quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS

         Homenagem do Al Tejo a Domingos Maria Peças

                       ( hoje a cargo do Rufino Casablanca)

                               Abraham Lincoln – um filme
 Abraham Lincoln, Franklin D. Roosevelt e John F. Kennedy são, talvez, os mais conhecidos presidentes dos Estados Unidos da América. E muito embora discordemos desse conceito, já que achamos que apenas  o primeiro cabe nessa opinião, o segundo e o terceiro (continuamos nós a achar) foram ultrapassados por outros  presidentes que  marcaram mais profundamente os destinos daquele país. A verdade é que não queremos deixar de comentar os filmes que visionámos recentemente e que pretendem contar-nos um pouco da vida destes três homens. São filmes que não passaram no circuito comercial em Portugal, não se encontrando, portanto, legendados em português. São filmes oriundos duma área de cinema independente dos Estados Unidos, realizados já há alguns anos, e completamente fora dos processos de produção de Hollywood. De referir que no filme que hoje nos interessa, e que diz respeito a Abraham Lincoln, todos os actores e actrizes são amadores, assim como o resto das funções são da responsabilidade de alunos do curso de cinema da Escola de Groton, Massachusetts,. Apenas por interesse suplementar, este filme foi passado durante o Festival de Cinema Amador de Montreal, no Canadá, em 1954, tendo recebido uma Menção Honrosa.


 Ano de Produção: 1953
País de Origem: Estados Unidos da América
Idioma: Inglês
Realização: Gustavo Menendez
Argumento: Gustavo Menendez e Berrit White
Música: --------
Elenco: James Conwey, Kathryn Noizet --------

Penúria de meios de realização é a primeira coisa que salta à vista quando vemos as primeiras imagens deste filme. Durante todo o filme, que dura cerca de noventa minutos, essa penúria é evidente. Aquela rapaziada bateu-se com uma clara falta de dinheiro, …. e no entanto, …. no entanto, …. achámos o filme interresante. Não que nos deslumbrasse a interpretação dos artistas – até eram bastante toscos – não que ficassemos presos a primores da realização – por acaso bastante básica – e a música é praticamente inexistente: uns sons sempre agudos demais para os nosss ouvidos. Enfim, tinha todos os condimentos para ser considerado uma lástima senão fosse o argumento. E mesmo este não é brilhante. É uma história contada de trás para diante, sem qualquer interrupção analítica sobre a vida de Lincoln e as contingências que fizeram do homem o presidente americano mais famoso de sempre. A verdade verdadinha é que o argumento espatifa a reputação de Lincoln.
É verdade que algumas das coisas o filme nos conta, já nos tinham chegado por via doutros escritos. É verdade que já nos tinha chegado a versão de que aquele homem não era o poço de virtudes que todos exaltavam.
O filme começa por nos mostrar a Convenção do Partido Republicano, realizada em Chicago, em Maio de 1860, convenção em que Lincoln é escolhido para representar o partido nas eleições de Novembro. Assim foi escolhido este advogado, nascido no Kentucky e estabelecido no Ilinóis. Este homem, reflectido e bem falante, verdadeiro “self-made-man”, chegou à nomeação pelo Partido Republicano para presidente dos Estados Unidos, sem nunca ter referido se era ou não a favor da emancipação dos negros. Isto num país que estava à beira de uma sangrenta guerra civil, exactamente por causa da escravatura. Aliás, como o filme também mostra, a cena política norte-americana estava claramente fragmentada. O Partido Democrata apresentou dois candidatos: um nortista, outro sulista. E ainda um outro partido, com grande implantação na altura, o Partido Constitucional da União, apresentou também um candidato.
Finalmente em 6 de Novembro de 1860, Lincoln foi eleito presidente dos Estados Unidos, por margem tangencial. Estes são os factos históricos facilmente confirmáveis, mas a questão é que o filme a que nos referimos não se limita a factos históricos já conhecidos.
E desde que o homem toma posse, até à sua morte, o presidente Lincoln é apenas um saco de pancada. Chega a ser dito que teria preferido a derrota do Norte durante a Guerra da secessão. O 16.º presidente dos Estados Unidos da América, que entre a sua eleição em Novembro de 1860 e a tomada de posse em Março de 1861, vê metade dos estados da União separarem-se dos estados nortistas e iniciarem uma guerra que duraria cinco anos e faria mais de um milhão de mortos, acaba por ser assassinado por um actor quando assistia, exactamente, a um espectáculo teatral.
Nós, que sentimos por Lincoln uma grande admiração, sentimos também que a sua memória foi muito maltratada neste filme. Daí que não se recomende.

Rufino Casablanca
Monte do Meio, 12 de Maio de 1995      


    

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