quinta-feira, 19 de julho de 2018

CINEMA - CICLO CINEMA PORTUGUÊS - Por Rufino Casablanca.

“Alguns nomes dos primeiros anos do cinema português”
                                   António Ferro
Lá pelos fins de 1933 – Outubro, salvo erro – foi criado o Secretariado Nacional de Propaganda. Este secretariado era chefiado por António Ferro e vinha na sequência da entrada em vigor, uns meses antes, da Constituição Política da República Portuguesa. Um dos artigos dessa constituição dizia que Portugal passava a ser uma República Unitária e Corporativa. Os portugueses, nos quarenta anos seguintes, viriam a descobrir o que isso queria dizer, pois essa constituição só viria a ser completamente substituída por aquela que hoje nos rege.
Ora o Secretariado Nacional de Propaganda tinha, entre outras responsabilidades, a tutela do cinema português, pois era consensual que esta arte seria uma boa via de propaganda do regime.
Em resumo, era a estreia do “Estado Novo” na legislação destas coisas do cinema.
E o homem que iria dirigir esse secretariado, António Ferro, embora ainda relativamente novo, era um intelectual já com nome feito na área cultural do país: tinha estado ligado aos modernistas das primeiras décadas do século – Almada Negreiros, Santa Rita Pintor, Amadeo Souza Cardozo, entre outros. E até Fernando Pessoa – enfim, todo aquele pessoal que gravitava em redor da revista “Orpheu”. Revista essa de que chegou a ser director quando ainda não tinha vinte anos.
Era quase, quase, um menino-prodígio.
Politicamente, alinhou sempre no campo das ideias mais antidemocráticas, conservadoras e retrógradas.
Apoiou Sidónio Paes e Filomeno da Câmara, e aquando do golpe militar que depôs a Primeira República, em Maio de 1926, ficou do lado da ditadura.
Admirador confesso do fascismo italiano e de Mussolini – e mais tarde do nazismo de Hitler – não hesitou em apoiar Salazarquando este chegou ao poder. Homem de letras, escreveu livros e fez poesia, mas foi no jornalismo que mais se distinguiu. Como grande repórter e grande entrevistador, fez entrevistas a muitos políticos europeus da época, entre os quais Mussolini e, como não podia deixar de ser, a Salazar. Há até quem diga que a imagem do Salazar, devotado à Nação, ao bem-estar dos portugueses e incansável no trabalho de Estado, foi ele quem a construiu.
Ficaram célebres as entrevistas que fez ao chefe do governo português, e que foram publicadas no “Diário de Notícias”. Posteriormente foram também publicadas em livro. Foram inúmeras as funções que exerceu durante a ditadura, umas oficiais, outras oficiosas, mas sempre na primeira linha. Entre elas, a de director da Emissora Nacional.
Acabou como embaixador de Portugal na Suíça e no Vaticano.
Por essa altura já as relações entre ele e Salazar tinham arrefecido.
Resta acrescentar que nasceu em 1896 e faleceu em 1956.
Embora de forma resumida, é este o perfil do homem em cujas mãos ficou o cinema português lá pelos idos de 1933.
Mas que não se pense que António Ferro era um desconhecedor da arte do cinema. Desde muito novo se interessou por esta nova forma de expressão artística. Ao ponto de proferir conferências, ainda no tempo do cinema mudo, sobre este tema.
Ainda no tempo da 1.ª República, viajou pelos Estados Unidos da América, demorando-se em Hollywood que, por essa altura, já era a capital da 7.ª Arte. 
Dessas viagens escreveu dois livros que ainda hoje são indispensáveis para quem pretende estudar a história do cinema em Portugal e a orientação que ele lhe deu quando para isso teve poder
E a ele se devem algumas das principais iniciativas que levaram aos grandes êxitos populares de alguns filmes realizados nas décadas de trinta e quarenta.

Rufino Casablanca – Monte do Meio – Maio de 1995


1 comentário:

Anónimo disse...



OBS.


Talvez, a talhe de foice, importe lembrar que anda por cá uma neta de

António Ferro com um talento literário saído da forja do avô.

Com Salazar todas as relações politicas ou pessoais arrefeciam rapidamente

porque punha a ideologia e o seu regime acima de visões conjunturais.

Com ele o fascismo veio para ficar e ficou, tornando-o um dos mais longos

do mundo. Sobretudo através das alianças certas que foi engendrando.

Particularmente com as altas patentes militares e com certos Marcelos.


Fiquemos por aqui.


SAudações democráticas


ANBerbem