Eduardo Luciano - Tudo parece do avesso
Quinta, 11 Fevereiro 2016
Eleito à primeira volta o candidato que nos foi imposto pelos
patrões da comunicação social dominante, a luta diária dos comentadores
voltou-se para a demonstração de que não é possível um país soberano aprovar um
orçamento livre da chantagem da comissão europeia.
Bem sei
que este não é o governo da esquerda. Também sei que este não é o orçamento da
esquerda. Bem sei que o governo é do PS e que o orçamento é do governo do PS,
mas ainda assim não posso deixar de me espantar com a atitude da maioria dos
comentadores que alinham invariavelmente com a visão mais seguidista das
teorias da inevitabilidade austeritária.
Tudo
estava mal na proposta de orçamento. A comissão europeia iria recusar a
proposta de orçamento e cada Miguel de Vasconcelos de serviço fez questão de ir
envenenar a potência ocupante com as suas profecias da desgraça proferidas por
um qualquer desgraçado.
Afinal a
coisa não correu tão bem para os que anunciaram o dilúvio divino sobre a
soberania nacional e o orçamento parece ter sido tolerado pelos guardiães das
portas do paraíso neo liberal.
Para que
tal acontecesse o governo teve de o piorar, de o tornar aqui e ali
incongruente, de recuar nalgumas propostas socialmente mais justas e de avançar
com incompreensíveis cedências à chantagem dos euroburocratas a mando da visão
mais reaccionária do conceito de integração europeia.
Todo este
processo vem lembrar aos mais distraídos que o caminho da libertação passa por
equacionar a nossa presença nesta União Europeia que faz da integração uma
espécie de colonização dos tempos modernos, umas vezes simpática outra vezes de
rosto fechado,
Não
sabemos o que vai acontecer no debate sobre o orçamento na Assembleia e se o
governo irá aceitar propostas que tenderão a melhorá-lo ainda que constituam um
desafio a uma União Europeia que aposta tudo no reforço da austeridade tendo
como alvo os rendimentos do trabalho.
Mas uma
coisa é certa. Os comentadores continuarão a fustigar todas as opções que não
se enquadrem na visão tosca e alinhada pelas perspectivas de um governo que já
não é e continuarão a criar a artificialidade com que pretendem convencer os
mais incautos de que piorou… o que se pretende melhorar.
E tudo
isto por causa de um governo do PS com um orçamento de um governo do PS.
Imagine-se o que seria se se tratasse de um governo de esquerda, com uma
política patriótica e de esquerda e um orçamento de ruptura com os ditames dos
donos europeus disto tudo.
Veremos
que tempos se seguem a estes tempos estranhos. Uma coisa é certa, podem torcer
os números, inventar propostas e contrapropostas e até espalhar o veneno da
intriga palaciana, que dificilmente conseguirão matar a centelha de esperança
que nasceu da derrota que sofreram em 4 de Outubro.
Assim
todos cumpram os compromissos assumidos.
Eduardo Luciano
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