CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
É A CULTURA, PÁ!
Cruzei-me
com uma notícia que anunciava a constituição de uma Comissão na cidade da
Guarda para preparar a candidatura a Capital Europeia da Cultura. Chamou-me à
atenção um parágrafo que dava conta do conselho oferecido pelo Secretário de
Estado da Cultura, Miguel Honrado, olimpicamente ignorado pelas já 12
candidatas. Honrado terá dito no mês passado, em Coimbra, que fazia todo o
sentido a agregação de cidades para se candidatarem a Capital Europeia da
Cultura, pois este tipo de projectos tem, cada vez mais, escalas regionais.
O conselho
pareceu-me bastante assisado e a fazer muito sentido para uma região como a do
Alentejo, onde num fantástico cenário do seu Norte ao seu Sul, somos muito
(demasiado) poucos os que cá vivemos, até para podermos constituirmo-nos como
um grande público, muito menos se partidos em parcelas. E imaginei como seria
interessante um ano de 2027 a circular por aí, quanto mais não fosse pelo
Alentejo Central, para assistir a seguramente muito bons eventos culturais.
Claro que também
achei curiosa saber-se da existência de uma Comissão lá para a Guarda e
desconhecer-se não só se por aqui também há uma e quem a compõe, como se
continuar à espera de um prometido plano estratégico para a Cultura em Évora,
há pelo menos quatro anos. Bem como os novos Regulamentos de Apoio aos Agentes
Culturais, que se desejaram liminarmente revogados no final de 2013, revelando,
afinal, que estes não eram nem assim tão maus, nem era assim tão urgente
mudá-los para que uma nova Primavera chegasse aos palcos da cidade e os amanhãs
cantassem de forma cristalina, como “só” acontece agora.
Mas, atenção, que
esta crónica não é para dizer mal da hipótese de Évora conseguir a sua intenção
e sair vencedora deste concurso, caso já haja quem esteja a pensar nisso. Só me
ocorreu que o sucesso poderia ser mais garantido se se seguisse o tal conselho.
Mesmo sabendo até que os prémios ligados à Cultura tenham sido, no passado,
menosprezados por uma certa Évora. Se calhar agora até ia dar jeito apresentar
o galardão da Sociedade Portuguesa de Autores de 2012… E a questiúncula da
altura não deve ter sido motivada por questões políticas mas politiqueiras, já
que o concelho vencedor da edição deste ano do Prémio foi o Seixal, município
comunista. É entregue hoje, novamente no auditório do Centro Cultural de Belém.
Recordo, na altura, ter na própria Gala já mencionado que a programação não
teria sido possível sem colaborações, nem redes. Como me lembro de que o grande
argumento para menosprezar o Prémio (chegado até pela pena de um que se diz
jornalista da nossa praça ao jornal “Avante!” num artigo intitulado “Um prémio
para quem não merece”) era a dívida de subsídios aos agentes culturais. Posso
imaginar que o problema esteja agora sanado e, como tal, os agentes culturais
já se sintam bem aconchegados. E que se Évora não ganhar é porque?…
Portanto, como eu
não sou dos que faz coro com os que dizem mal dos eventos culturais em Évora,
apesar de naturalmente gostar mais de uns do que de outros, só me resta dizer
que com uma “parada” tão alta como a que se pôs para 2027, se esta não for
ganha, bem pode quem se disse sempre o supra-sumo da gestão cultural
autárquica, meter a viola no saco e ir cantar para outra freguesia…ou concelho.
O que, já agora, não é coisa inédita, nem que, aliás, o Povo eleitor leve muito
a mal, apesar das conversas, recorrentes e estereofónicas, que se têm de ouvir
sobre o “não ser de cá”.
Até para a semana.
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