terça-feira, 27 de abril de 2010

EM APÊNDICE AO CINE-CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS

O RECADO

Hoje vamos falar dum filme português.
Vamos saltar aqueles filmes lindíssimos das décadas de trinta e quarenta, com os inevitáveis António Silva, Vasco Santana, Milú e outros mais, e vamos directamente para 1972.
Nesse ano o país já tinha perdido as ilusões na " primavera Marcelista " e a resistência ao regime voltava a ter uma dimensão acrescida. Tanto mais que no parlamento, nesse tempo chamado Assembleia Nacional, nas próprias fileiras do regime, já havia quem levantasse a voz contra o que se estava a passar, dizendo que alguma coisa teria que mudar. --- Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Miler Guerra e outros --- foram alguns dos que não se calaram. Queriam mudar por dentro, aquilo que estava mal e decerto fizeram, nessa condição, o que era possível ser feito. Tanto mais que depois da revolução, o povo veio dar-lhes confiança para serem governo. Mas havia outro tipo de resistência. E é dessa outra resistência que trata o filme de que lhes quero falar.


O Recado :
Primeiro filme de longa duração de José Fonseca e Costa
Ficha técnica e artística :
Realizador : José Fonseca e Costa
Argumento : José Fonseca e Costa e outros
Música : Rui Cardoso ( com interpretações lindíssimas, à guitarra, de Pedro Caldeira Cabral )
Ano de Produção : 1972
Intérpretes : Maria Cabral, Paco Nieto, José Viana ......


O argumento fala daqueles que resistem pacificamente ao regime já agonizante, e dos outros que lutam forma activa. Muito bem realizado, querendo mostrar as realidades e ao mesmo tempo enganar a censura. Uma obra prima de dissimulação. José Fonseca e Costa, neste filme, atingiu todos os objectivos. E ensaia alguns atrevimentos. Há, por exemplo, uma cena em que se adivinha ( e vê ) a polícia política a eliminar fisicamente um resistente. Num estado totalitário, como era o dessa época, isso tinha muita importância.
Era um cinema novo o que se pretendia nesse tempo.
Contra tudo e contra quase todos, havia a pretensão de fazer cinema que saísse do formato institucional e que não se limitasse a levar para o grande ecran as vedetas do nacional cançonetismo.
Como curiosidade queremos assinalar que João Abel Aboím trabalhou como assistente de realização de José Fonseca e Costa neste filme. Este João Abel Aboím ainda mantém uma casa em Terena e era filho do Arnaldo Aboím que tinha o restaurante " Migas " na Rua Direita, junto ao castelo, nesta vila do nosso concelho.
As crónicas das duas próximas semanas serão dedicadas ao cinema francês.
Mantemos a homenagem ao Sr. Domingos Maria Peças, embora este filme não fosse exibido por ele no Alandroal.

RC

2 comentários:

  1. Quem no fim dos anos sessenta, princípio dos setenta, se interessava por cinema, não pode esquecer Maria Cabral. Parece-me ter sido Urbano Tavares Rodrigues quem lhe chamou a " Mónica Vitti portuguesa ". Em Portugal, apenas participou em dois ou três filmes. Depois abalou para França e por lá ficou a trabalhar em teatro. Acho que nem o 25 de Abril teve impacto suficiente para a fazer regressar. Mas foi uma das grandes esperanças do cinema português. UM dos mais bonitos rostos e um dos maiores talentos que despontaram no cinema português na década de sessenta. Se é viva, e oxalá que o seja, deve ter à volta de setenta anos.

    A.S.

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  2. Belas recordações do cinema ambulante neste caso do meu pai DOMINGOS MARIA PEÇAS na bonita
    Vila do ALANDROAL
    BEM HAJAM A TODOS OS ALANDROENSES

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