Homenagem
do Al Tejo a Domingos Maria Peças
Do
que está em exibição na minha cidade, o que para mim será imperdível é o filme
magnífico dos Irmãos Taviani, "Maraviglioso Boccaccio" e duas
obras-primas absolutas, que são "Barry Lyndon", de Stanley Kubrick, e
"Dersu Uzala", do mestre japonês Akira Kurosawa (Tóquio, 23-Mar-1910,
Tóquio - 6-Set-1998), filmes que não deixei de rever.
Já
falei dos dois primeiros e sobre o último só quero acrescentar que é, entre
outras coisas, um hino à Natureza e à Amizade, que Kurosawa foi realizar na
União Soviética, em 1975, antecedendo duas obras primas muito shakespearianas -
"Ran" e "Kagemusha".
Em
1993 Kurosawa realizou o seu derradeiro filme, um testamento fílmico humanista
e maravilhoso, "Ainda Não!" (Madadayo).
"Dersu
Uzala", apesar dos seus 140 minutos, passa num ápice porque o grande
mestre tinha como poucos a noção de qual devia ser a duração ideal dos planos.
Interpretado
por Maksim Munzuk (Mzhegyei, Tyua, Russia, 2-Mai-1910 - 28-Jul-1999, Kyzyl,
Tyua), no papel do caçador mongol Dersu Uzala e Yuri Solomin (Chita, URSS,
18-Jun-1935), como Capitão Arseniev, também personagem real, em cujo relato
Akira Kurosawa e Yuriy Nagibin (Moscovo, URSS, 3-Abr-1920, 17-Jun-1994) se
basearam para escreverem o argumento desta obra-prima.
Gostaria
de lembrar outros aspectos desta obra, acima de tudo o respeito de um homem
educado pela civilização mas suficientemente inteligente para compreender a
enorme e insubstituível experiência vivida pelo seu guia, o caçador de martas,
Dersu, um ser extraordinário, cujo respeito pela Natureza e pelos seres vivos,
humanos ou não, é uma lição para os predadores humanos pretensamente
civilizados.
Referir
as dificuldades atravessadas por ambos, em que a sabedoria do guia várias vezes
os salva perante uma Natureza indiferente ao sofrimento humano e por vezes
muito violenta.
E da amizade baseada no respeito que cresce entre estes dois seres humanos.
E da amizade baseada no respeito que cresce entre estes dois seres humanos.
Na
pesquisa na Net, na tentativa de descobrir algum aspecto que me tivesse
escapado mas considerasse útil referir, deparei com um belíssimo texto sobre o
fime que não resisto em partilhar com a devida vénia, porque tudo o que pudesse
acrescentar está lá.
(em
outraspalavras.net/posts/por-que-rever-dersu-uzala/)
Durante o desenrolar da história vamos nos
apaixonando pelo pequeno mongol, que aos poucos mostra como é realmente.
Aparece um homem simples, que vive livre na natureza, com pleno conhecimento do
ambiente que o cerca. Mas, ao mesmo tempo, um ser temeroso das forças naturais,
que não as compreende plenamente. Trata-se, na forma descritiva do diretor, do
eterno embate entre o mito e a ciência, ou da razão esclarecida, já tão bem
estudada pelos filósofos.
Dersu movimenta-se de acordo com suas
tradições e o conhecimento adquirido em sua vivência diária. Arseniev
orienta-se por seus livros e pelo que lhe foi transmitido nos bancos escolares
e no exército. Dersu respeita o conhecimento do seu amigo, e o capitão se
surpreende ao ver naquele homem atributos de alto valor de dignidade, honradez,
solidariedade, coragem e determinação, aliados a sua extrema simplicidade. São
qualidades cada vez mais esquecidas no mundo civilizado.
Opera-se então um equilíbrio entre os
dois mundos e se abre, numa perspectiva rousseauniana, a tensão entre o “homem
natural” e a “civilização”. Desenvolvido por Jean-Jacques Rousseau, em especial
no seu Discurso sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade Entre Homens, mas
presente também nas investigações de filósofos pós-modernos, o tema é de enorme
atualidade. Contribui com a reflexão dos que procuram libertar o homem
contemporâneo das cadeias impostas pelo reino da mercadoria — onde prevalece o
desequilíbrio imposto por uma forma de ser se choca com nossa condição de ser
integrado na natureza."
Egas Branco
1 comentário:
Mais um excelente crónica do Sr.João Dr
Egas Branco .
Artemiso Peças
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