Cozinhar faz bem à saúde e liberta-nos o
espírito. Pegar nos tachos e nas panelas, na garrafinha de azeite, na cebola e
nos alhos, nos coentros e na salsa e é o que basta para nos sentirmos uns
alquimistas à procura da Pedra Filosofal. É um prazer imenso quando a casa se
inunda dos aromas que nós produzimos a partir do nosso velho fogão, foco de luz
do nosso reino improvisado, onde tentamos reproduzir ao pormenor as receitas
que as nossas avós passaram às nossas mães e que continuam vivas nos pratos que
levamos para as nossas mesas, aguardando, quantas vezes temerosos, a crítica
sempre honesta da família. Transformar o cru em algo comestível, seja carne,
peixe ou legumes é uma arte que só quem experimenta sabe, de facto, valorizar.
Para mim, cozinhar aos Domingos de manhã é também
perpetuar a visita habitual da minha Mãe. É imaginar-me com ela, sentada no seu
banco preferido, no seu fato preto de viúva, a escutar-lhe as palavras sábias
(sempre sábias) sobre o tempo e o modo como preparar cada ingrediente, como
aromatizar cada molho, como, enfim, arrumar tudo na panela, aberta e
disponível, transformando em lume brando um Caos aparentemente sem solução numa
Ordem Sagrada onde tudo, com tempo e amor, acabava por encontrar uma deliciosa
solução.
E o maior elogio que já recebi não foram os habituais
e previsíveis “Que delícia!” “Tens muito jeito!” “Mas
que sabor requintado!” Não. O maior elogio que já recebi foi simples,
e, como todas as coisas simples, tocante e mágico: “Sabes, Pai, estas
migas com carne de porco sabem mesmo às migas da avó Rosa”.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Março de
2016
1 comentário:
Bonita homenagem
Gosto muito de o ler
Catarina
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