MOTE
Seu nome era Guadiana…
Nunca mais se avistou
Daquela vila alentejana!
Corrias livremente
Em escarpas sinuosas,
Nas águas vigorosas
Ao sabor da corrente.
Do teu peixe excelente
O povo se alimentou,
Com engenho pescou
No rio que já não corre…
Nada eterno, tudo morre,
O Alqueva o sepultou.
II
Nasce em lagoas de Ruidera,
Província de Ciudad Real…
Depois entra em Portugal,
Juromenha lhe faz espera.
Gente humilde e sincera
A quem chamam de raiana,
Orgulha-se toda ufana
Das histórias do velho rio…
Ali ninguém mais o viu,
Seu nome era Guadiana.
III
Percorre sempre veloz
Na direcção leste-oeste,
Em Badajoz investe
Para sul até à foz.
O Grande Lago feroz
Depressa o abafou,
A paisagem mudou
E o velho rio cedeu…
Do olhar desapareceu,
Nunca mais se avistou!
IV
Duas vezes faz fronteira
Entre Portugal e Espanha,
Muitos afluentes apanha
Na sua viagem rotineira.
Os moinhos à sua beira
Tiveram sorte tirana,
A barragem foi profana
E submergiu a história…
Mas ficou na memória
Daquela vila alentejana!!
MOTE
Eu fui Guadiana abaixo
Pelas margens do rio
Hoje procuro e não acho
A beleza que lá existiu
I
Junto à margem raiana,
Corria o velho Guadiana
Que hoje não descortino.
Traçado tinha o destino
O Alqueva fez dele riacho,
Levou o rio lá pra baixo
E com ele toda a beleza…
Assim, com essa tristeza,
Eu fui Guadiana abaixo.
II
Videiras milenares,
Papoilas brancas seculares
Ao longo do seu curso.
Homem sábio em discurso
Falou com muito brio,
Das pedras que descobriu
Com covinhas gravadas…
As histórias que são contadas
Pelas margens do rio.
III
Sumiram-se da paisagem,
A água na sua passagem
Afogou os velhos moinhos.
Para o fundo sozinhos
Foram como um fogacho,
Lá permanecem debaixo
Longe da vista humana…
Nesta margem alentejana,
Hoje procuro e não acho!
IV
Acaba por se transformar…
Tudo aqui pode mudar,
Quer seja longe ou perto.
Nada é dado como certo
E o rio não resistiu,
Nas profundezas sumiu
Pra mal dos meus pecados…
Tem os dias contados
A beleza que lá existiu!!
2 comentários:
Muito bonitas as décimas recordando com nostalgia o velho Guadiana de outros tempos.
Parabéns ao poeta.
Concordo em absoluto com o comentador/a de 16 março, 2017 15:08. Enorme qualidade poética e sensibilidade. BIS!!!
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