quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA ONTEM NA RÁDIO DIANA/FM

                            Papagaios Sem Penas 3        
Terça, 09 Fevereiro 2016
Como vos propus, vamos concluir esta tríade de crónicas sobre o mundo da política e de como ele depende muito da comunicação e do uso das palavras no discurso, com todos os riscos de poder tornar-se uma crónica com efeito boomerang, risco de quem se predispõe ao escrutínio em espaço público.
Quem vive da comunicação como profissão vive, naturalmente, com a preocupação de tratar os assuntos para que sejam consumidos da forma mais eficaz e não olhando, vezes demais, aos recursos utilizados e descurando o impacto que a qualidade da informação possa ter na qualidade da vida cívica. Discursos inflamados, engraçadinhos ou com chavões até à náusea fazem-nos certos políticos em campanhas eleitorais, tornando-as tantas vezes risíveis; discursos elípticos, ambíguos, com equívocos, a comunicação social trata de os fazer com maior ou menor habilidade; os discursos muito pormenorizados, em geral, os governantes evitam-nos, primeiro porque têm mais que fazer, depois porque sabem do perigo de um deslize; já as oposições refinam métodos e meios para que nunca se deixe de fazer os vários tipos de discurso: o uso dos detalhes e das insinuações numa mistura com as generalizações apocalípticas que oscilam entre o fait-divers e a boutade. Resta, então, aos muitos mais que não são nem uma coisa nem outras, escolher estar atentos ou estarem-se nas tintas quanto ao teor da informação que lhes chega.
Por muito que os actos e as medidas de quem governa é que, de facto, interfiram com a vida dos cidadãos, estes actos e medidas vêm acompanhados, como numa máquina que é usada por quem não a fabricou, de uma espécie de manual de instruções em forma de declarações ou discursos. Ora, como tantas vezes acontece nesse mundo industrial e dos negócios, e com a péssima qualidade das traduções desses manuais de instruções, há muitas notícias que dificilmente nos ajudam a funcionar com a realidade de forma a compreendermos bem como usá-la. É assim que tantas notícias que estão na secção da informação podiam era estar na de opinião ou propaganda. Mas é também assim que muitos se põem a jeito, porque lhes dá jeito, para serem lidos desta forma.
Se nas duas últimas semanas o teor – conteúdo e tom – do discurso político pelos comentadores foram o alvo das minhas reflexões, esta semana centro-me na dos próprios actores principais da política, e da local, não sem antes colocar algumas perguntas. Quando os cidadãos votam, será que o fazem depois de avaliarem as propostas governativas ou porque avaliam as práticas já exercidas? E quando avaliam o passado, será que se lembram de tudo e relacionam todas as condicionantes para o avaliarem ou só se lembram do que lhes diz directamente respeito ou do que acabou de acontecer, que lhes agradou ou não? E quantos de nós nos lembramos dos discursos – não a prometer mas a acusar - disto ou daquilo aqueles de quem nos queremos distinguir? Às vezes põem-se a voar papagaios que, mais do que ganharem altura e voarem controlados pelos fios que lhes demos, voam à solta. Os fios, transparentes e resistentes, nunca parecem lá ter estado e por isso dá para fazerem de conta que lá continuam…
Recordo-me de um episódio que vivi, em torno da piada que se diz a propósito do assunto que se quer menosprezar, para ilustrar como certas palavras ou uso delas, mesmo tão influentes, se perdem ou apagam quando a responsabilidade do fazer se sobrepõe à do dizer: se achei graça quando em 2010 tinha responsabilidades executivas e aconteceu um festival de música pop que a oposição baptizou com humor “festival da rotunda”, não posso deixar de seguir a mesma onda de bonomia e ser a minha vez de falar do “cinema do canteiro” que promete nascer em Évora em 2016 pela mão da então mesma oposição e agora executivo. E é bom de ver como este tipo de conversa, por mais divertida que seja, não explica nada às pessoas sobre as circunstâncias em que surgem propostas e problemas.
Recordo-vos o que disse o escritor e pensador: «Afirma com energia o disparate que quiseres, e acabarás por encontrar quem acredite em ti.» E é disto que vamos ter de nos ir livrando, ok? Como? O ambiente comunicacional das redes sociais pode ser o princípio, mas a solução parece-me que está só num lugar: na Educação. 
Até para a semana.


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