segunda-feira, 23 de abril de 2018

VASCULHAR O PASSADO

              Uma vez por mês Augusto Mesquita                               recorda-nos pessoas, monumentos,                           tradições usos e costumes de outros                                                         tempos
            Há 75 anos...

            O União estreou-se numa prova organizada pela FPF, e         Henrique Macau foi o marcador do 1.º golo.
Decorria o mês de Novembro de 1914. Pouco tempo antes, a 28 de Julho começara a maior carnificina que até aí a humanidade tinha sofrido. A guerra com as suas crueldades, com os seus horrores, levara a devastação a toda a parte, mas um grupo de jovens animosos, cheios de vontade e de pundonor, alheios ao conflito que não atingia directamente o nosso país, ergueram do nada o “Grupo União Sport”, que devia mais tarde ser o ponto de reunião dos seus fundadores e da mocidade da nossa Terra.
Quantos esforços, quanto amor, quanta dedicação não foram precisos para que o novel clube singrasse no mar tormentoso existente nessa época, em que, se era difícil a existência para a maior parte dos mortais, maiores eram as dificuldades a vencer pela colectividade, uma vez que os povos não estavam convenientemente preparados para receberem iniciativas deste quilate.
Manuel Fernandes Canhão, sócio n.º 1 desde a fundação e até à sua morte, viera de Évora para se estabelecer nesta terra cascabulheira com um estabelecimento de mercearia no Largo Joaquim Pedro de Matos, foi o principal impulsionador desta bela iniciativa que começara a ganhar entusiasmo. No seu estabelecimento travaram-se intermináveis conversas em torno do futebol, formando-se uma espécie de "tertúlia" cada vez mais numerosa, na qual se incluiram os futuros fundadores do Clube. A mercearia funcionou, na prática, como primeira "sede", pois ali se guardavam alguns objectos e se encontravam os jogadores antes de cada partida disputada no improvisado Campo do Rossio. Tomé Adelino Vidigal, foi outra figura de grande influência na gestação da colectividade. Este polivalente atleta, foi o primeiro capitão da equipa sénior do União.
O esforço dos jovens desportistas, aliado ao apoio mais moral que certamente financeiro dos montemorenses, havia vencido uma causa que tanto prestigiaria a nossa Terra. As dificuldades monetárias cedo surgiram a complicar. À custa das suas bolsas foi comprada uma bola e uma bomba de enchimento. Depois, abordaram as pessoas mais abastadas, conseguindo uma verba razoável nessa época, setenta e poucos contos, quantia que os  entusiasmou o suficiente para a realização de grandes cometimentos.
Em 17 de Novembro de 1914, como coroação dos esforços desenvolvidos por todos, foi constituído finalmente o Clube que teve a sua sede numa casa cedida muito gentilmente pelo grande amigo do Clube, Francisco Manuel de Brito Malta, sita na Rua das Escadinhas n.º 13.
O futebol constituía o desporto mais em evidência nessa altura, no entanto praticava-se também a ginástica, alteres, luta e atletismo.
As suas cores representativas, têm por base o preto e branco. O preto representa força levada até ao heroísmo, enquanto o branco lembra lealdade e festa. A "união faz a força" é o seu lema.
O primeiro jogo - O União realizou em Montemor o seu primeiro encontro de futebol contra o Académico de Évora, do qual saiu vencedor por 4 a 1, no improvisado campo do Rossio (no local hoje ocupado pela Escola Secundária). Outros jogos se sucederam contra o Atlético e Ateneu Comercial, principais clubes da cidade de Évora, obtendo sempre o União bons resultados, motivo de crescente entusiasmo.

Durante sete anos, o GUS viveu na "clandestinidade", pois só em 11 de Janeiro de 1922 foram aprovados os primeiros estatutos, que previam no seu articulado, que os sócios pagassem 5$00 de joia de admissão, e a quota mensal de 1$50.
O Grupo União Sport foi o primeiro clube a fundar-se em Montemor-o-Novo e caracterizava a população desportiva local, sem que alguma vez viesse a ser destronando. Outros grupos se constituíram ao longo do tempo, aliás com benefícios para a índole competitiva que anima os jogos, e o aliciamento de maior número de jovens para a actividade desportiva. Os Empregados do Comércio, o Desportivo, o Sport Montemor e Benfica, o Sporting Clube de Montemor e o Clube de Futebol "Os Montemorenses, foram alguns dos clubes existentes na Vila Notável. Mesmo os conjuntos que germinavam sob o manto protector dos grandes clubes da capital, não possuíam a pujança bastante para o suplantar. A existência destes seis clubes levou à criação em 1925 da Liga de Futebol de Montemor-o-Novo. 
Durante uma década, o GUS limitou-se a participar em jogos particulares, até que em 5 de Fevereiro de 1926 nasce a Associação Eborense de Sports da qual o GUS pertence ao número dos clubes fundadores. Esta Associação em data que se desconhece passou a designar-se por Associação de Futebol de Évora.
Com a criação desta Associação, iniciaram-se finalmente as competições oficiais no nosso Distrito, cabendo ao Lusitano Ginásio Clube, a honra de ter conquistado o primeiro Campeonato Distrital.
Aquisição de terreno destinado ao Parque Desportivo - No dia 6 de Fevereiro de 1926 o Grupo União Sport adquiriu à Câmara Municipal por 300 contos, o terreno onde hoje se encontra o Estádio 1.º de Maio.
A inauguração - Realizou-se no Domingo, dia 1 de Maio de 1927 e com regular concorrência, a inauguração do novo campo desportivo do GUS, com um interessante desafio de futebol entre as primeiras categorias deste grupo montemorense e as do Comércio e Indústria de Setúbal.
Antes do início do desafio, foi baptizado o novo campo, a que deram o título de 1.º de Maio.
Trocadas as saudações do estilo e dado o primeiro pontapé na bola pelo Senhor Presidente da Câmara, Dr. Alberto Malta de Mira Mendes, iniciou-se o desafio que terminou com a vitória da equipa que se deslocou do Sado por 3 bolas a 1.
O primeiro título distrital foi conquistado em 1929 - Empenhados na consolidação da modalidade e pela qualidade das instalações recentemente inauguradas, o União venceu em Évora o Lusitano por 2 bolas a 1 e conquista pela primeira vez o título de Campeão Distrital.
Em 1943 o GUS estreia-se em provas organizadas pela FPF.
Catorze anos após a conquista do primeiro título distrital e graças ao segundo lugar obtido no campeonato do distrito, o GUS apurou-se para participar pela primeira vez no Campeonato Nacional da II Divisão.
            Na sequência deste apuramento, "O Montemorense" publicou um extenso artigo do qual retirei a seguinte passagem: O União entra pela primeira vez numa prova organizada pela Federação Portuguesa de Futebol, e vão animados os seus jogadores em obter uma boa classificação. O "team" vai encontrar grandes dificuldades para poder ver realizada a sua aspiração, porque (de modo algum queremos ser pessimistas), não tem no seu conjunto um todo com que possa encarar o futuro.
O Campeonato Nacional da 2.ª Divisão contou na época de estreia do GUS com 14 Séries. A série XII  foi composta pela equipas do Juventude, do Lusitano, do Estremoz e do União.
Na primeira jornada, Lusitano Ginásio Clube, 1 - Grupo União Sport, 1.
O União alinhou da seguinta forma:.
Manuel Joaquim; Norolindo e Patrício Gatinho; António Pina, Rita e Janeiro; Serafim Macau, Rubira, Luís António, Henrique Macau e Pascoal.
 Henrique Macau marcou o golo do União aos 23 minutos, e quando faltavam cinco minutos para o jogo terminar, Amaro apontou o golo do empate.
O jornalista de "O Montemorense" acertou na "mouche", pois o União terminou a prova no último lugar, com apenas dois pontos.
Para terminar, refiro que o vencedor deste Campeonato Nacional da 2.ª Divisão, foi o Estoril Praia, que assim, ascendeu ao escalão maior do futebol português.
Augusto Mesquita
In Folha Montemor Abril 2018
















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