terça-feira, 20 de abril de 2010

EM APÊNDICE AO CINE-CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS

JONH STEINBECK

A crónica d'hoje, embora não seja dedicada ao cinema duma forma directa, tem que ver com alguém que deu à sétima arte a possibilidade de adaptação de alguns argumentos que, por sua vez, deram origem a três dos melhores filmes que já se realizaram .

Vamos falar de John Steinbeck, romancista norte-americano.



Nasceu em Salinas, norte da Califórnia, em 1902. Começou a escrever muito novo, tendo publicado o seu primeiro romance em 1926. Ao longo da sua vida escreveu, entre romances, novelas e ensaios, mais de cinquenta livros. Foi também jornalista em Nova Yorque, mas cedo regressou à sua terra natal.
Depois de ter ganho vários prémios literários nos Estados Unidos, ganhou o prémio Nobel em 1962.
Foi um homem que viveu afastado das tertúlias literárias do seu país, não procurando o convívio dos seus pares, isolando-se numa vida mais ligada ao campo do que à cidade. Essa maneira de viver reflectiu-se na sua obra duma forma muito marcante, especialmente nos três livros de que queremos falar hoje e que são, por ordem de edição :

" Ratos e Homens " - 1937
" As vinhas da Ira " - 1939
" A Leste do Paraíso " - 1952




O primeiro, " Ratos e Homens ", veio dar origem a um filme interpretado por John Malkovitch, soberbamente interpretado na verdade. Conta a história dos trabalhadores itinerantes que deambulavam pelo norte da Califórnia em busca de trabalho durante a década de trinta do século vinte. O romance foi muito bem adaptado ao cinema e, hoje, eu não sei se gosto mais do filme ou do livro. Este romance sempre me fez lembrar as migrações dos " ratinhos " , aqueles ranchos de pessoas, vindas das Beiras, que apareciam no Alentejo à procura de trabalho na altura das ceifas e das mondas.
Extraordinário filme. Vejam se puderem.



O segundo, " As Vinhas da Ira ", adaptado ao cinema por Nunnally Johnson, realizado por John Ford e interpretado por Henri Fonda, Jane Darwel e John Carradine, entre outros, dá-nos a conhecer a vida de uma família de camponeses, rendeiros de terras, a quem a depressão dos anos trinta, nos Estados Unidos, obriga a migrar rumo à Califórnia, que eles entendiam como a terra da salvação. É essa travessia da América que nos é contada tanto no livro como no filme. Um e outro são magníficos.

___Por mais de uma vez confessei aqui a minha admiração pela literatura e pelo cinema neo-realista, na verdade por todo esse conceito de arte, inclusive na pintura. ( a esta conclusão chegados, permitam-me aqui um pequeno aparte ) : --- " já num passado remoto, estando eu e o meu amigo João Torquato Cardoso Justa, homem dedicado às artes, vanguardista estético, com concepções diferentes das minhas, encostados ao balcão do bar da Lena, tomando umas e outras - cervejas, bem entendido - quando eu, referindo-me às minhas preferências, lhe toquei no neo-realismo, pura e simplesmente fui abandonado pelo meu companheiro de conversa. Virou-me as costas e foi embora. Custou-me. Não tanto pelo desrespeito pelos meus gostos, que reconheço exóticos, mas por ter que ser eu a arcar com toda a despesa que já tínhamos feito. Se, por acaso, ele ler estas linhas, desde já fica informado que eu quero a desforra, tanto na conversa como nas cervejas. " ---

Vamos lá voltar ao cinema e ao John Steinbeck. Se existe algum escritor norte-americano, que tenha escrito alguma coisa neo-realista, fiquem sabendo que foi o John Steinbeck, especialmente os dois romances que referi acima.



E em terceiro lugar, " A Leste do Paraíso ". Neste filme juntam-se três monstros sagrados das artes : John Steinbeck, Elia Kazan e James Dean : John Steinbeck que forneceu a matéria prima para que o filme pudesse ser feito ; Elia Kazan, que o realizou com a sua maestria habitual ; e James Dean, que despontava para uma carreira que prometia muito, mas que, afinal, se ficou por apenas três filmes, pois morreria pouco depois num acidente de automóvel. É uma história de inadaptados. É uma história sobre todos nós, já que inadaptados, queiramos ou não, somos quase todos.

O Sr. Domingos Maria Peças, não exibiu estes filmes no Alandroal. Mas a homenagem mantêm-se ...

RC

1 comentário:

Anónimo disse...

OBS.

Serei breve.


A propósito do neorealismo,o que me quer parecer, é que não há géneros literários quimicamente puros.Contaminam-se e bem uns aos outros ao longo dos tempos.Cabe a cada leitor, ir mais além e estar ou não atento ao que Lê em cada momento e em cada situação.

E lá por o neorealismo de feição portuguesa, estar politica e literariamente bastante marcado,não quer dizer que possa ter sucedido o mesmo ao(s) grande(s) escritore(s) americano(s) citado(s.
Foi sol de curta duração....porque logo havia de aparecer,por exemplo,mesmo por cá,um Carlos de Oliveira.E/ou um Virgílio Ferreira, se bem que este já num outro e adiantado registo.

A impressão que sempre tive é que a grande literatura americana, era a de um grande país continente com uma vocaçao universal e um poder mundial que despontava e crescia mais rapidamente do que o esperado.Tal como sucedeu com o cinema,forças desmedidas começavam a andar à solta,e à revelia da própria capacidade de compreensão e expressão humana.

De modo que não posso propriamente apelidar de neorealistas aos grandes escritores americanos,isto é,aquela literatura americana que foi, antes de mais, marcadamente épica e humanista.E sobretudo com um sentido abertamente transcendente e universalista.

Se repararmos bem,os próprios títulos das obras mencionadas,penso eu,é disso (e desse A Leste do Paraíso...)que sucessivamente nos dão contas.
Assim como foi ontem,é o que,aliás, parece que está a suceder hoje com os principais autores americanos.

Com as melhores saudações

António Neves Berbem