terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


Claudia Sousa Pereira
                                                        AS DIVAS

É inconcebível que o exercício comprovado de violência de um ser humano sobre outro não seja punível na sociedade civilizada contemporânea. Tratemos, pois, de começar por definir violência, porque, sim, as palavras importam, designam conceitos e são estes que nos permitem contarmo-nos a nós mesmos e vivermos numa comunidade que depende da comunicação estabelecida entre os indivíduos para se entenderem. Partamos de uma definição básica: “Violência significa usar a agressividade de forma intencional e excessiva para ameaçar ou cometer algum acto que resulte em acidente, morte ou trauma psicológico.” Prossigamos para um esclarecimento histórico: “A palavra violência deriva do Latim “violentia”, que significa “veemência, impetuosidade”. Mas, na sua origem, está relacionada com o termo “violação” (violare).” A violência pode começar por não ser intencional, mas a partir do momento em que esse acto aparentemente involuntário provoca vítimas, é porque é violento e, como tal, condenável. As leis prevêem isso. Assim, qualquer denúncia de alguém agredido, isto é vítima de violência, deve ser atendido pelas autoridades que se ocupam da ordem e, numa outra etapa, da justiça. Tem esta crónica de hoje como assunto o choque das Divas sobre o acossamento de que sobretudo mulheres, mas não só, são vítimas em casos de violência de cariz sexual: as que desfilam na passadeira vermelha em L.A. e as que pegam na pluma em Paris para trazer a luz ao resto do mundo. Ou pelo menos, tentar.
O assunto nasce agora para a discussão aberta que a contemporaneidade permite, mas a questão é velha como a espécie humana. E agora é o tempo em que toda a gente diz tudo onde bem lhe apetece, o que entope canais de informação, produzindo “engarrafamentos” que resultam muito mais do mirone ou de quem pasma perante uma ocorrência para apreciar e emitir uns palpites, do que quem quer pôr tudo a circular com a regularidade possível após o sucedido e prevenindo que semelhante caso possa vir a repetir-se. As Divas vieram pronunciar-se sobre o assédio sexual, de que muitas foram vítimas antes mas só agora ousaram falar e, não vejo como ignorá-lo, algumas até terão chegado a Divas por causa da não resistência, no passado que agora denunciam, à violência, má, sempre má, a que tiveram de se sujeitar.
Parece tarde, mas não é inútil. Antes pelo contrário, se discutida por quem sabe – saber feito de experiência própria ou próxima, sem extremos de puritanismo ou promiscuidade – pode mesmo representar a oportunidade para que alguma coisa mude, mesmo quando parece impossível parar a prática do assédio sexual na espécie humana. Talvez fosse é de se procurarem exemplos daquelas, e aqueles, que tendo resistido à violência não conseguiram o sucesso profissional, já que é disso que as Divas de preto em L.A. sobretudo falam. Já as Divas de Paris, parecendo defender o instinto mais básico e bestial do ser humano, usam um discurso para intelectualizar descuidadamente o assunto, infantilizando o agressor para não aumentar a vitimização da vítima, uma óbvia contradição, numa argumentação em que mostram o quão pouco importunadas sexualmente alguma vez aquelas mulheres foram, confundindo sedução com qualquer outro acto para quem não se predispôs à quebra de limites estabelecidos ou nem sequer procurou a intimidade em momento algum. Uma coisa é certa, num e noutro caso, um com respeito pela igualdade, outro com acento na desigualdade que a Natureza parece desculpar, isto é para ser tratado como um assunto que diz respeito a homens e mulheres, sem “caça às bruxas” e, perdoem-me o calão, não como uma “cena de gajas”. 
Até para a semana.

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