Guardei porcos toda a vida
No montado alentejano,
Não vi outra saída
Pra comer durante o ano.
Não vi outra saída
Pra comer durante o ano.
Não aprendi a ler
Pois nunca fui à escola,
Os meus pais pediam esmola
Pra me dar de comer.
Começou a suceder
Na mesa faltar comida,
Eu de cabeça perdida
Decidi ir trabalhar…
Para os poder ajudar,
Guardei porcos toda a vida.
Pois nunca fui à escola,
Os meus pais pediam esmola
Pra me dar de comer.
Começou a suceder
Na mesa faltar comida,
Eu de cabeça perdida
Decidi ir trabalhar…
Para os poder ajudar,
Guardei porcos toda a vida.
Era então um rapazinho
Nesse tempo já ido…
Cheguei a estar perdido,
No meio do campo sozinho!
Pra encontrar caminho
Socorria-me do Bichano
Guiava-me sem engano
De regresso até casa…
O cão era a minha asa
No montado alentejano.
Nesse tempo já ido…
Cheguei a estar perdido,
No meio do campo sozinho!
Pra encontrar caminho
Socorria-me do Bichano
Guiava-me sem engano
De regresso até casa…
O cão era a minha asa
No montado alentejano.
Contra o frio ou calor
Se fazia a minha luta…
No montado, a labuta,
Ninguém lhe dava valor.
Vivia pois neste agror
Com a alma dividida,
Mas pra não andar à pida
Resolvi ser porqueiro…
À sombra d’um sobreiro,
Não vi outra saída!
Se fazia a minha luta…
No montado, a labuta,
Ninguém lhe dava valor.
Vivia pois neste agror
Com a alma dividida,
Mas pra não andar à pida
Resolvi ser porqueiro…
À sombra d’um sobreiro,
Não vi outra saída!
Tempos difíceis passei
Quando pastava os porcos…
Deram-me alguns trocos,
Mas de letras nada sei!
Certa noite sonhei
Que ia à escola todo ufano,
A escrever em bom plano
Numa ardósia de xisto…
De lutar não desisto
Pra comer durante o ano.
Quando pastava os porcos…
Deram-me alguns trocos,
Mas de letras nada sei!
Certa noite sonhei
Que ia à escola todo ufano,
A escrever em bom plano
Numa ardósia de xisto…
De lutar não desisto
Pra comer durante o ano.
Matias José
5 comentários:
Acabei de ver o poema que escrevi, e para minha ressalva aqui fica a parte que foi omitida na publicação: [Auto-Retrato/ Homenagem ao Guardador de Porcos].
Pode parecer de pouca importância, mas não o é certamente.
Um abraço!
Oh amigo...tu é que sabes!
Mas omiti porque na verdade o "guardador" não me parece ter qualquer semelhança contigo.
Abraço grande
Estou de acordo com o Chico: o gajo não tem mesmo aspeto de porqueiro.
Mas que faz uma poesia popular (vulgo décimas) com muita beleza e estética é bem verdade.
Tenho a certeza que o poeta vestiu a pele do "guardador de porcos".
Aquele abraço..., quem sabe de mim sou eu...
AC
É isso mesmo... «vestir a pele»... o AC entendeu.
O poeta vestiu bem a pele do porqueiro, e as décimas estão de se tirar o chapéu.
Bravíssimo!
Enviar um comentário