A LEITURA DOS NÚMEROS
Uma
das bandeiras do Governo tem sido a redução da dívida pública.
Da forma como a coisa é referida dá a ideia que a divida nominal
tem sido reduzida de uma forma significativa, e alude-se para a continuidade da
redução nos próximos anos.
Em sede de Programa de Estabilidade apresentado pelo Governo
refere-se que a dívida reduzirá para 122,2% do PIB em 2018, e para 102% em
2022.
Sendo a divida medida de uma forma % em relação ao PIB, sempre que
o PIB aumente a divida reduz, ainda que em termos nominais tal possa não
acontecer.
Na verdade o que tem acontecido em Portugal, nestes últimos anos,
é que a redução da divida é apenas na sua forma percentual, porquanto tal
redução decorre do aumento do Produto Interno Bruto do país e faz-se pela
relação % entre a seu valor absoluto e PIB. Ou seja, para o Governo não
interessará quando representa a dívida em termos absolutos, mas sim quanto ela
representa em termos relativos do PIB.
Interessa ao Governo dizer que a divida foi reduzida por que o
sentido de tal afirmação é-lhe favorável. Nem passa pela cabeça do
primeiro-ministro esclarecer que o valor da divida em termos absolutos é uma
coisa, e o rácio da divida em relação ao PIB é outra.
Obviamente que dá a notícia da forma que lhe é favorável.
Já quanto à carga fiscal, que está em limites máximos desde 1995,
o mesmo Governo alega que tal é uma consequência do crescimento económico e do
aumento do emprego, gerando-se mais receitas fiscais e mais contribuições para
a segurança social.
Ou seja, entende o Governo que o aumento da carga fiscal é algo
natural em resultado dos efeitos do crescimento económico.
Neste caso, não se mede o problema pela sua avaliação percentual,
ou outra, que mostre o real crescimento dos montantes arrecadados pelo Estado
nos diferentes impostos, seja pelo IRS, IRC, IMI, ou outro qualquer imposto.
A verdade é que a receita fiscal é hoje “anormalmente” alta e não
será apenas pela razão invocada pelo Governo. O crescimento económico poderá
explicar uma parte, mas a outra deve-se à elevada carga fiscal que pagamos e
que não dá sinais de reduzir.
Só que não interessa ao Governo dizer muito mais, os
esclarecimentos ficam-se por uma curtíssima justificação – em consequência do
crescimento económico – não importando referir mais nada, como se as taxas de
imposto que cada cidadão paga não resultassem de determinação governamental e
todo este aumento fiscal fosse apenas em resultado do crescimento económico.
Os números são o que são, mas os portugueses já vão percebendo que
não estamos no país das maravilhas, e que o discurso construído não reflecte a
realidade. Contudo, o Governo já não apresenta mais do que um optimismo
moderado.
Até para a semana
Rui
Mendes
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