Quinta, 12 Novembro 2015
A 10 de Novembro, uma maioria de
deputados com assento na Assembleia da República rejeitou o programa do governo
empossado pelo Presidente da República e os partidos que representam assinaram
um conjunto de acordos bilaterais que permitem ao PS constituir Governo.
A coligação de direita falou de golpe e de usurpação de poder, ameaçou com
o caos, abriu o livro das desgraças e rogou pragas ao futuro.
Para quem andou, desde sempre, a afirmar
que as eleições legislativas tinham como fim eleger uma assembleia plural de
deputados e não um governo ou um primeiro-ministro, como plasmado na
Constituição, teve no passado dia 10 o reconhecimento prático de um facto
sempre sonegado por aqueles que defendiam a existência de um arco que excluía
uma parte significativa dos portugueses representados.
A 10 de Novembro quebrou-se um tabu.
Afinal é possível que, forças políticas com diferenças programáticas
significativas, acordem entre si um programa mínimo que permita suportar um
governo comprometido em parar a barbárie e devolver ao povo a esperança de um
outro caminho.
Todos sabemos que tal possibilidade
resulta de uma conjugação de factores que até este momento não se tinham
verificado e “obrigaram” os actores políticos a esta decisão histórica.
Todos, os que nos reclamamos de
esquerda, depositamos uma enorme esperança neste caminho, mesmo sabendo que
está no início, que as curvas são apertadas, que a solução encontrada terá que
governar com a oposição feroz da maioria dos infestam a comunicação social e
que a intriga política irá apostar no aprofundar das legítimas diferenças entre
os partidos que suportam a solução encontrada.
Os tempos que se aproximam serão muito
exigentes e exigirão de quem procura uma ruptura com o caminho da austeridade,
o discernimento que apenas a inteligência pode suportar e a coragem que a
apenas as firmes convicções podem garantir.
A esta data não sabemos ainda o que irá
decidir o actual Presidente da República e tendo em conta o que se conhece do
personagem todas as cautelas serão poucas, embora a sua margem de manobra tenha
ficado muito reduzida e provavelmente não lhe restará outra opção que indigitar
o secretário-geral do PS como primeiro-ministro.
Se acontecer o que desejamos, vamos
precisar em Belém de alguém que seja um garante do cumprimento da Constituição
e não um chefe de seita que monte uma guerra de guerrilha contra o governo e a
maioria que garante o seu funcionamento, e é neste contexto que a batalha das
presidenciais assume um carácter decisivo.
São muitas batalhas em simultâneo,
sempre foram, mas o capital de esperança que se viu reforçado a 10 de Novembro
irá seguramente municiar os que todos os dias lutam contra as inevitabilidades
e os caminhos únicos.
Que ninguém se atreva a desistir. Os
nossos filhos não nos perdoariam.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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