa que o solicite, é quase tão antigo como a civilização. O primeiro serviço desse género apareceu com a invenção do riquexó – carro de duas rodas puxado por um só homem. Existia, embora em pouca abundância, nas principais cidades da Antiguidade, mas era exclusivo das elites, que possuíam escravos para puxar esses carros.
Nas ruas da Roma Antiga, circulavam liteiras transportadas por dois ou quatro escravos que levavam quem quer que os solicitasse. Essa pessoa teria de pagar apenas o preço previamente estipulado pelo amo desses escravos. Apesar de já existirem veículos com rodas, os táxis romanos não os utilizavam devido às movimentadas vias de comunicação da metrópole.
Depois da queda do império romano do ocidente, os carros e carruagens começaram a desaparecer das grandes metrópoles, tal como a sua população, que foi para o meio rural à procura de subsistência. Este acontecimento ditou o fim dos serviços de transporte público e privado.
Na Idade Média o transporte de pessoas era assegurado por carruagens muito rudimentares de tracção animal, que no Renascimento foram melhoradas tendo sido acrescentados ornamentos, cobertura e até cortinas. Em 1605, apareceram em Londres as primeiras carruagens de aluguer – as hackney. O sucesso foi tanto que, em 1634, o elevado número de carruagens de aluguer fazia com que as principais ruas da metrópole ficassem completamente engarrafadas, o que levou o Parlamento a limitar o número de carruagens a circular, mas não só em Londres havia problemas de tráfego por causa das carruagens de aluguer, também em Paris, primeiro os corbillards e depois os sociables, fizeram um estrondoso sucesso no século XVII. Já nos finais do mesmo século, surgiram na Alemanha os inovadores landau. Posteriormente, no século XVIII, foi criado o gig em França, que deu origem ao tilbury em Inglaterra e posteriormente ao cabriolet. No século XIX já qualquer grande cidade tinha centenas de carruagens de aluguer.
O nascimento do automóvel. Nicolas Cognut pode ser considerado o pai do moderno automóvel ao ter iniciado por volta de 1770 o desenvolvimento dos veículos propulsionados a vapor, através da invenção de um carro assente em 3 rodas, que atingia a estonteante velocidade de 4 km por hora.
Mas o nascimento efectivo do automóvel só irá ocorrer em 1873, através dos franceses Bollé, pai e filho, com uma série de viaturas ainda a vapor, mas bastante mais funcionais que as anteriores.
A invenção do motor a combustão, que fica a dever-se a Daimier em conjunto com Benz, ocorre em 1855 e irá revolucionar a história do automóvel dando origem ao moderno automóvel a gasolina, munido de um motor de explosão a quatro tempos, mais simples, leve e portátil do que os seus antecedentes a vapor.
Um novo salto surge em 1887 com a invenção do pneumático. Aqui temos que realçar a contribuição dos irmãos Michelin ao terem criado o primeiro pneu desmontável em 1895. Tal veio tornar possível que o automóvel rodasse a grande velocidade, pois o ar contido nessas rodas permitia suportar veículos mais pesados.
Os primeiros táxis motorizados apareceram em 1896 na cidade alemã de Estugarda. No ano seguinte, Freidrich Grneiner abriu uma empresa concorrente, na mesma cidade, mas os seus carros estavam equipados com um sistema inovador de cobrança – o taxímetro. A implantação dos táxis foi generalizada em 1907. Nesse ano, em Paris, todos os carros de aluguer tinham de possuir um taxímetro obrigado por lei. Antes da Primeira Guerra Mundial já todas as grandes cidades europeias e americanas tinham serviço de táxis legais e pintados com esquemas de cores diferentes.
Em Portugal, mais propriamente em Lisboa, surgiram no ano de 1907, quatro táxis. A iniciativa foi um sucesso, que rapidamente, o seu número foi aumentando na capital, e espalhou-se pelo país.
Meia dúzia de anos depois de Lisboa possuir os seus táxis, surge em Montemor-o-Novo no ano de 1913, o primeiro Automóvel de Aluguer, propriedade do Senhor Marquez da Gama Freixo, que no dia 28 de Agosto desse ano, distribuiu a seguinte tarifa:
Serviço à estação do caminho-de-ferro
Só ida – 1$00. Ida e volta, com espera do comboio – 1$20.
Teatro ou Praça de Touros
Só ida ou volta – 1$00. Ida e volta – 1$20.
Serviço à hora dentro da vila
A 1.ª hora ou fracção – 2$00. Por cada ½ hora a mais, ou fracção – 1$00.
Serviços Diversos
Baptizados ou casamentos – 2$50; visitas de cumprimentos, por hora – 2$50;
Serviços para maiores distâncias
S. Geraldo – Só ida ou volta – 3$00. Ida e volta com espera de 1 hora – 4$00.
Ciborro – Só ida ou volta – 3$5=. Ida e volta, com espera de 2 horas – 4$50.
V. Novas – Só ida ou volta – 3$50. Ida e volta, com espera de 2 horas – 4$50.
Lavre – Só ida ou volta – 4$00. Ida e volta, com espera de 2 horas – 5$00. S. Cristóvão – Só ida ou volta – 7$00. Ida e volta, com espera de 2 horas – 8$00.
Évora – Só ida ou volta – 5$00. Ida e volta, com espera de 2 horas – 6$00.
Arraiolos – Só ida ou volta – 3$50. Ida e volta, com espera de 2 horas – 4$50.
Vimieiro – Só ida ou volta – 8$00. Ida e volta, com espera de 2 horas – 9$00.
Estremoz – Só ida ou volta – 13$50. Ida e volta, com espera de4 horas – 14$50.
Borba – Só ida ou volta – 16$00. Ida e volta, com espera de 4 horas – 17$00.
V. Viçosa – Só ida ou volta – 17$00. Ida e volta, com espera de 4 horas – 18$00.
Elvas – Só ida ou volta – 25$00. Ida e volta, com espera de 6 horas – 26$00.
Portalegre – Só ida ou volta – 30$00. Ida e volta, todo o dia – 35$00.
Setúbal – Só ida ou volta – 25$00. Ida e volta, todo o dia – 26$00.
Lisboa – Só ida ou volta – 30$00. Ida e volta, até ao último vapor para Cacilhas – 32$00. Estes preços a Lisboa são com o encargo da passagem do carro e passageiros a cargo do freguês, ou fregueses.
Observações – O percurso e o tempo são contados desde a saída do varro da garagem, até à entrada na mesma; Quando o tempo de espera a que o alugador tem direito se esgotar, pagará por cada hora a mais, $50; o automóvel só comportará a sua lotação, que é de 6 passageiros, incluindo o chauffeur; os serviços omissos nesta tarifa serão pagos em contrato especial; o freguês que vier à garagem, ou a casa do dono do automóvel, alugar o mesmo e que por qualquer motivo da parte do alugador não saia o carro, terá este que pagar o aluguer como se saísse, caso não venha prevenir com um dia de antecedência.
Até 1954, os táxis e os automóveis de aluguer, podiam utilizar as cores de preferência dos seus proprietários, até que, surgiu a Lei n.º 39.987 de 22 de Dezembro de 1954, que obrigou aqueles veículos a utilizarem a cor preta com o tejadilho verde-mar. Esta determinação dura até 1993, quando o Primeiro-ministro Cavaco Silva sabe-se lá porque razão decreta a cor bege-marfim, como uniforme oficial. Os taxistas tinham cinco anos para acabar com os velhinhos pretos e verdes, e pintar o carro com a cor exigida – bege-marfim. Mas nem todos o fizeram, alegando que tal imposição, além do preço da pintura, obrigava-os a não poderem utilizar durante alguns dias o seu ganha-pão. Em 1999, o Primeiro-ministro António Guterres autorizou a possibilidade do preto e verde continuar a ser usado, pelo que os taxistas, a partir daquela data, podem optar por uma das duas hipóteses.
Nesse ano de 1999, através da Portaria n.º 277-A/99 os automóveis de aluguer foram obrigados à instalação de taxímetro, dispositivo luminoso e distintivo identificador da licença.
Além do Marquez da Gama Freixo, possuíram automóveis de aluguer na praça da Vila Notável, os seguintes profissionais: Sílvio Batista, Mário Capitão, Miguel da África, João Bomba, Alberto Salgueiro, Francisco Carrasquinho, António Ferreira “Toi”, Francisco Igreja, Umbelino e Joaquim Pedreirinha, entre outros.
Salvo, raras excepções, o motorista de táxi é por vezes o primeiro interlocutor de quem descobre uma cidade, tornando-se assim de certo modo, o seu embaixador.
Actualmente, Montemor-o-Novo possui dez táxis – cinco da cor preta e verde, quatro da cor bege, e um da cor preta, sem distintivo de táxi. Todas as freguesias rurais do concelho dispõem de um táxi.
A atribuição e transmissão das licenças de táxi são hoje competência dos municípios por força do determinado na Lei n.º 18/97, de 11 de Junho.
Augusto Mesquita
3 comentários:
Um artigo muito interessante.
Bastante lido, decerto, mas pouco comentado.
Deixem que eu, contra a minha habitual maneira de ser, deixe aqui um apontamento :
Há muito, muito tempo, quando ainda tinha a manía que havia de ser alguém no mundo do cinema, e apesar de já trabalhar naquilo que viria a ser a minha vida profissional, tive oportunidade de, em "part time", fazer uma ponta num filme português que se chamou " Rapazes de Táxis ".
Realizado por Constantino Esteves e interpretado por, entre outros, António Calvário e Tony de Matos.
Filme típico do género nacional/ cançonetismo. Uma pepineira de primeira apanha. Nem o António Calvário, nem o Tony de Matos tinham o mínimo jeito para o cinema, mas enfim, eram as vozes do momento.
" Eu era aquele taxista que acende o cigarro ao Tony de Matos na praça de táxis do Rossio. "
As figuras que a gente faz ! !
O que tenho mais presente hoje, são as gargalhadas dos taxistas que assistiam ás filmagens, perante a artificialidade da situação.
Quanto ao artigo, acho que é bem ilustrador duma determinada época.
A.S.
Eu acho que estes textos deviam ser lidos nas Escolas, para que a Juventude de agora, futuros responsáveis pelo destino deste Portugal aprendessem a conservar as memórias da nossa história.
Um povo sem memória.... está condenado a não ir longe
José Manuel
21 Abril, 2010 16:23
Concordo inteiramente com os dois
comentários!!!
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