A RAZÃO – (décimas de Matias José baseadas num mote de
António Aleixo)
Mote
Há no mundo pão a rôdos
E há fome sem precisão
Pois o pão chegava a todos
Dividido pela razão.
António Aleixo
Glosas
I
Os celeiros no Alentejo
Rasos com trigo oiro...
Tempo de bom agoiro
Nas terras a sul do Tejo.
Boas searas almejo
E gente de bons modos,
Na planície são êxodos
Usando força de braços…
Digo sem embaraços,
Há no mundo pão a rôdos!
II
Há quem viva na fartura,
Outros sem ter de comer…
Como pode acontecer
Este mal que inda perdura?
No mundo se prefigura
Tamanha separação,
É triste a condenação
De tantas bocas famintas…
Há quem se esteja nas tintas,
E há fome sem precisão!
III
Cega a pérfida ganância,
Tudo pra si a maldita quer…
«Só reparto se eu quiser»
Diz com toda a jactância!
Vive na abundância
Farta de iscos gordos,
Usa todos os engodos
Pra só ela se alimentar…
Não era preciso usurpar,
Pois o pão chegava a todos!!
IV
Tudo podia ser diferente
Com um espécime racional,
O bem venceria o mal
Se a carne fosse inteligente.
Embora às vezes doente
Bate forte o coração,
Há quem partilhe o pão
Sem pedir nada em troca…
O amor ainda nos toca
Dividido pela razão
Matias José
Há no mundo pão a rôdos
E há fome sem precisão
Pois o pão chegava a todos
Dividido pela razão.
António Aleixo
Glosas
I
Os celeiros no Alentejo
Rasos com trigo oiro...
Tempo de bom agoiro
Nas terras a sul do Tejo.
Boas searas almejo
E gente de bons modos,
Na planície são êxodos
Usando força de braços…
Digo sem embaraços,
Há no mundo pão a rôdos!
II
Há quem viva na fartura,
Outros sem ter de comer…
Como pode acontecer
Este mal que inda perdura?
No mundo se prefigura
Tamanha separação,
É triste a condenação
De tantas bocas famintas…
Há quem se esteja nas tintas,
E há fome sem precisão!
III
Cega a pérfida ganância,
Tudo pra si a maldita quer…
«Só reparto se eu quiser»
Diz com toda a jactância!
Vive na abundância
Farta de iscos gordos,
Usa todos os engodos
Pra só ela se alimentar…
Não era preciso usurpar,
Pois o pão chegava a todos!!
IV
Tudo podia ser diferente
Com um espécime racional,
O bem venceria o mal
Se a carne fosse inteligente.
Embora às vezes doente
Bate forte o coração,
Há quem partilhe o pão
Sem pedir nada em troca…
O amor ainda nos toca
Dividido pela razão
Matias José
6 comentários:
É uma boa quadra mas para mote de décimas é muito pobrezinha.
A palavra rôdos é um problema para se arranjar uma rima de jeito...
Enfim faz-se o que se pode. O poeta sabe do que estou a falar. Não pode fazer milagres...
Tem toda razão o comentador de 3 de Novembro de 2015 à 01:51.
Quando vi que a quadra continha a palavra «rôdos», disse para com os meus botões: - Isto não é para todos!
Fez-se o que se pode, que é como quem diz, a quadra é boa mas para a construção das décimas foi o cargo dos trabalhos.
Um abraço!
Faço cópia da quarta e última décima das glosas
"IV
Tudo podia ser diferente
Com um espécime racional,
O bem venceria o mal
Se a carne fosse inteligente.
Embora às vezes doente
Bate forte o coração,
Há quem partilhe o pão
Sem pedir nada em troca…
O amor ainda nos toca
Dividido pela razão.
Matias José"
Bom, mesmo muito bom o que se pode ler! Parabéns ao poeta!!!
É a ganância que faz que o pão não chegue a todos, e é isso que o poeta nos transmite na sua mensagem. Muito bom!
Caro Matias José, não ficaria melhor : movido pela razão, em vez de : dividido pela razão?
Caro amigo
O mote que deu origem às décimas, não é meu, é de António Aleixo como pode verificar na publicação do Altejo. Só fiz o que manda a regra, seguir o mote:
Há no mundo pão a rôdos
E há fome sem precisão
Pois o pão chegava a todos
Dividido pela razão.
António Aleixo
Um abraço!
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