Situado
na berma da Estrada Nacional n.º 2,
a pouco mais de 12 km de distância da sede do concelho, na
direcção de Mora, o antigo povoado de S. Geraldo, implantado na Repoula (de
Iben Arrapolo) foi classificado como freguesia rural pelo Regime Monárquico. A
sede desta subdivisão do concelho, estava sedeada junto à ermida que possui o
seu nome. Extinta em 1936, foi integrada na Freguesia de Nossa Senhora do
Bispo.
Segundo
Mestre Túlio Espanca, a Igreja Paroquial de S. Geraldo já existia no reinado de
D. João III como Comenda da Ordem de Santiago e estava anexa a Nossa Senhora do
Repouso. Desmembrada desta Ordem pelo arcebispo D. José de Melo,
simultaneamente a outras, passou para a Mitra Eborense.
Está
voltada na linha ocidente numa baixa acentuada, com adro e passal. Possui
portal simples, de granito, arquitravado. Tem frontão triangular rematado por
cruz de mármore e volumosos pináculos piriformes, nos acrotérios. A cimafronte
é composta por memória azulejar de esmalte branco e decoração azul, atingida
por malfeitorias representando um ex-voto da seguinte legenda:
M. º QUE FEZ / N.ª S.ª DO ROSÁRIO / A
ALVARO IOZE / DE ARV.º / ANNO DE 1727
A Virgem e o Menino estão enquadrados por pomposo
pórtico de colunata compósita. Tipo de fabricação lisbonense.
A torre
sineira, de secção quadrada e de quatro olhais escaiolados, apenas com um sino
de bronze, moderno, é sobrepujada de agulha piramidal, ladeada por grelhas de
tijolo, simples e angularmente rematada de coruchéus espalmados, de alvenaria.
A abside,
quinhentista, é reforçada, nos extremos, por gigantes angulares. Todo o resto
do edifício parece confirmar uma substancial reforma dos sécs. XVII-XVIII.
O
interior dispõe-se em planta rectangular. A nave, de alçados caiados de branco
e cobertura de meio canhão, de alvenaria desadornada, tem três capelas
laterais, vasadas em profundidade e de arcos redondos, moldurados, vendo-se,
nalgumas, vestígios esgrafitados. Não têm hoje obra de talha mas modestos
nichos que dão pelos onomásticos:
“Altar de Nª Sª do Rosário”
(Evangelho) – A respectiva confraria conservou-a adornada enquanto teve vida
legalizada; em tempos ulteriores designou-se de “S. Lourenço”, porque nele se recolheu uma imagem de madeira estofada,
deste santo, proveniente da destruída igreja paroquial sita no antigo termo
regional.
“Altar de S. Sebastião”
(Epístola) – Conserva a escultura padroeira, de lenho policromado, da arte
popular, seiscentista. Mede, de alt., 72 cm .
“Altar das Almas” – tem crucifixo modesto e um “S.
Miguel”, também de madeira estofada, que mede, de alt., 75 cm . Outra escultura
antiga, de factura anterior, de madeira e igualmente de inspiração populista,
se venera no recinto – “S. Brás”, na medida de 90 cm .
O púlpito,
é de base quadrada, marmórea e balaustrada de colunas torneadas, de lenho
escurecido.
As pias
de água benta, parecem obra de fins da centúria de quinhentos: uma é redonda,
ornamentada por lóbulos e a outra, de secção octogonal, está revestida de cordão
contínuo.
A capela
baptismal, pequenina e baixa, é de planta quadrada e cúpula hemisférica,
assente em trompas lisas. Pia granítica, poligonal e base cúbica de cunhas
angulares, esculpidas.
No
corredor central da nave, quase na boca do presbitério, em campa de mármore
muito atingida pelo tempo, está sepultado um jovem paroquiano rememorado com
esta legenda truncada:
S.ª DE ME. ‘ FRAZ MAN / SEDO SOLTR.º F. DE
S... / Nada se lê da terceira linha. / Séc.
XVII.
“Capela-Mor” – Igualmente de secção quadrada, tem os prospectos caiados de
branco, mas vislumbram-se, subjacentes, ornatos murais de época indefinida. A
abóbada nervurada, de aresta viva e chaves de pedra, cilíndricas, de intenção
flórica, e a axial cordiforme; mísulas prismáticas, também de granito (c.ª de
1530).
O
retábulo, de talha dourada e esculpida, do estilo barroco, com colunelos
salomónicos revestidos de aves e pâmpanos, é obra de provável factura eborense,
do reinado de D. João V (c.ª de 1730). Tímpano envieirado, guarnecido de anjos
simbólicos, carnudos. O trono, coetâneo, de alçados recobertos de folhagem e
fundo de anjos enriquecendo um belo resplendor de raios alternados, em relevo,
é de talha dourada e policromada. No centro, em base trabalhada, venera-se “Nª
Sª do Rosário”, a imagem de roca com o Menino Jesus, com grande coroa de prata
dourada. A escultura, de alvores de seiscentos, que parecia divinizada na
expressão de fr. Agostinho de Santa Maria, recebeu nova encarnação na última
década de 1690, em oficina de imaginário de Évora, por ordem do visitador da
arquidiocese, Dr. Manuel Álvares Cidade, sacerdote natural de Montemor-o-Novo e
piedoso devoto da “Virgem”.
Nas
consolas laterais, bem esculpidas, conservam-se “S. Geraldo”, de pedra de Ançã,
peça estofada do tipo oficinal do período manuelino derradeiro, que mede, 70 cm ., e “S. Pedro”, de madeira e factura popular,
arcaizante mas ainda de fins da mesma centúria. Mede, 80 cm .
No
pavimento da capela subsiste uma sepultura com letreiro, de mármore branco, que
reza assim:
S.ª DO P.º GRIGORJO / DOLIVEIRA. E
D. S. / RDÕS. FLC.º A 2 /
DE FR.º
D. 1620 ANÕS
A sacristia, com tecto de caixotões de madeira
fasquiada, apenas mantém, na parede, o lavabo de mármore, com frontão
envieirado, volutas e pináculos rematados por urnas do estilo barroco,
seiscentista. Guardam-se nela, alguns ex-votos de “Nª Sª do Rosário”, todos do séc. XIX. Subsistem, em depósito, num caixão de
madeira exótica, muitos e bons paramentos bordados a oiro e matriz sobre seda,
cetim e damasco de várias cores, dos sécs. XVII-XVIII, alguns de tecelagem
lionesa, com realce para capas de asperges e casulas (uma de sebastos da
Renascença); belo pálio e frontais de altar; galhardetes da Irmandade de S.
João Batista (?), de damasco vermelho e placas pintadas a óleo nas duas faces,
umbelas, etc.
Das
alfaias de prata, apenas existe, com algum merecimento artístico, um tardio “cálice”
sobredourado, de falsa copa com aplicações arrendadas dos habituais atributos
eucarísticos, de c.ª de 1800 e do estilo rococó, punceolado no Porto e tendo
marcas de ourives, na base circular: M. G. que mede, de alt., 25 cm ; e uma “Cruz
Processional”, de latão, lisa, de
braços arredondados e do tipo seiscentista.
Dimensões
da igreja: nave – comp. 12,00 x 5,30
m ; capela-mor – 3,80 x 3,80 m .
A milagreira Fonte Santa
Situada
na margem esquerda da Ribeira de Lavre, em sítio muito pitoresco, da Herdade da
Comenda da Igreja, a cerca de 500
m do adro da igreja, existe uma nascente de águas do
termo, considerada milagrosa, que passou a ser designada de “Nª Sª do Rosário
da Fonte Santa”.
Voltada
para o lado sul e edificada em alvenaria fortemente carregada de caio
alvinitente, dos fundamentos seiscentista nada conserva de memorável
arquitectonicamente. De planta quadrada e aberturas de arcos redondos,
moldurados, encontra-se envolvida por pilares, murete e bancos de repouso em
ruínas, outrora recobertos por túneis de verduras destinados ao lazer dos
peregrinos. Tem cúpula de secção piramidal ladeada, nos acrotérios, por
pináculos do mesmo tipo; na dianteira, cruz de mármore com inscrição de
impossível leitura, sotoposta ao emblema do Redentor - J. H. S. O corpo
interno, vandalizado além da nascente de mergulho, com caleiras para o
exterior, mostra vestígios de apainelados de tinta-de-água, geometrizantes, nos
alçados e altar de estuque, sobrepujado de nicho, obstruído, onde a devoção
popular mandou erguer um registo azulejar, policromo, do tipo do Rato, com
moldura elíptica, figurado por “Nª Sª do Rosário” (fins do séc. XVIII). O arranjo do pequeno edifício parece do
ocaso de novecentos ou dos primeiros anos do século XIX.
Assalto à igreja
Na madrugada de 28 de Dezembro de 2001, a Igreja de S. Geraldo, foi vítima de assalto,
tendo sido roubadas seis imagens, um cálice, uma salva em prata e um crucifixo em madeira. Os meliantes
levaram ainda a coroa, de prata dourada, pertencente à imagem de Nossa Senhora
do Rosário, que se encontrava no altar da igreja, e o menino que a Santa tinha
ao colo. Só não levaram a imagem porque está assente numa estrutura de madeira.
O (s) gatuno (s) terão
entrado na igreja através do arrombamento da porta principal.
Uma das imagens
furtadas, e a mais valiosa, representa S. Geraldo, o patrono da aldeia, uma
escultura de pedra ancã, estofada, do período manuelino (cerca de 1.500), com 70 cm . de altura.
Esta imagem,
recorde-se, esteve exposta em 1996 na Galeria Municipal de Montemor-o-Novo, por
ocasião da Exposição “Montemor-o-Novo na Época da Expansão Marítima” que
comemorou nesse ano as reuniões das Cortes de 1495 e 1496.
Outras peças roubadas
representam S. José, S. Pedro, S. Miguel, S. Sebastião e uma outra imagem que
não se sabe ao certo se representa S. Lourenço ou S. Brás.
Os que vieram fazer
isto sabiam exactamente o que procurar, porque não tocaram nas outras imagens
que consideraram de menor valor material. Já tinham escolhido o que queriam.
Nem sequer mexeram em mais nada.
A Guarda Nacional
Republicana e a Polícia Judiciária tomaram conta de mais este roubo de arte
sacra
Catorze anos depois,
ainda não há notícias do paradeiro das imagens.
Novembro/2015
Sem comentários:
Enviar um comentário