Terça, 11 Outubro 2016
A proposta e incentivo de nomeação
directa de António Guterres para o mais alto cargo da ONU foi uma boa notícia
para Portugal e para o Mundo.
Foi um caminho longo
bem trilhado, avaliando as próprias competências e disposição para exercer os
cargos a que se propôs, mesmo no passado. Jogando o jogo pelas regras certas e
claras de servir na política até onde lhe fosse possível, sem atingir a incompetência
com dano para aqueles a quem sempre teve como princípio isso mesmo, servir.
Está de parabéns e, na minha opinião pessoal, terá condições para desempenhar
muito bem um papel que, podendo trazer diferenças, poucas mudanças poderá fazer
ao rumo da Humanidade. Se sendo poucas forem importantes, já a Humanidade terá
também ganho com a sua eleição, ou melhor nomeação.
Ao longo do processo incomodou-me, mas
ainda assim não ao ponto de me encanitar, a conversa à volta de “ser a vez de
uma mulher”. Primeiro, porque até podia ser verdade, se as qualidades daquelas
mulheres equivalessem às dos seus concorrentes homens. Não que eu seja contra
as quotas de género, que poderão até dar para um e outro lado, em lugares de
gestão. Até por uma questão de representação da comunidade que se gere. Mas
depois, e sobretudo, porque isso deu logo oportunidade a uma tentativa de
golpada, estava bom de ver, por quem achava que uma questão de género se
resolve assim, só porque sim. Foi bem reveladora de uma forma atabalhoada de lidar
com coisas sérias da política maior, e ainda mais de uma manipulação, ou
tentativa de, em nome de uma espécie de populismo que embarca, lá está, nisto
de “ser a vez de uma mulher”. E ter havido uma mulher a prestar-se a isso foi,
em meu entender, degradante e sinal de um retrocesso num caminho progressista
em que a igualdade de género integrasse as rotinas dos povos.
Não sendo eu, por exemplo,
particularmente apreciadora da personalidade de Hillary Clinton, teria
preferido Bernie Sanders do lado dos Democratas, não se pode dizer que, com
mais ou menos rasteiras que possam ter sido cometidas pelo seu aparelho, não
esteja a levar o seu trilho com todas as etapas normais de um candidato, sendo
uma candidata. Há referências ao género, claro, como aos seus assuntos privados
que se tornaram públicos. Como houve à cor da pele e origens muçulmanas de
Obama. Como há a de mulherengo-misógino e espalhafatoso novo-riquismo de Trump.
Para alguns, estes detalhes serão condicionantes para não merecerem o cargo e,
apesar dos epítetos que atribuí a Donald, usá-los é tão mau como dizer que só
por ser mulher terá de ser Clinton a suceder a Obama.
Passes como este de Kristalina
Georgieva, a que Merkel também não é alheia, põem-me logo a imaginar um
ambiente em que uma espécie de vespa-rainha se predispõe, põe e dispõe, a usar
todos os seus recursos, inclusive os intelectuais e que parecem passar a ser
definidores de género, ao serviço de um enxame, até misto, da mesma espécie e
com uma empolada e inegável ambição. A ambição que é, também, uma
característica óbvia e não forçosamente condenável, a alguém que pretenda
exercer um cargo que, mais do que direitos, traz sobretudo enormes
responsabilidades para as quais se tem de ter mais competências dos que as
definidas pelo número de cromossomas X ou Y. Gente assim não presta um bom
serviço ao género e, muito menos, à espécie humana. Podem bem construir o seu
ninho de vespas e manter à distância os que não se querem picar.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
ONTEM
Segunda, 10 Outubro 2016
O debate, a discussão e a preparação do
Orçamento de Estado para 2017 está na ordem do dia.
A construção de um
Orçamento de Estado implica escolhas políticas e ideológicas. Sabemos bem quais
foram as escolhas da direita: destruição do Estado Social, desvalorização do
valor do trabalho e desrespeito por quem trabalhou toda uma vida. 2016 foi um
ano de reposição de alguns dos direitos: reposição de feriados, fim da
sobretaxa do IRS, descida do IVA da restauração, aumento do salário mínimo,
reposição dos salários na função pública, reforço do Complemento Solidário para
Idosos, Rendimento Social de Inserção e Abono de Família, ...
Mas depois de tanta destruição, sabemos
que o que foi alcançado em 2016 é, ainda, curto. Assim, 2017 deverá ser não só
um ano de continuação de retoma de direitos cortados, mas de aumento real do
rendimento de quem menos tem.
Um país digno é um país que sabe
respeitar quem trabalhou toda uma vida. É, portanto, essencial que se aumente o
rendimento a tantos pensionistas que vivem abaixo do limiar da pobreza.
É tempo de escolhas... É tempo de
definir o que entendemos por justiça... Eu sei de que lado estou, e entendo da
mais elementar justiça pedir aos 1% mais ricos que participem no esforço de
aumentar o rendimento a um milhão de pensionistas pobres.
Basta de apoiar quem mais tem e reforçar
os privilégios abusivos das empresas privadas na área da saúde e energia. É
mais do que tempo de inverter o caminho da destruição e apoiar quem mais
precisa e reforçar o Estado Social. Este deve ser o lema do próximo Orçamento
de Estado.
Até para a semana!
Bruno Martins
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