sexta-feira, 16 de abril de 2010

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

http://www.dianafm.com/

Martim Borges de Freitas - O Novo PSD

Sexta, 16 Abril 2010 10:08
Como em tudo, mas no caso dos partidos políticos ainda mais, é importante datar não apenas o momento em que nos estamos a pronunciar sobre a coisa, mas também a época da coisa sobre a qual estamos a falar. Em Abril de 2010 vou falar sobre o PSD de 2010, aquele que no passado fim-de-semana elegeu os seus corpos directivos para os próximos dois anos.
O PSD, desde que Cavaco Silva decidiu deixar de o liderar, nunca mais se reencontrou. Neste período, é mesmo uma ilusão pensar-se que quando Durão Barroso se tornou Primeiro-Ministro, o PSD se terá nessa altura reencontrado. O abandono de Durão Barroso do Governo, de resto, acabou por provar isso mesmo. Portanto, se antes, com Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa e Durão Barroso, o PSD não se havia reencontrado, então, a partir desse momento, foi o que todos recordamos: Santana Lopes, Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite. Sendo certo que os líderes são, por natureza, transitórios, estes foram-no indiscutivelmente.
A diferença que agora existe é que, a meu ver, o PSD se libertou do cavaquismo e do tempo do cavaquismo. Sublinho: o PSD libertou-se do cavaquismo e do tempo do cavaquismo, não de Cavaco Silva. É que, de Cavaco Silva, não pode o PSD libertar-se enquanto ele estiver na vida política activa, nesta altura na Presidência da República, ao passo que do cavaquismo e do tempo do cavaquismo, isto é, do pensamento e das pessoas que sempre acompanharam Cavaco Silva, Presidente do PSD e Primeiro-Ministro, disso, sim, pôde o PSD libertar-se. E a meu ver, libertou-se. A pergunta é: para sempre? Isto é, ter-se-á o PSD libertado do cavaquismo para sempre? A resposta a esta pergunta será positiva ou negativa, em função do rumo e do comportamento seguido por Pedro Passos Coelho, o novo líder do PSD, e pela sua entourage.
Vejamos: quando, há dois anos, Pedro Passos Coelho se candidatou à liderança do PSD, poucos foram os que lhe deram algum valor. O país político, esse então, decidiu que Passos Coelho era uma inexistência. Pois bem, dois anos volvidos, foi eleito líder do PSD com uma votação muito confortável e num processo eleitoral limpinho. Mesmo assim, ainda há quinze dias, a larguíssima maioria dos comentadores políticos torcia o nariz a Passos Coelho e não tendo tido pejo algum em declará-lo, disseram-no e escreveram-no. Após o Congresso do passado fim-de-semana, ou eu ando a ouvir e a ler muito mal – o que também pode acontecer – ou esses mesmos comentadores meteram travões a fundo, deram uma volta de 180º ao seu discurso e agora até parece quererem transformar Passos Coelho no desejado.
Conheci Pedro Passos Coelho há uns anos atrás, era ele Presidente da JSD. Nessa altura, era eu Presidente da Juventude Centrista. A meu ver, Passos Coelho reúne características pessoais e políticas mais do que suficientes para poder fazer um bom lugar. Todavia, acho que a conclusão a tirar, por agora, não é essa. Para mim, a mudança que se operou quanto à percepção que os comentadores dele faziam não se ficou tanto a dever a ele mesmo, Passos Coelho, mas a uma crescente pressão vinda do exterior que se traduz na vontade, numa enorme vontade de ser construída, de haver, uma Alternativa Política ao actual estado de coisas. O que se vai cada vez mais ouvindo é que as pessoas estão fartas da incapacidade dos políticos, não curando nem querendo mesmo saber dos justos que coabitam entre os pecadores. Como quem está a afogar-se, o importante não é saber de quem é a mão, mas se há mão que nos possa salvar. Nesta medida, o PSD pode vir a constituir-se como motor de esperança para Portugal e para os portugueses. Se o conseguir ser, libertar-se-á, então, definitivamente, do cavaquismo e do tempo do cavaquismo.
Martim Borges de Freitas

Sem comentários: