MARIA HELENA
FIGUEIREDO
CENTRO COMERCIAL ÀS PORTAS D’AVIZ: UMA
ESTÓRIA MAL CONTADA (1)
A questão do Centro Comercial às Portas d’Aviz voltou à ordem do
dia.
O Presidente da Câmara insiste em
vender terrenos públicos para a construção do centro comercial; apresentou em
reunião de câmara um novo caderno de encargos e a seguir retirou-o; afirmou que
só avança com a venda se houver consenso, mas vai dizendo que não precisa de
nova aprovação da Assembleia municipal.
A forma como a questão tem sido
apresentada por Pinto de Sá é tudo menos transparente.
Por isso e enquanto longe dos nossos
olhos e dos nossos ouvidos se vão fazendo negociações com os investidores
interessados, vamos aproveitar estas semanas para levantar algumas questões que
a CDU, maioritária na Camara Municipal, deverá esclarecer.
Comecemos pelo 1.º argumento que tem
vindo a ser há anos utilizado: Se as outras cidades têm um Centro Comercial,
Évora deveria ter também o seu, não se justificava que os eborenses para fazer
as compras se tivessem de deslocar ao Montijo ou a Almada.
Cai bem na opinião publica. Afinal
não somos menos que os outros.
Se o argumento até podia colher no
passado, perdeu hoje toda a validade: Évora tem um Centro Comercial!
Por isso, inventa-se agora, num
refrescamento da narrativa, que se pode ter 1 centro comercial, pode
seguramente ter 2.
Ora, os estudos em que a Câmara se
tem sustentado – antigos, de 2007, e que se tivessem sido actualizados como o
Bloco de Esquerda propôs seriam certamente ainda mais críticos – feitos pela
Professora Teresa Barata Salgueiro dizem expressamente que Évora não tem
capacidade para ter 2 centros comerciais.
Mas mais que isso:
Os especialistas da Associação
Portuguesa de Centros Comerciais e da consultora especializada Cushman &
Wakfield, numa análise feita há menos de 1 ano, são unânimes em dizer que
depois da inauguração do Évora Shopping e de um outro centro comercial em
Loulé, não há espaço para mais centros comerciais no país e que estes devem ser
os últimos a abrir.
“O Mercado está maduro, não há
espaço para mais, até porque a população não tem vindo a crescer”. E
acrescentava ao Expresso, em Setembro passado, Marta Costa, a responsável pela
C&W, “depois de Évora e Loulé …o mercado atingiu a maturidade e quem disser
o contrário está a mentir”.
Ora, se não há espaço no país para mais
um centro comercial como se justifica que o Sr Presidente da Câmara insista em
querer abrir mais um em Évora?
Mas a par de não haver capacidade
para ter 2 Centros Comerciais, todos sabemos que os centros comerciais
existentes noutras cidades estão em grandes dificuldades. Em Leiria, por
exemplo, fecharam 57% das lojas existentes nos vários centros comerciais. O do
Montijo tem vivido uma situação complicada.
A falência do modelo dos centros
comerciais é uma tendência que atravessa este e outros países e que tem vindo a
aumentar, quer pelo esgotamento do modelo quer porque outros padrões de consumo
e comportamento estão a emergir.
Aliás, face a esta saturação de
centros comerciais e ao aumento do turismo, o caminho seguido por outras
cidades, numa tendência que está a consolidar-se, é a do reforço das lojas de
rua. Como a consultora Cushman & Wakfield diz, no futuro é o comércio de
rua que vai sair a ganhar.
E a nossa cidade é especialmente
vocacionada para o comercio de rua, com um espaço público privilegiado e as
galerias comerciais que são as arcadas.
Ora bem, se a tendência por todo o
lado é essa, porque é que em Évora se há-de estar a começar o que nos outros
locais está a ser abandonado?
Pelo que cabe perguntar: E se um
centro comercial no coração da zona classificada como Património da Humanidade
se transformar num fantasma, quem assume a responsabilidade e o custo brutal da
reposição? O promotor privado – um qualquer fundo financeiro internacional –
que está dispensado de apresentar garantia financeira de salvaguarda para uma
situação dessa natureza? Ou o Município está preparado para o garantir e com
que recursos financeiros? Ou deixa-se a apodrecer?
E como é que, neste contexto, uma
câmara da CDU justifica a insistência em promover um negócio que tem do outro
lado um qualquer fundo de investimento imobiliário, mais interessado no lucro
que na protecção do património e das pequenas e microempresas comerciais da
cidade e é o protótipo do capitalismo financeiro?
Até para a semana!
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