
Hoje vamos falar dum filme português.
Vamos saltar aqueles filmes lindíssimos das décadas de trinta e quarenta, com os inevitáveis António Silva, Vasco Santana, Milú e outros mais, e vamos directamente para 1972.
Nesse ano o país já tinha perdido as ilusões na " primavera Marcelista " e a resistência ao regime voltava a ter uma dimensão acrescida. Tanto mais que no parlamento, nesse tempo chamado Assembleia Nacional, nas próprias fileiras do regime, já havia quem levantasse a voz contra o que se estava a passar, dizendo que alguma coisa teria que mudar. --- Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Miler Guerra e outros --- foram alguns dos que não se calaram. Queriam mudar por dentro, aquilo que estava mal e decerto fizeram, nessa condição, o que era possível ser feito. Tanto mais que depois da revolução, o povo veio dar-lhes confiança para serem governo. Mas havia outro tipo de resistência. E é dessa outra resistência que trata o filme de que lhes quero falar.
O Recado :
Primeiro filme de longa duração de José Fonseca e Costa
Ficha técnica e artística :
Realizador : José Fonseca e Costa
Argumento : José Fonseca e Costa e outros
Música : Rui Cardoso ( com interpretações lindíssimas, à guitarra, de Pedro Caldeira Cabral )
Ano de Produção : 1972
Intérpretes : Maria Cabral, Paco Nieto, José Viana ......


O argumento fala daqueles que resistem pacificamente ao regime já agonizante, e dos outros que lutam forma activa. Muito bem realizado, querendo mostrar as realidades e ao mesmo tempo enganar a censura. Uma obra prima de dissimulação. José Fonseca e Costa, neste filme, atingiu todos os objectivos. E ensaia alguns atrevimentos. Há, por exemplo, uma cena em que se adivinha ( e vê ) a polícia política a eliminar fisicamente um resistente. Num estado totalitário, como era o dessa época, isso tinha muita importância.
Era um cinema novo o que se pretendia nesse tempo.
Contra tudo e contra quase todos, havia a pretensão de fazer cinema que saísse do formato institucional e que não se limitasse a levar para o grande ecran as vedetas do nacional cançonetismo.
Como curiosidade queremos assinalar que João Abel Aboím trabalhou como assistente de realização de José Fonseca e Costa neste filme. Este João Abel Aboím ainda mantém uma casa em Terena e era filho do Arnaldo Aboím que tinha o restaurante " Migas " na Rua Direita, junto ao castelo, nesta vila do nosso concelho.
As crónicas das duas próximas semanas serão dedicadas ao cinema francês.
Mantemos a homenagem ao Sr. Domingos Maria Peças, embora este filme não fosse exibido por ele no Alandroal.
RC
Quem no fim dos anos sessenta, princípio dos setenta, se interessava por cinema, não pode esquecer Maria Cabral. Parece-me ter sido Urbano Tavares Rodrigues quem lhe chamou a " Mónica Vitti portuguesa ". Em Portugal, apenas participou em dois ou três filmes. Depois abalou para França e por lá ficou a trabalhar em teatro. Acho que nem o 25 de Abril teve impacto suficiente para a fazer regressar. Mas foi uma das grandes esperanças do cinema português. UM dos mais bonitos rostos e um dos maiores talentos que despontaram no cinema português na década de sessenta. Se é viva, e oxalá que o seja, deve ter à volta de setenta anos.
ResponderEliminarA.S.
Belas recordações do cinema ambulante neste caso do meu pai DOMINGOS MARIA PEÇAS na bonita
ResponderEliminarVila do ALANDROAL
BEM HAJAM A TODOS OS ALANDROENSES