As últimas
Tabernas de Vila Viçosa
Nos tempos de outrora, as tabernas
ou tascas no Alentejo constituíam locais de referência incontornável e com uma
identidade própria. Podiam ser, por vezes, algo decadentes e melancólicos.
Espaços de socialização masculina,
eram caracterizadas por serem o ponto de encontro e de refúgio dos camponeses e
operários, onde, no final da jorna, se bebia vinho e se jogava ao dominó, ao
chito e à bisca “lambida”.
Estas formas de convívio eram motivo
de orgulho e de afirmação cultural e assumiam-se como manifestações de
relacionamento social. O consumo (muitas vezes excessivo) de vinho, aliado aos
diversos problemas que assolavam os grupos sociais menos abastados (os
principais frequentadores das tabernas) fizeram recair, sobre as mesmas,
pesados “rótulos”.
Eram espaços pouco iluminados,
frescos, com mesas e bancos de madeira, por entre as grandes talhas de barro,
que eram enchidas do precioso néctar. O balcão tinha quase sempre um tampo de
mármore.
À volta do petisco, girava a
conversa amena no final de cada dia de trabalho e era fomentada a interação e a
participação, como fuga à rotina. Para além do pão, havia azeitonas, queijos
curados, carapaus fritos, cabeças de borrego assadas, carne do “fundo do
alguidar” e o grão com mão de vaca, para além dos chouriços e das morcelas. Por
esse motivo, o uso da navalha era indispensável.
Por vezes, um simples pêro
constituía motivo suficiente para que dois ou três amigos beberem alguns copos
de vinho
Eram também espaços de transmissão de
saberes, de conhecimentos e de discussão política. Podiam constituir também
centros prestadores de serviços, como a venda de pão ou de hortaliças e posto
dos correios.
Muitas tabernas abriam antes do
nascer do sol, já que os trabalhadores rurais trabalhavam, de “sol a sol” e
antes de irem para o campo, alguns passavam pela tasca a “a
matar o bicho”.
“Matar
o bicho”, era quase
uma cerimónia e consistia em beber um bom trago de aguardente ou abafado, logo
pela manhã, antes do início dos trabalhos.
No dia 15 de Março de 1994, estava
eminente o encerramento de uma das mais antigas tabernas de Vila Viçosa,
propriedade de António Natalino Cravo – “O Belhuca”, juntamente com o seu
irmão, Joaquim Venâncio Cravo.
Tinham sido 53 anos a produzir vinho
à moda antiga, nas enormes talhas de barro. Esta taberna pertencera à Família
Cravo e antes fora propriedade de António Venâncio.
Taberna centenária, foi recuperada e
posteriormente gerida, a partir desse mesmo ano, pelo Sr. Manuel Toscano
e pela esposa, Joana, até ao ano de 2014. Com a designação “Tasca do
Necas”, aqui foi reavivada a memória das antigas tabernas de Vila Viçosa, em
que a degustação dos vinhos era conjugada com os petiscos preparados pela D.
Joana.
Neste momento, a última taberna de
Vila Viçosa está encerrada…
Apesar disso, Vila Viçosa tinha
muitas tascas e tabernas no início do século XX.
As mais conhecidas foram as
seguintes;
António Martez
Toscano (“Melrinho”)
Jesus Gonçalves
Joaquim Gonçalves (que era também
casa de pasto)
José do Areal (Pereirinha), na Rua
de Santo António
Perdigão, na Rua dos Combatentes da
Grande Guerra (antiga Rua dos Gentis)
O “velho” Dario, na Rua dos
Combatentes da Grande Guerra (antiga Rua dos Gentis)
João da Horta do Cano, mais tarde
“Moças”, na Rua de Santo António
Joaquim Barradas, o “Estreito”, na
Avenida Bento de Jesus Caraça
Miguel do Polme
Taberna da Larga ou Saúl, no Rossio
Joaquim Pereira (o “Ai Ai”), que
ficava no Rossio
José Borrego, depois Francisco José
Pires Rosa, também no Rossio
João Trindade (Borrego), mais tarde
António do Granja, no Largo Mouzinho de Albuquerque
Casimiro Silva (o “Pilérias”)
Raul Trindade (o “Berrola”), no
Largo Mouzinho de Albuquerque
João Bravo
Joaquim Toscano (Joaquim Jeremias),
pai do ilustre calipolense Dr. Jeremias Toscano, que ficava na Rua de Cambaia
(Rua Dr. António José de Almeida)
Manuel Paixão
Filipe Paixão e depois Moisés
Jaleco.
Num tempo em que não existiam muitas
alternativas, as tabernas assumiam-se como lugares de referência e de culto na
vida das comunidades agrícolas. Eram espaços privilegiados para manifestações
da cultura popular, função que mantiveram até meados dos anos 70 do século XX.
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