sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ORELHUDOS DO CARAÇAS - Por A.N.B.


I)                    Estados de Espírito
 Em traços gerais, vamos reparando que no mundo actual tal como se apresenta neste principio do século XXI quase tudo nele é instável. O Al tejo sabe isso e parece ter esta visão das relações internacionais em curso.
As quais, como não podia deixar de acontecer se reflectem, de imediato, na ordem interna dos países que as compõem. Sejam pequenas, médias, ou grandes potências conforme o poder que vêm demonstrando…sendo que as pequenas andam a contar cada vez menos.
Os cinco continentes, as guerras, a violência, os choques de religiões, os projectos de poderes (velhos e novos) estão em plena afirmação e mutações diversas.
De tal maneira é assim que, a não existir uma certa hierarquia e equilíbrio de poderes entre os países e nas organizações internacionais que o(s) orientam e vão regulando (como a ONU ou outras agências de poder internacional),o sistema de relações internacionais  pode entrar  em colapso.
Por mais que os optimistas pretendam dizer o contrário, a verdade que deve dominar as análises é que, realisticamente, o mundo não está para brincadeiras e que entrou numa fase de mudanças imprevisíveis. Reparem na emergência súbita do DAESH.
Foi neste sentido que a Nato foi e é importante. Tal como foi importante, o Pacto de Varsóvia, criado em 1955 para fazer corresponder os poderes, entre si, tanto dos USA como da URSS como dos dois blocos que lideravam. De modo a manterem (e a conseguirem) “a paz possível”.
Mas não “a paz desejável” num clima de guerras indirectas e por procuração para evitar uma guerra generalizada, improvável, porque a acontecer desta vez arrasaria o planeta azul.
Daí “a co-responsabilidade” que as duas superpotências, repito as duas, assumiram a partir da assinatura do Tratado de Moscovo logo em 5 de Agosto de 1963 para evitar «a proliferação vertical e horizontal» das armas atómicas na sequência do incidente grave de Cuba.
Uma coisa, porém, é certa: os tratados geralmente por cumprir jamais serviram para acabar com a rivalidade constante, as guerras indirectas e marginais, a luta ideológica que orientou o poder dos USA e dos seus aliados ocidentais; ou o correspondente poder da URSS com os seus aliados de leste.
Isto para não falar aqui do poder em formação da China e do terceiro-mundismo que tendiam para ver na Guerra Fria «uma competição quente» entre os imperialismos capitalista e soviético abrindo espaço certeiro à sua própria afirmação.
De tudo o que já dissemos, resultam pelo menos duas coisas: (a) que as potências em competição, o que faziam era recorrer aos seus próprios sistemas de valores e poderes para justificarem ou condenarem e rivalizarem com os comportamentos dos adversários;
(b) que sempre existiu uma dramática hierarquia competitiva entre as grandes potências que foi desembocando em tragédias sucessivas. Basta lembrar a tragédia nazi para ver que a dita hierarquia dos poderes é um facto permanente.
Ou até que desta realidade decorreu sempre uma ordem imperial romana, uma ordem britânica, uma ordem americana, uma ordem soviética, etc., conforme as épocas históricas e as regiões.
Até Portugal, como sabem pretendeu (e terá conseguido impor) uma ordem marítima oceânica/ mundial dominando metade do mundo após ter negociado, em Tordesilhas, com Castela a partilha das áreas de influência e de exploração colonial onde, aliás, avultou tanto quanto as especiarias o comércio altamente lucrativo de escravos e “a descoberta” do Brasil.
Em síntese, vamos dizer que, época após época, o que por demais encontramos são “santos e pecadores”. Assim foi com o poder “hierarquizado“ e universal da Igreja. Assim será.
Dito de uma forma ainda mais simples, todos os poderes têm “os defeitos das virtudes”. Sobretudo se forem imperiais, excessivos, guerreiros e pouco democráticos! Putin não é sacristão nem Obama é padre. 

     ii)          Estado das Coisas
                 Estamos a pouco menos de uma semana dos dois dias mais frenéticos do ano político em curso. O que está principalmente em causa é uma outra forma de fazer política contra a hegemonia da direita liberal. Com a transferência óbvia de poder e mudança de protagonismos.
António Costa como é sabido fixou 4 objectivos na noite de 4 de Outubro adequados ao tempo que vivemos. Sem violação dos tratados internacionais a que Portugal está vinculado. O tempo “das carpideiras” terá terminado por mais que Pedro Passos Coelho ande a oferecer alternativas de última hora.
O decisivo, quanto a nós, neste momento, é o PCP e o BE aceitarem que é bem melhor que o Partido Socialista seja governo do que deixar uma qualquer nova direita fazer mais do mesmo. Uma coisa são os programas políticos diferentes, outra coisa são as realidades e as desigualdades sociais com que o país se confronta e se vêm agravando.
Em resumo, o país não precisa agora de novos pregadores e ministros angariadores de seguros. Precisa, isso sim, de coesão social, de fazer escolhas, ter políticos corajosos, e capazes de assumir contra a direita que “os sem poder podem ter e ver-se representados no poder”.

iii)  Estado da Terra
        Vimos com agrado que o Concelho do Alandroal integra a Associação Transfronteiriça do Lago do Alqueva, a ATLA. É melhor que assim seja porque se trata de beneficiar de fundos europeus que podem alterar, por aqui, a paisagem social e económica. Mas isso não basta, o anúncio só por si não chega.
O que se torna urgente, é a Autarquia pensar, liderar e incentivar projectos de desenvolvimento local, perspectivando no terreno actividades inovadoras a curto/médio prazo. 
Pondo em evidência que o Concelho não está condenado «a uma morte lenta» se envolver nesta oportunidade, a participação dos seus munícipes e os demais interessados. Externos e internos.
Será uma tarefa com espinhos e dificuldades mas perfeitamente justificada e viável.   

António Neves Berbem
     ( 6/XI/ 2015)


Sem comentários: