terça-feira, 27 de abril de 2010

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Francisco Costa - A nossa irresponsabilidade

Terça, 27 Abril 2010 09:07
Não me surpreende que as pessoas se sintam um pouco baralhadas em relação ao que se passa na vida política do País. Eu próprio tenho muita dificuldade em percebê-la.
Olhe-se para os jornais que se transformaram em tribunais, os tribunais em programas televisivos, a televisão em Parlamento, os jornalistas em juízes e políticos e os políticos e os juízes em animadores televisivos.
Aí reside o motivo de tanto alheamento dos cidadãos.
Porque passa a ser difícil saber onde estão os culpados e onde ficam os inocentes. É que se o acto de corromper é crime evidente já o de o denunciar pode dar numa grande chatice. Que o diga José Sá Fernandes que ficou a saber pelo menos o significado de injustiça ética.
O mais fácil é concluir-se que ninguém está a salvo. O que, admita-se, é arrasador para uma democracia como a nossa porque satisfaz as necessidades primárias dos que vivem do esquema de corromper. Nesta falta absoluta de transparência no jogo democrático acabamos todos por permitir a imposição da mentira.
E a gritaria surda colectiva que daí decorre, onde ninguém se entende e onde acabam por sucumbir os que a pretendem combater, salpicados pela suspeição, pelo equívoco ou pelos assassinatos públicos de carácter, está a transformar o País num equívoco.
Porque julgo que há um limite onde se quebra qualquer determinação ou firmeza. Os inimigos da democracia também o sabem.
Mergulhar na actividade política e na exposição pública é decisão que muda definitivamente a vida de quem o faz e das suas famílias. Ao tomá-la supõe-se uma prévia reflexão, profunda, sincera e uma impiedosa auto-análise sobre até onde se está disposto a ir por uma causa ou uma ideia.
O que afasta muitos da vida política tem que ver com a sua indisponibilidade para aguentar agressões, acusações e calúnias ou boatos.
Para o bem e para o mal a vida dos políticos tem forte projecção nos órgãos de comunicação social. Só que a confiança na sua capacidade escrutinadora, que tem garantido a qualidade da democracia, está posta em causa quando estes se transformam em caixas de ressonância do escândalo e da infâmia.
José Sócrates tem sido trucidado desde que rebentou o escândalo do Freeport. Ao fim de cinco anos é ilibado. Mas todos os que infundadamente o acusaram beneficiaram ou não do clima de suspeição que sobre ele criaram? O que dizer de Ferro Rodrigues e do processo da Casa Pia?
Irrita-me profundamente a atitude fácil de acusar. Irrita-me porque sem uma justiça que esclareça a mentira é oferecida de bandeja pelos que estão interessados na sua difusão e consumida sem contestação pelos que já não fazem o árduo esforço da análise. E preocupa-me que seja este o clima em que crescem os nossos filhos. O da nossa irresponsabilidade .



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