O Velho Gasparão
O Ti Gaspar, mais conhecido por Velho Gasparão, era um homem
muito alto, forte e com uma grande barriga. Toda a sua vida foi Guarda de
Pastagens no Monte do Pigeiro. Andava sempre de mochila às costas. Usava calças
de cotim e camisa aos quadradinhos pequenos e bota cardada. A camisa era atada
mesmo por cima do cinto de cabedal. Era natural de Terena e morava na rua das
casas novas, mais ou menos defronte do prédio do Dr. Galhardas. Depois de
reformado passou a andar de
monte em monte como guardador de gado, em substituição dos maiorais que por
qualquer motivo tinham que se ausentar e faziam-no por vários motivos; por
doença, casamento ou por falecimento de um familiar ou amigo.
O Velho Gasparão tinha fama de
comer muito e pelos vistos tinha também o proveito. Certo dia, o Ti Joaquim
Alho que era o cozinheiro do Monte do Pigeiro viu que o Velho Gasparão se
aproximava do monte e disse para os presentes.
– Olhem! Vem além o Velho
Gasparão. O que é que acham? Vamos pregar-lhe uma partida?
Todos concordaram.
Quando o Velho chegou, como
pessoa educada que era, cumprimentou com um “Boas Tardes”, ao que todos
corresponderam.
– Então Ti Gaspar já ceou hoji?
– Nã senhori, mas comia umas
sepinhas, se prá aí houvesse.
– Então nã há-de havêri Ti
Gaspari!. Vou-lhe fazêri uma açorda, disse-lhe o cozinheiro.
– Está bem. Munto obrigado.
Era normal, que nos montes
houvesse sempre uma panela de ferro com água ao lume. O Cozinheiro começou de
imediato a pisar os tempêros, que eram poejos e pôs-lhe duas ou três malaguetas
para testar o sabor e para ver até que ponto o estômago do bom do Ti Gaspar
aguentava, pois tinha fama de comer muito. Enquanto esperava que a água
fervesse em cachão, migou um pão de quilo para as sopas da açorda, colocou os
temperos e o azeite num alguidar de barro, certamente comprado ao Ti Firmino ou
ao irmão que eram louceiros do Redondo e que andavam por aldeias e montes a
vender loiça e abafou a açorda para o pão crescer bem. Passados uns cinco ou
dez minutos, já o pão tinha crescido quase para o dobro. Pensou o Ti Joaquim
Alho. Está mesmo boa. Hoje é que vamos ver até que ponto é que o Velho Gasparão
come muito.
O cozinheiro chamou então o bom
do homem para se sentar à mesa, que a açorda estava pronta.
Enquanto o Velho Gasparão ía
comendo a açorda, os outros, com os olhos arregalados por tão grande apetite,
assistiam a todo este quadro. O Velho comeu a açorda toda e, também bebeu o
caldo.
Perguntou-lhe o cozinheiro.
– Então Ti Gaspar a açorda estava
boa?
Se estava! Só foi pena o caldo
ter um bocadinho de picante a mais.
Luís
de Matos
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