segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


Este domingo estive em Serpa numa sessão sobre monoculturas, sobre o que está a acontecer no Baixo Alentejo – mas também por cá.
Ao longo da estrada para Beja, ainda se vêm algumas chapadas brancas e amarelas, com a margaça a anunciar uma primavera precoce. Mas à medida que os quilómetros se fazem, cada vez mais se vão vendo grandes extensões, manchas verdes de olival, terras rasgadas para a instalação de novos olivais ou amendoais superintensivos, mostrando visíveis alterações da morfologia dos solos para a instalação dos sistemas de rega.
Com a água que o Alqueva nos proporcionou, veio a promessa de riqueza para o Alentejo, a promessa de uma agricultura a florescer e postos de trabalho a serem criados.
Mas será que essa promessa se realizou?
Será que estamos hoje mais ricos? Temos um desenvolvimento mais sustentável? Há mais emprego e com mais rendimento para quem trabalha?
Ou, pelo contrário, estamos confrontados com problemas graves para os quais não foram tomadas medidas preventivas.
Hoje, quando vamos por esses campos fora, principalmente no Baixo Alentejo, nas zonas de Serpa ou de Ferreira do Alentejo, já não é a paisagem tradicional e que é a marca do Alentejo o que vemos.
Hoje vemos milhares e milhares de hectares, em mancha contínua, cultivados com oliveiras de variedades não tradicionais, que mais não são que arbustos, em “investimentos” desenvolvidos por empresas maioritariamente estrangeiras, que garantem o início da produção em pouco tempo e logo uma rentabilidade mais elevada. Ou, mais recentemente, plantações de amendoal, em regime também superintensivo.
Mas todos sabemos que são culturas que rapidamente, em meia dúzia de anos, esgotam a capacidade dos solos. Aconteceu em outras regiões e aqui ao lado em Espanha e naturalmente é o que nos espera por cá.
Também o emprego que criam é uma miragem: de muito curta duração e muitas vezes com recurso a imigrantes.
Por outro lado, este tipo de exploração em monocultura tem impactos enormes, e não apenas ao nível da biodiversidade. Impactos que as politicas públicas dos últimos anos deveriam ter acautelado mas não acautelam.
Desde logo a instalação destes olivais superintensivos causa fortes impactos no solo, na sua morfologia, com a destruição de várias camadas para instalação dos sistemas de rega. A erosão que se segue é brutal.
Tratando-se também de culturas com forte utilização de químicos, e por isso é bom que nos questionemos sobre qual o seu impacto nos aquíferos, sabendo já que é enorme o impacto na água das barragens, o que em períodos de seca como o que atravessamos aumenta os riscos para a saúde pública.
Acrescente-se que estamos a falar de dezenas de milhares de hectares de monoculturas, que se diz fazerem uso eficiente da água, mas que são altamente consumidoras de água. Quando temos também cada vez mais fenómenos extremos de seca, vão sendo cada vez mais as vozes a alertar para o facto de, apesar de termos o Alqueva, a água não ser inesgotável.
O cenário que vemos em Serpa não é, felizmente, ainda um cenário generalizado no Alentejo Central. Mas por isso mesmo importa que as políticas públicas promovam o desenvolvimento sustentável, o emprego, a qualidade ambiental.
Está anunciado o aumento em 50.000 hectares do regadio. Que não sejam mais 50.000 hectares de olival ou amendoal superintensivo, mas que sejam antes aproveitados para diversificar culturas, para criar efectivamente emprego na região.
Nesta matéria os municípios podem desempenhar um papel importante. Têm nos PDM, instrumentos de gestão territorial, boas ferramentas a que podem deitar mão para promover o desenvolvimento sustentável dos seus territórios.
Também a próxima revisão da lei de bases do Ambiente terá que olhar para esta nova realidade, reforçando os mecanismos de controlo.
As políticas nesta matéria têm que garantir sustentabilidade e qualidade ambiental, não apenas por nós mas também pela responsabilidade que temos perante as gerações futuras.
Até para a semana
MARIA HELENA FIGUEIREDO



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