terça-feira, 13 de novembro de 2018

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA RÁDIO DIANA/FM


CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
                                               E DURA…
Das eleições intercalares nos EUA pudemos constatar dois factos: houve uma muito maior e relevante mobilização dos cidadãos para votarem; e os Republicanos, que propuseram e levaram Trump à presidência, não sofreram uma derrota devastadora. Se o primeiro facto parece promissor no que diz respeito à consciencialização da importância do voto em Democracias que nunca estarão definitivamente consolidadas, o segundo aparece, em meu entender, como um falhanço de todas as campanhas anti-Trump armadas nos últimos quase dois anos. Trump permanece, pois, um representante legitimado de uma certa e grande América, e talvez até mesmo de uma fatia considerável do Mundo, que se gere bem com um discurso populista – soluções devastadoramente fáceis para problemas complicados – mais do que com acções sustentáveis que acompanhem a evolução civilizacional.
Também é um facto, e relevante, que houve várias vitórias dos Democratas que, consideradas individualmente, prometem representar ao mais alto nível político norte-americano a diversidade de que se compõe a sociedade ocidental contemporânea. Falo de mais jovens, de mais mulheres, de mais origens étnicas, de pessoas que podem às claras viver em plenitude a sua orientação sexual. Parece, pois, que houve aqui também um sinal positivo no mesmo sentido da Democracia representativa que acompanha a dita evolução civilizacional. Mas este não deixa de ser um discurso onde também transparece uma certa, e às tantas sempiterna, imaturidade do sistema democrático. É que se realçam não as qualidades políticas destes candidatos eleitos, mas o facto de apenas representarem lobbies que têm conseguido ganhar um espaço que parecia estar vazio. E isso, numa Democracia com políticos a sério, não aconteceria com esta hipervalorização, pois qualquer um dos outros eleitos pelo mesmo Partido, que não fizesse parte natural desses lobbies, defenderia essas mesmas causas com a mesma energia e sem necessidade de exibir, como se de especímenes se tratassem, os neófitos.
Enfim, todos nos tentam convencer que são as pequenas alegrias que nos “fazem os dias”, mas eu cá teria ficado muito mais contente que Trump e os seus fiéis Republicanos que com ele agora, nestas intercalares, se mantiveram, tivessem sofrido uma valente varridela. Mais uma vez, quando tanto foi feito por muitos para que a vida das pessoas melhorasse, parece que o que conta é a tal questão da segurança. Aquela que pode parecer ao cidadão comum estar a ser posta em causa, porque pode vir a exigir-se uma partilha solidária desse bem-estar com mais cidadãos, sempre num combate em que acredito que a boa Política se deve envolver, e que é o combate às desigualdades de oportunidade. Para Trump os próximos dois anos poderão já não ser “um passeio no parque”, mas o trabalho da oposição terá de repensar muito bem como a fazer, na certeza porém de que será hercúleo, talvez não bastando mostrar o que de bom foi feito no passado recente, mas mostrando o que de muito mau havia lá mesmo atrás. Não é fácil e pode causar embaraços, mas será talvez o politicamente correcto – conceito que defendo – contra estas personagens que ascenderam graças à popularidade de se ser politicamente incorrecto. Eu sei bem o que me custou ter de, certa vez, confrontar uma pessoa que estimo com o seu passado miserável, em que a família se viu obrigada a emigrar nos anos 60, quando me atirou com o popular “suspiro faduncho” de que o que nos fazia mesmo falta era um outro Salazar. Não foi, garanto-vos, a melhor parte de um serão bem agradável.
Até para a semana.



Sem comentários: