VANDALISMOS, APENAS PERRGUNTAS
Na
passada semana um grupo muito significativo de jovens foi expulso de hotel numa
estância de veraneio. Muitos dos comentários e análises construídos a partir
desta informação procuraram, afanosamente, culpados e responsáveis fugindo, com
honrosas excepções, à compreensão dos comportamentos gerados.
Como sempre nestas
situações, as generalizações apenas servem para esconder as possíveis razões
que levam a comportamentos grupais reprováveis e a actos de vandalismo
condenáveis.
Terá sido toda uma
geração que andou a vandalizar o hotel onde os jovens foram despejados?
Será que toda a geração
anterior se demitiu de educar os filhos e construiu “os monstros” que andaram a
partir tudo o que apanharam pela frente?
Será que aqueles que
nas redes sociais insultam diariamente todos os que não pensam como eles, têm
um comportamento muito diferente do jovem que atirou um colchão pela janela do
hotel?
Será que os
comentadores dos diversos programas desportivos, quando insinuam que o árbitro
errou de propósito para beneficiar este ou aquele, não se comportam nesse
momento como o rapaz ou a rapariga que mergulhou a televisão na banheira?
Será que a senhora
que fez declarações lamentáveis procurando a mera desculpabilização, não
estaria nesse momento a cometer um acto com a mesma gravidade de quem partiu
uma porta com um pontapé?
Na minha opinião, não
se tratam de excessos ocasionais, coisas da irreverência da juventude, ou
episódios que podem ser atribuídos a uma resposta ao mau serviço prestado pela
unidade hoteleira.
Para uma tentativa de
compreensão teremos que tentar perceber como e para quê formamos os nossos
jovens. Estamos preocupados em que sejam interventivos, críticos, com
capacidade para colocar em questão ordens e orientações, ou estamos mais
preocupados em que tenham um treino intensivo que lhes proporcione uma entrada
no mundo do trabalho, qual mão-de-obra amestrada que lhes garanta a
sobrevivência?
Quando surgem estas
notícias, quando assisto às praxes académicas, quando olho para os programas
das queimas das fitas, quando percebo as escolhas dos destinos das viagens de
finalistas de jovens que passaram quinze anos na escola e estão prestes a obter
uma licenciatura, lembro-me sempre de um pai que, durante uma reunião com a
professora do ensino básico, disse que não fazia sentido a senhora mandar como
trabalho para casa um exercício para construir rimas. “O meu filho não anda na
escola para a aprender a ser poeta”, foi a afirmação que nunca mais me saiu da
cabeça.
Deixemo-nos, todos,
de moralismos e busca de culpados nos outros. Esta geração não é melhor nem
pior do que as anteriores, contém gente genial e gente banal, gente que precisa
de espaço e que irá conquistá-lo derrubando muros e ameias e gente amorfa que
se sujeitará sem um pio à exploração do patrão, mas que no fim-de semana se
encherá de coragem e irá em magote, de forma anónima, insultar o adepto da
equipa de futebol adversária.
Talvez… apenas
talvez, a coisa fosse diferente se tivéssemos todos andado na escola também
para aprender a ser poetas. Talvez… apenas talvez… tratássemos melhor a vida
Até para a semana
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