Há 75 anos...
O União estreou-se numa prova
organizada pela FPF, e Henrique Macau foi o marcador do 1.º golo.
Decorria o mês de Novembro de 1914.
Pouco tempo antes, a 28 de Julho começara a maior carnificina que até aí a
humanidade tinha sofrido. A guerra com as suas crueldades, com os seus
horrores, levara a devastação a toda a parte, mas um grupo de jovens animosos,
cheios de vontade e de pundonor, alheios ao conflito que não atingia
directamente o nosso país, ergueram do nada o “Grupo União Sport”, que devia
mais tarde ser o ponto de reunião dos seus fundadores e da mocidade da nossa
Terra.
Quantos
esforços, quanto amor, quanta dedicação não foram precisos para que o novel
clube singrasse no mar tormentoso existente nessa época, em que, se era difícil
a existência para a maior parte dos mortais, maiores eram as dificuldades a
vencer pela colectividade, uma vez que os povos não estavam convenientemente
preparados para receberem iniciativas deste quilate.
Manuel
Fernandes Canhão, sócio n.º 1 desde a fundação e até à sua morte, viera de
Évora para se estabelecer nesta terra cascabulheira com um estabelecimento de
mercearia no Largo Joaquim Pedro de Matos, foi o principal impulsionador desta
bela iniciativa que começara a ganhar entusiasmo. No seu estabelecimento
travaram-se intermináveis conversas em torno do futebol, formando-se uma
espécie de "tertúlia" cada vez mais numerosa, na qual se incluiram os
futuros fundadores do Clube. A mercearia funcionou, na prática, como primeira
"sede", pois ali se guardavam alguns objectos e se encontravam os
jogadores antes de cada partida disputada no improvisado Campo do Rossio. Tomé
Adelino Vidigal, foi outra figura de grande influência na gestação da
colectividade. Este polivalente atleta, foi o primeiro capitão da equipa sénior
do União.
O esforço
dos jovens desportistas, aliado ao apoio mais moral que certamente financeiro
dos montemorenses, havia vencido uma causa que tanto prestigiaria a nossa
Terra. As dificuldades monetárias cedo surgiram a complicar. À custa das suas
bolsas foi comprada uma bola e uma bomba de enchimento. Depois, abordaram as
pessoas mais abastadas, conseguindo uma verba razoável nessa época, setenta e
poucos contos, quantia que os
entusiasmou o suficiente para a realização de grandes cometimentos.
Em 17 de
Novembro de 1914, como coroação dos esforços desenvolvidos por todos, foi
constituído finalmente o Clube que teve a sua sede numa casa cedida muito
gentilmente pelo grande amigo do Clube, Francisco Manuel de Brito Malta, sita
na Rua das Escadinhas n.º 13.
O futebol
constituía o desporto mais em evidência nessa altura, no entanto praticava-se
também a ginástica, alteres, luta e atletismo.
As suas
cores representativas, têm por base o preto e branco. O preto representa força
levada até ao heroísmo, enquanto o branco lembra lealdade e festa. A
"união faz a força" é o seu lema.
O primeiro
jogo - O União realizou em Montemor o seu primeiro encontro de futebol contra o
Académico de Évora, do qual saiu vencedor por 4 a 1, no improvisado campo do
Rossio (no local hoje ocupado pela Escola Secundária). Outros jogos se
sucederam contra o Atlético e Ateneu Comercial, principais clubes da cidade de
Évora, obtendo sempre o União bons resultados, motivo de crescente entusiasmo.
Durante
sete anos, o GUS viveu na "clandestinidade", pois só em 11 de Janeiro
de 1922 foram aprovados os primeiros estatutos, que previam no seu articulado,
que os sócios pagassem 5$00 de joia de admissão, e a quota mensal de 1$50.
O Grupo
União Sport foi o primeiro clube a fundar-se em Montemor-o-Novo e caracterizava
a população desportiva local, sem que alguma vez viesse a ser destronando.
Outros grupos se constituíram ao longo do tempo, aliás com benefícios para a
índole competitiva que anima os jogos, e o aliciamento de maior número de
jovens para a actividade desportiva. Os Empregados do Comércio, o Desportivo, o
Sport Montemor e Benfica, o Sporting Clube de Montemor e o Clube de Futebol
"Os Montemorenses, foram alguns dos clubes existentes na Vila Notável.
Mesmo os conjuntos que germinavam sob o manto protector dos grandes clubes da
capital, não possuíam a pujança bastante para o suplantar. A existência destes
seis clubes levou à criação em 1925 da Liga de Futebol de Montemor-o-Novo.
Durante uma
década, o GUS limitou-se a participar em jogos particulares, até que em 5 de
Fevereiro de 1926 nasce a Associação Eborense de Sports da qual o GUS pertence
ao número dos clubes fundadores. Esta Associação em data que se desconhece
passou a designar-se por Associação de Futebol de Évora.
Com a
criação desta Associação, iniciaram-se finalmente as competições oficiais no
nosso Distrito, cabendo ao Lusitano Ginásio Clube, a honra de ter conquistado o
primeiro Campeonato Distrital.
Aquisição
de terreno destinado ao Parque Desportivo - No dia 6 de Fevereiro de 1926 o
Grupo União Sport adquiriu à Câmara Municipal por 300 contos, o terreno onde
hoje se encontra o Estádio 1.º de Maio.
A
inauguração - Realizou-se no Domingo, dia 1 de Maio de 1927 e com regular
concorrência, a inauguração do novo campo desportivo do GUS, com um
interessante desafio de futebol entre as primeiras categorias deste grupo
montemorense e as do Comércio e Indústria de Setúbal.
Antes do
início do desafio, foi baptizado o novo campo, a que deram o título de 1.º de
Maio.
Trocadas as
saudações do estilo e dado o primeiro pontapé na bola pelo Senhor Presidente da
Câmara, Dr. Alberto Malta de Mira Mendes, iniciou-se o desafio que terminou com
a vitória da equipa que se deslocou do Sado por 3 bolas a 1.
O primeiro
título distrital foi conquistado em 1929 - Empenhados na consolidação da
modalidade e pela qualidade das instalações recentemente inauguradas, o União
venceu em Évora o Lusitano por 2 bolas a 1 e conquista pela primeira vez o
título de Campeão Distrital.
Em 1943 o
GUS estreia-se em provas organizadas pela FPF.
Catorze
anos após a conquista do primeiro título distrital e graças ao segundo lugar
obtido no campeonato do distrito, o GUS apurou-se para participar pela primeira
vez no Campeonato Nacional da II Divisão.
Na
sequência deste apuramento, "O Montemorense" publicou um extenso
artigo do qual retirei a seguinte passagem: O União entra pela primeira vez
numa prova organizada pela Federação Portuguesa de Futebol, e vão animados os
seus jogadores em obter uma boa classificação. O "team" vai encontrar
grandes dificuldades para poder ver realizada a sua aspiração, porque (de modo
algum queremos ser pessimistas), não tem no seu conjunto um todo com que possa
encarar o futuro.
O
Campeonato Nacional da 2.ª Divisão contou na época de estreia do GUS com 14
Séries. A série XII foi composta pela
equipas do Juventude, do Lusitano, do Estremoz e do União.
Na primeira
jornada, Lusitano Ginásio Clube, 1 - Grupo União Sport, 1.
O União
alinhou da seguinta forma:.
Manuel Joaquim;
Norolindo e Patrício Gatinho; António Pina, Rita e Janeiro; Serafim Macau,
Rubira, Luís António, Henrique Macau e Pascoal.
Henrique
Macau marcou o golo do União aos 23 minutos, e quando faltavam cinco minutos
para o jogo terminar, Amaro apontou o golo do empate.
O
jornalista de "O Montemorense" acertou na "mouche", pois o
União terminou a prova no último lugar, com apenas dois pontos.
Para
terminar, refiro que o vencedor deste Campeonato Nacional da 2.ª Divisão, foi o
Estoril Praia, que assim, ascendeu ao escalão maior do futebol português.
Augusto Mesquita
In Folha Montemor Abril 2018
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