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Terça, 09 Fevereiro 2016
Como vos propus, vamos concluir esta
tríade de crónicas sobre o mundo da política e de como ele depende muito da
comunicação e do uso das palavras no discurso, com todos os riscos de poder
tornar-se uma crónica com efeito boomerang, risco de quem se predispõe
ao escrutínio em espaço público.
Quem vive da comunicação como profissão vive, naturalmente, com a
preocupação de tratar os assuntos para que sejam consumidos da forma mais
eficaz e não olhando, vezes demais, aos recursos utilizados e descurando o
impacto que a qualidade da informação possa ter na qualidade da vida cívica.
Discursos inflamados, engraçadinhos ou com chavões até à náusea fazem-nos
certos políticos em campanhas eleitorais, tornando-as tantas vezes risíveis;
discursos elípticos, ambíguos, com equívocos, a comunicação social trata de os
fazer com maior ou menor habilidade; os discursos muito pormenorizados, em
geral, os governantes evitam-nos, primeiro porque têm mais que fazer, depois
porque sabem do perigo de um deslize; já as oposições refinam métodos e meios
para que nunca se deixe de fazer os vários tipos de discurso: o uso dos
detalhes e das insinuações numa mistura com as generalizações apocalípticas que
oscilam entre o fait-divers e a boutade. Resta,
então, aos muitos mais que não são nem uma coisa nem outras, escolher estar
atentos ou estarem-se nas tintas quanto ao teor da informação que lhes chega.
Por muito que os actos e as medidas de
quem governa é que, de facto, interfiram com a vida dos cidadãos, estes actos e
medidas vêm acompanhados, como numa máquina que é usada por quem não a
fabricou, de uma espécie de manual de instruções em forma de declarações ou
discursos. Ora, como tantas vezes acontece nesse mundo industrial e dos
negócios, e com a péssima qualidade das traduções desses manuais de instruções,
há muitas notícias que dificilmente nos ajudam a funcionar com a realidade de
forma a compreendermos bem como usá-la. É assim que tantas notícias que estão
na secção da informação podiam era estar na de opinião ou propaganda. Mas é
também assim que muitos se põem a jeito, porque lhes dá jeito, para serem lidos
desta forma.
Se nas duas últimas semanas o teor –
conteúdo e tom – do discurso político pelos comentadores foram o alvo das
minhas reflexões, esta semana centro-me na dos próprios actores principais da
política, e da local, não sem antes colocar algumas perguntas. Quando os
cidadãos votam, será que o fazem depois de avaliarem as propostas governativas
ou porque avaliam as práticas já exercidas? E quando avaliam o passado, será
que se lembram de tudo e relacionam todas as condicionantes para o avaliarem ou
só se lembram do que lhes diz directamente respeito ou do que acabou de
acontecer, que lhes agradou ou não? E quantos de nós nos lembramos dos
discursos – não a prometer mas a acusar - disto ou daquilo aqueles de quem nos
queremos distinguir? Às vezes põem-se a voar papagaios que, mais do que ganharem
altura e voarem controlados pelos fios que lhes demos, voam à solta. Os fios,
transparentes e resistentes, nunca parecem lá ter estado e por isso dá para
fazerem de conta que lá continuam…
Recordo-me de um episódio que vivi, em
torno da piada que se diz a propósito do assunto que se quer menosprezar, para
ilustrar como certas palavras ou uso delas, mesmo tão influentes, se perdem ou
apagam quando a responsabilidade do fazer se sobrepõe à do dizer: se achei
graça quando em 2010 tinha responsabilidades executivas e aconteceu um festival
de música pop que a oposição baptizou com humor “festival da rotunda”, não
posso deixar de seguir a mesma onda de bonomia e ser a minha vez de falar do
“cinema do canteiro” que promete nascer em Évora em 2016 pela mão da então
mesma oposição e agora executivo. E é bom de ver como este tipo de conversa,
por mais divertida que seja, não explica nada às pessoas sobre as
circunstâncias em que surgem propostas e problemas.
Recordo-vos o que disse o escritor e
pensador: «Afirma com energia o disparate que quiseres, e acabarás por
encontrar quem acredite em ti.» E é disto que vamos ter de nos ir livrando, ok?
Como? O ambiente comunicacional das redes sociais pode ser o princípio, mas a
solução parece-me que está só num lugar: na Educação.
Até para a semana.
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