quinta-feira, 7 de abril de 2016

DUQUES E CENAS - Prof. J.L.N.

                                  Cozinhar
Cozinhar faz bem à saúde e liberta-nos o espírito. Pegar nos tachos e nas panelas, na garrafinha de azeite, na cebola e nos alhos, nos coentros e na salsa e é o que basta para nos sentirmos uns alquimistas à procura da Pedra Filosofal. É um prazer imenso quando a casa se inunda dos aromas que nós produzimos a partir do nosso velho fogão, foco de luz do nosso reino improvisado, onde tentamos reproduzir ao pormenor as receitas que as nossas avós passaram às nossas mães e que continuam vivas nos pratos que levamos para as nossas mesas, aguardando, quantas vezes temerosos, a crítica sempre honesta da família. Transformar o cru em algo comestível, seja carne, peixe ou legumes é uma arte que só quem experimenta sabe, de facto, valorizar.

Para mim, cozinhar aos Domingos de manhã é também perpetuar a visita habitual da minha Mãe. É imaginar-me com ela, sentada no seu banco preferido, no seu fato preto de viúva, a escutar-lhe as palavras sábias (sempre sábias) sobre o tempo e o modo como preparar cada ingrediente, como aromatizar cada molho, como, enfim, arrumar tudo na panela, aberta e disponível, transformando em lume brando um Caos aparentemente sem solução numa Ordem Sagrada onde tudo, com tempo e amor, acabava por encontrar uma deliciosa solução.
E o maior elogio que já recebi não foram os habituais e previsíveis “Que delícia!” “Tens muito jeito!” “Mas que sabor requintado!” Não. O maior elogio que já recebi foi simples, e, como todas as coisas simples, tocante e mágico: “Sabes, Pai, estas migas com carne de porco sabem mesmo às migas da avó Rosa”. 

João Luís Nabo

In "O Montemorense", Março de 2016

1 comentário:

Anónimo disse...

Bonita homenagem
Gosto muito de o ler

Catarina