CLÁUDIA SOUSA
PEREIRA
E DURA…
Das eleições intercalares nos EUA pudemos constatar dois factos:
houve uma muito maior e relevante mobilização dos cidadãos para votarem; e os
Republicanos, que propuseram e levaram Trump à presidência, não sofreram uma
derrota devastadora. Se o primeiro facto parece promissor no que diz respeito à
consciencialização da importância do voto em Democracias que nunca estarão
definitivamente consolidadas, o segundo aparece, em meu entender, como um
falhanço de todas as campanhas anti-Trump armadas nos últimos quase dois anos.
Trump permanece, pois, um representante legitimado de uma certa e grande
América, e talvez até mesmo de uma fatia considerável do Mundo, que se gere bem
com um discurso populista – soluções devastadoramente fáceis para problemas complicados
– mais do que com acções sustentáveis que acompanhem a evolução civilizacional.
Também
é um facto, e relevante, que houve várias vitórias dos Democratas que,
consideradas individualmente, prometem representar ao mais alto nível político
norte-americano a diversidade de que se compõe a sociedade ocidental
contemporânea. Falo de mais jovens, de mais mulheres, de mais origens étnicas,
de pessoas que podem às claras viver em plenitude a sua orientação sexual.
Parece, pois, que houve aqui também um sinal positivo no mesmo sentido da
Democracia representativa que acompanha a dita evolução civilizacional. Mas
este não deixa de ser um discurso onde também transparece uma certa, e às
tantas sempiterna, imaturidade do sistema democrático. É que se realçam não as
qualidades políticas destes candidatos eleitos, mas o facto de apenas
representarem lobbies que têm conseguido ganhar um espaço que parecia estar
vazio. E isso, numa Democracia com políticos a sério, não aconteceria com esta
hipervalorização, pois qualquer um dos outros eleitos pelo mesmo Partido, que
não fizesse parte natural desses lobbies, defenderia essas mesmas causas com a
mesma energia e sem necessidade de exibir, como se de especímenes se tratassem,
os neófitos.
Enfim,
todos nos tentam convencer que são as pequenas alegrias que nos “fazem os
dias”, mas eu cá teria ficado muito mais contente que Trump e os seus fiéis
Republicanos que com ele agora, nestas intercalares, se mantiveram, tivessem
sofrido uma valente varridela. Mais uma vez, quando tanto foi feito por muitos
para que a vida das pessoas melhorasse, parece que o que conta é a tal questão
da segurança. Aquela que pode parecer ao cidadão comum estar a ser posta em
causa, porque pode vir a exigir-se uma partilha solidária desse bem-estar com
mais cidadãos, sempre num combate em que acredito que a boa Política se deve
envolver, e que é o combate às desigualdades de oportunidade. Para Trump os
próximos dois anos poderão já não ser “um passeio no parque”, mas o trabalho da
oposição terá de repensar muito bem como a fazer, na certeza porém de que será
hercúleo, talvez não bastando mostrar o que de bom foi feito no passado
recente, mas mostrando o que de muito mau havia lá mesmo atrás. Não é fácil e
pode causar embaraços, mas será talvez o politicamente correcto – conceito que
defendo – contra estas personagens que ascenderam graças à popularidade de se
ser politicamente incorrecto. Eu sei bem o que me custou ter de, certa vez,
confrontar uma pessoa que estimo com o seu passado miserável, em que a família
se viu obrigada a emigrar nos anos 60, quando me atirou com o popular “suspiro
faduncho” de que o que nos fazia mesmo falta era um outro Salazar. Não foi,
garanto-vos, a melhor parte de um serão bem agradável.
Até
para a semana.
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