sexta-feira, 23 de abril de 2010

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Martim Borges de Freitas - Uma nuvem diferente

Sexta, 23 Abril 2010 08:49
A Natureza tem o condão de, volta e meia, nos colocar no nosso devido lugar. Com tanto desenvolvimento, com tanta modernidade, com tanto avanço tecnológico, não raras vezes ficamos com a noção de que o Homem tudo consegue controlar. Mas a Natureza lá se vai encarregando de demonstrar que não é bem assim.
Desta vez tratou-se de uma nuvem vulcânica, uma enorme nuvem vulcânica proveniente da Islândia, de um vulcão com um nome absolutamente ilegível e ainda mais indizível. Essa nuvem vulcânica conseguiu parar a aviação na Europa. Com consequências para o mundo inteiro. Eis como uma coisa normalmente vista pela maior parte dos cidadãos do mundo como exótica e perfeitamente localizada pode, de um momento para o outro, travar o normal funcionamento de um país, de uma região, até do mundo. Como para outras realidades da vida normal, coisas que damos por adquiridas, afinal, não o estão.
A acrescentar ao custo directo dos milhares de voos cancelados e, portanto, dos prejuízos directos das companhias aéreas afectadas, há todo um conjunto de custos associados e derivados do cancelamento dos voos. Isto tem a sua importância. Mas, quem olhou com olhos de ver para o desespero resignado das famílias e das pessoas que, de repente, realizaram que não poderiam fazer aquele voo que lhes estava destinado e, pior, que desconheciam mesmo quando é que o poderiam efectivamente vir a fazer, quem olhou com olhos de ver para essas pessoas, dizia eu, viu bem como tudo na vida é muito relativo. Houve, evidentemente, quem encarasse o assunto como se de um simples percalço se tratasse. Mas nem toda a gente reagiu ou poderia sequer reagir assim...
Serve tudo isto para chamar a atenção para duas questões que, embora reconheça serem bastante complexas, são, no entanto, cada vez mais necessárias.
A primeira, diz respeito aos assuntos relativos à Natureza que deverão ser cada vez mais estudados, mesmo aqueles cujas eventuais consequências para a Humanidade ou mesmo para uma pequena parte da Humanidade aconteçam muito raramente. Para isso, é absolutamente necessário que o investimento para este efeito seja substancialmente aumentado. E hoje, apesar de tudo, todos estamos muito mais sensibilizados e mais disponíveis para investirmos no Ambiente, no pressuposto, claro, de que tem de haver um equilíbrio entre a teorias que dão primazia, umas, ao Homem, outras, à Terra.
A segunda questão para a qual gostaria de chamar a atenção, tem a ver com a falta de um organismo de controle ou, talvez melhor, de coordenação do espaço aéreo europeu, nomeadamente quanto à aviação civil e comercial. Bem sei que há quem batalhe pela existência de um organismo deste tipo há já muito tempo e também sei que tem sido de difícil concretização, sobretudo porque cada Estado-membro da União Europeia não quer abrir mão do controlo do seu espaço aéreo, usando muitas das vezes o espaço aéreo militar, o seu controlo e razões de soberania nacional como justificações. Se admitirmos que até houve uma razoável coordenação europeia, nesta experiência provocada pela nuvem vulcânica islandesa, talvez não fosse mau aproveitá-la no sentido de, tão rapidamente quanto possível, poderem ser lançados os alicerces desse futuro organismo de coordenação.
Eis duas das razões pelas quais se deverá tomar esta nuvem por Juno. Restará dizer que, com o espaço aéreo europeu completamente inoperacional, e se dúvidas houvesse, ficou comprovada a absoluta necessidade de alternativas ao transporte aéreo, compatíveis com o mundo moderno em que vivemos.
Martim Borges de Freitas

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