EDUARDO LUCIANO
O ÚLTIMO ORÇAMENTO, A MEMÓRIA OU A FALTA
DELA
A discussão do Orçamento de Estado tem ocupado uma pequena parte
da agenda mediática, mais ocupada com alegados crimes, gastos de um treinador
de futebol em alojamento, má utilização de alojamentos atribuídos a militares,
a alegada pré falência de um clube de futebol ou se o pasodoble é um estilo
musical ofensivo.
Ainda
assim, é possível ter algum vislumbre de propostas e críticas ao documento em
preparação tomando como base intervenções de responsáveis ministeriais e
eventuais fontes próximas de alguém detentor da informação.
Neste
processo de pressão e discussão, o PCP assume naturalmente a defesa dos avanços
na recuperação de direitos e rendimentos por parte dos trabalhadores,
valorizando tudo o que foi alcançado depois dos quatro anos em que a direita cortou
de forma cega rendimentos do trabalho e onde se verificaram os maiores
atentados contra os serviços públicos.
Assumindo
claramente que os grandes problemas estruturais do país se resolvem com uma
clara ruptura com as políticas seguidas pelos governos do PS, PSD e CDS, não
deixa o PCP de lutar por novos avanços no actual quadro político.
A
direita começa a reagir por antecipação, começando desde já a cantar a canção
do orçamento eleitoralista pressionando o governo em sentido contrário,
pretendendo amarrar as opções tomadas às políticas prosseguidas pelo governo
PSD/CDS.
O
governo minoritário do PS parece preparar-se para o exercício de, à boleia da
pressão da acusação de eleitoralismo, de conter até onde for capaz a justa
exigência de inscrever no orçamento de 2019 as propostas que signifiquem um
efectivo aprofundamento do caminho dos avanços para uma maior justiça na
distribuição da riqueza produzida, um maior investimento no serviço nacional de
saúde e na escola pública e uma libertação do dogma da redução do deficit.
Veremos
até onde é possível obrigar o governo a ir, porque uma coisa é certa e o
histórico dos governos do PS confirma-o: só obrigado pelas circunstâncias não
cai no seu caminho natural que é prosseguir com a política que valeu a
construção do velho arco da governação.
Já
agora deixem-me dizer que não tenho nenhuma opinião sobre acusações sobre
supostos crimes por julgar, não me interessa saber onde dorme um treinador de
futebol na cidade de Manchester, as contas dos clubes de futebol não me
suscitam nenhum tipo de entusiasmo e quanto ao pasodoble… não faz parte das
minhas escolhas musicais habituais.
Até
para a semana
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