quarta-feira, 26 de outubro de 2016

MAIS UMA MEMÓRIA DO LUÍS DE MATOS

         Dinheirinho Numa Mão E Bacorinho Na Outra
Diamantino José Neves Rosado, nascido e criado no Alandroal. Todos o conheciamm por “Sarlica”, nem ele respondia por outro nome.  Bom trabalhador e um certo jeito para o negócio, embora nunca se lhe conhecesse nada duradoiro. Quando era novo tinha uma força notável. Foi um bom pegador de toiros e isso via-se nas touradas realizadas por altura das festas em honra de Nossa Senhora da Conceição que têm lugar no mês de Setembro no Alandroal.
Depois de reformado, o Dr. Quintino Lopes, contratou-o para cuidar da quinta que este possui no Alandroal. Com a devida autorização do proprietário, começou a criar porcos para engorda, que depois vendia para a tradicional matança do porco. Engordava-os com alguns sobejos de comida e milho. A boleta só lhe dava, quando faltava um mês para a matança, o que fazia com que carne ficasse mais saborosa. Os xiqueiro, onde engordava os porcos, estavam sempre limpos de restos de comida. A água é que era sempre abundante nas pias. Deviam ser felizes os animais, a avaliar pelo repouso que tinham. Depois de fartos, faziam belas sonecas que era um regalo ouvi-los roncar, diria até que era de meter inveja a muito boa gente que, sejam quais forem os motivos, quer dormir e não pode.
O Sarlica é tio da minha mulher e um bom contador de estórias. Muita gente, nas quais eu me incluo, gosta de ouvir as suas facécias.  Adorava a sua companhia, principalmente pelas mentiras descaradas que nos tentava impingir sempre com muita graça. Outras vezes, não pela graça, mas pela forma como se expressava. Ele inventava uma pequena historieta de um momento para o outro.
Um dia perguntei-lhe:
Ò Sarlica, tens lá porcos para vender?. Precisava dum para matarmos aqui na quinta.
-Tenho, mas já sabes. É dinheirinho numa mão e “bacrinho” na outra.
Ainda hoje, já passados, uma boa dezena de anos, o meu amigo João Lázaro, que eu tinha convidado para me acompanhar de Évora ao Alandroal e que assistiu a esta pequena tentativa de negócio me diz:
Ó Luís! E então aquela do ti Sarlica? Dinheirinho numa mão e “bacrinho” na outra?
Luís de Matos


1 comentário:

Anónimo disse...

Sempre tratei o Diamantino com amizade e consideração. Um bom homem, trabalhador, a quem nunca tratei por Sarlica mas sempre pelo nome próprio. Desconheço até a origem da alcunha (talvez o Luís possa explicar).
O caso em questão, sobre o Diamantino, fez-me lembrar uma "passagem", como se costuma dizer, entre os dois que jamais esquecerei..., ele também nunca deve ter esquecido.
Em miúdo pequeno, talvez cinco anos, eu era muito velhaco (assumo).
O meu avô aproveitava um bocado de terra do quintal para semear batatas. O encarregado desse serviço era o Diamantino. Chegou o dia do nosso amigo ir cavar a terra. Eu andava por ali na brincadeira, saltitando e conversando com o Diamantino, quando uma súbita cólica abdominal me obrigou a fazer uma covinha onde depositei o respetivo causador da aflição. O Diamantino, entretido com as cavadelas, não deu por nada. Mas eu chamei-lhe a atenção «Diamantino não tenho para limpar...». Ele virou-se..., viu-me de cócoras..., atirou-me duas pedrinhas dizendo «limpa com isto que fica bom».
Sinceramente não gostei das arranhadelas das pedrinhas.
Depois tive a brilhante ideia: uma caninha, que me servia para a brincadeira, foi passada pelo que estava dentro da covinha e a seguir pelos fundilhos das calças do Diamantino, de cada vez que ele se dobrava para dar a cavadela.
Há uns anos, a talvez última ocasião em que falámos, ele perguntou: «ó Fernandinho ainda te lembras da patifaria que me fizeste?..., tu eras um velhaquinho...».

Um abraço ao Luís de Matos,

LFG