CLÁUDIA SOUSA
PEREIRA
O TRISTE BOICOTE À CIDADE EDUCADORA
Évora voltou a ser falada na Comunicação Social pelas piores razões.
A Cidade património da humanidade, o território livre de armas nucleares, a
candidata a Capital Europeia da Cultura, a Cidade Educadora, na semana de
reabertura das escolas às crianças em Portugal fechou tacticamente três
escolas. Isto porque a Câmara Municipal permitiu que os seus trabalhadores com
funções de auxiliares de educação não fossem para todas as escolas onde
deveriam estar, sabendo nós todos que se o óptimo é inimigo do bom, o zero é o
pior mesmo perante o insuficiente. E se durante as férias escolares, estes
funcionários da Câmara provavelmente também servem para trabalhar noutros
equipamentos e eventos municipais, em caso de crise o contrário também seria
uma possibilidade.
Aquilo
que sucedeu na primeira abertura de ano lectivo da responsabilidade da actual
Vereadora do pelouro, face a uma situação que, não sendo nova, está longe de
ser a pior dos últimos nove anos, tempo de vida do contrato de transferência de
competências na área, exigia gestão. Como exigiu nos anteriores dois mandatos,
de cores partidárias diferentes, mas em que o esforço de cooperação e diálogo,
e que tempos foram de adversidades várias!, valeram inícios e anos lectivos
relativamente tranquilos. E o rácio era outro, mais apertado, bem como maiores
eram, quer o número de crianças nas escolas, quer, por exemplo, o número de
escolas básicas abertas em freguesias rurais (se não me falham a memória e as
fontes disponíveis ao público, em 2009 eram 10, em 2018 são 7). Afinal, nesta
primeira prova de esforço, o que se viu por parte de quem tem a
responsabilidade municipal no assunto foi uma espécie de “assim não vale, vamos
desistir”.
Os
que julgam que o que provocou o encerramento dessas escolas foi uma
inevitabilidade, desenganem-se. Até porque, como todos já sabemos, para os Comunistas
as inevitabilidades não existem e, como tal, escusam de combater com essa arma
que repudiam os que se vêem, perante uma inevitabilidade, a necessidade de
reorganização e adaptação de forma a prejudicar o menos possível a maior parte
dos cidadãos. Este arranque de ano lectivo foi toda uma jogada de um plano
maior que é a não aceitação liminar, e por isso sem negociações, da
descentralização. Esta é uma importante fase da Democracia portuguesa – e se
ela o é para os que defendem o poder Local! – que está em discussão de forma a
vigorar a partir de 2021, ano em que serão as próximas eleições autárquicas.
E
foi uma jogada que mexeu no que talvez seja, a par da saúde que todos temos e
desejamos ter para sobreviver, o que mais influência tem no desenvolvimento de
um País, uma região, um concelho: a educação. Tratou-se de um boicote para
exigir um bónus acima da lei que tantas outras autarquias, até com iguais
dificuldades, cumprem, pondo o seu empenho no bom funcionamento das suas
escolas naquilo que delas isso dependa. O boicote é um tipo de actuação com uma
história que data do século XIX, quando um gestor de terras que não eram suas
resolve comportar-se como um tirano com os que ali trabalhavam, em nome de uma
boa gestão dessas propriedades, e estes se recusam a servi-lo, votando-o ao
ostracismo e, claro, fazendo com que a situação dessas terras ficasse ainda
pior. Esta forma de luta foi depois usada para causas onde o interesse
colectivo se punha em primeiro plano, não sem óbvias privações para quem boicota,
e servindo actualmente sobretudo para combater monopólios, ou seja interesses
financeiros lesivos do bem-estar social. O boicote é uma forma extrema de luta
que, banalizada e pondo em causa instituições geridas por dinheiros públicos,
se torna perigosa para uma sociedade democrática. Para além de, por isso mesmo,
ser consequentemente uma atitude deseducativa que promove o descompromisso,
interrompe a procura de alternativas equilibradas e desmotiva aqueles que mais
do que investirem no capital de queixa se poderiam dedicar a procurar soluções
para o que motiva a queixa. E tudo isto se passou numa Cidade que se quer
continuar a dizer Educadora. Não espero nada de bom de exemplos de desgovernos
de proximidade como estes, já que é pelo exemplo daqueles com quem se convive
que melhor se educa.
Até
para a semana!
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