sexta-feira, 14 de outubro de 2016

AS "ESTÓRIAS" DO LUÍS DE MATOS

                                                           O MARIANITO
O Mariano, por alcunha o Marianito, era natural de Terena. Nunca se lhe conheceu uma namorada. As moças até faziam chacota dele quando as mulheres mais velhas, na brincadeira, claro está, lhe sugeriam um namorico. O Marianito tinha uma pequena deficiência na fala, e por isso mesmo, quando se exprimia, era muito difícil compreende-lo. Por sua vez, os homens, também não o levavam muito a sério e nós, a gaitada também gostávamos de brincar com ele. Depois o Marianito, foi morar para o Alandroal para o Bairro dos Andorinhos. Logo ali à entrada, como quem vem de Terena. Terena ficou mais pobre. Estive muitos anos sem ver o Marianito. Em finais dos anos oitenta, comecei a vê-lo com mais frequência e até falamos algumas vezes, porque nutria por ele uma certa simpatia que me tinha ficado dos meus tempos de criança. O meu pai falava-me muito do Marianito. Estava sempre a contar-me coisas dele. Coisas que agora não me lembro. O Marianito sempre trabalhou nos montes como cozinheiro e, ao que parece muito bom e muito asseado. Um desses locais, foi no monte da Mota que fica entre o monte de Barrancos e S. Miguel da Mota, onde se situa o Endovélico, por conta do Manuel Inácio Belo. No monte da Mota, era ganhão o ti Moreira, das Hortinhas. O cozinheiro ao fazer uma açorda prá ceia meteu-lhe uns ovos. O ti Moreira, às escondidas do Marianito, foi também lá meter uns ovos, mas estes eram goros. Quando foram comer a dita açorda, deram os ovos goros ao Marianito. Ralhou, claro está. Mas logo se recompôs. E assim, que se apercebeu que os ganhões estavam distraídos, para se vingar do que lhe tinham feito, disse ao ti Moreira para ver se a água que estava na panela ao lume, estava quente. O ti Moreira, distraído, tratou de meter o dedo dentro da panela. Evidentemente que se queimou e vá de sair palavrão. Resposta do cozinheiro: 
– “Mariano come ovo goro, mas tu tamém mete mão em água quen (queria dizer quente)”.
Outras vezes, as pessoas perguntavam-lhe:
– Marianito! Onde estás?
Ele respondia:
– “Mariano tá de cozinhê à Mota. Trabalhador, honesto, um pouco “simples”e bem disposto.
Era assim o Marianito.
Luis de Matos
Foto: 
Maria Antonieta Matos - Alandroal.


2 comentários:

Anónimo disse...

Essa dos ovos tem graça e não é a primeira vez que a ouço contar ao Luís.
É que eu, o Luís, e ainda outro, também somos velhos apreciadores de ovos.
E então escalfados!
Humm!
Embora eu vá manter o anonimato, tenho a certeza que o Luís me identificará.
Era o Luís vereador na Câmara do Alandroal, eleito pelo PS, e tinha, para além do presidente e doutro vereador, como companheiros de vereação dois outros companheiros no executivo.
Um deles eleito pela CDU e outro eleito pelo PSD.
Em dias de reunião de câmara, que acabava lá pelas duas ou três da tarde, estes três mangas, normalmente, muito normalmente, iam almoçar juntos.
Muitas vezes almoçavam no Alandroal, mas, volta e meia, iam almoçar ao restaurante do Venâncio a Bencatel.
Ora isto fazia uma grande confusão às hostes dos três partidos que representavam, mas isso são outras conversas que agora não vêm à baila.
«É que a relação não devia ser de almoços, devia ser de racha o pessegueiro»
No Venâncio, por sistema, comiam uma açorda com ovos, e era aí que o Luís se destacava.
Muito gostava o Luís de ovos escalfados!
Portanto, deixa lá o Maranito sossegado, e olha para um espelho.
Desses tempos ficou uma amizade que levou a que trinta anos depois do que acabo de contar, ainda esses três mânfios se juntam, mais ou menos uma vez por ano, para comerem a açorda com ovos.
Um abraço!
=== Combina lá tu o almoço deste ano, Luís.

Anónimo disse...

Conheci bem o Marianito, personagem que estava já bem no fundo da memória reciclável, e desde já agradeço ao Luís de Matos o seu avivar.
Recordo, agora, que falava como andava: aos tropeções.
Por esses tempos, eu namorava a filha do patrão que "embirrava comigo" (embora mais tarde como meu sogro gostasse bastante de mim). O Marianito chegou a dar-me informações fidedignas sobre o posicionamento das "hostes".
É bom ouvir estas estórias que são tão reais e tão humanas.
O Marianito certamente por aí andará a cozinhar noutros montes..., pelo menos enquanto "alguém" tiver a sabedoria de no-lo ir avivando.

Um Abraço

AC