VICEROY'S HOUSE (Adeus
Índia)
A não perder o belíssimo filme da cineasta, nascida na comunidade indiana
do Quénia (1960), Gurinder Chada, VICEROY'S HOUSE (ADEUS ÍNDIA).
É que a obra passa-se nos meses que antecederam a independência daquele
grande país asiático que os ingleses colonizaram durante 3 séculos mas que,
antes de serem obrigados a sair, no final dos anos 40 do século XX, pela
revolta e luta do povo indiano, manobraram, fomentando ódios religiosos entre
hindus, muçulmanos e sikhs e protegendo os políticos que eram mais favoráveis à
divisão que pretendiam (o muçulmano Jinnah, que seria o primeiro presidente do
Paquistão), conseguindo provocar a fragmentação da Índia, para servir os
interesses do capitalismo e do imperialismo, principalmente para não deixar a
Índia libertada cair para o lado do socialismo, utilizando também a ingenuidade
política do último vice-rei, Lord Mountbatten, escolhido para o lugar por isso mesmo,
ainda que contasse com o apoio da sua mulher, humanista e mais inteligente. Mas
tudo isso eles devem ter previsto...
Dividir para reinar, foi sempre o lema dos colonialistas, qualquer que
fosse o império colonial em causa, o britânico, o português ou outro qualquer.
E por trás de mais este crime contra os povos está a sinistra figura do
político ultraconservador Churchill, que o conflito mundial de 1939-45 havia
catapultado para o poder na Grã-Bretanha.
Ele causou, segundo a história, uma das maiores, senão a maior migração
da história da Humanidade, com muitos milhares de vítimas. Só provavelmente o
bárbaro ataque e invasão militar pelo imperialismo norte-americano e europeu ao
mundo árabe, neste início do século XXI, terá causado maior número de deslocados.
Crimes contra a Humanidade que a História não deixará esquecer.
Gurinder Chada, a realizadora, neta de gente vítima dos turbulentos
tempos que os ingleses criaram, fez uma obra que emociona porque conseguiu
transmitir-nos também, através de meia dúzia de personagens, os dramas humanos
que acontecem em tais situações.
Fez-me lembrar um outro filme, que retrata outro dos crimes do
imperialismo contra a Humanidade, bem mais recente, que foi desmembramento da
Jugoslávia, entre outros no Leste Europeu, em que o imperialismo também
fomentou nacionalismos e divisões religiosas, utilizando grupos neo-nazis
sempre que necessário. Refiro-me à obra-prima de Emir Kusturica, "A Vida é
um Milagre". Em ambos os filmes, um homem e uma mulher são separados pela
guerra, estúpida e irracional, entre as comunidades a que pertencem.
É talvez por tudo isto que o filme passa quase ignorado do grande
público, por ser desvalorizado, até pela omissão, pela crítica dominante nos
media portugueses. E no entanto o filme é muito bom!
Egas Branco
Sem comentários:
Enviar um comentário