Terça, 03 Novembro 2015
Por muito que a vida dos cidadãos
prossiga no dia-a-dia para além das incertezas de quem nos governará, a atual
situação deve ainda assim deixar pelo menos expectante muita gente, a avaliar
pelos desabafos de com quem me vou cruzando tenho ouvido.
No fundo, presumo que, independentemente da margem em que se esteja do rio,
mais ou menos a ver passar quem por lá navega, a esperança é que o rio tenha
água e que quem dele cuida, porque dele dependemos, o faça da melhor forma. Às
vezes sem muita fé, sobretudo na sequência de uma autoinfligida crise de
confiança que alguns dos próprios candidatos a governantes atravessam
arrastando todos os outros, justa ou injustamente. Só de facto não está
submetido ao duro escrutínio de estar no poder quem lá não esteja, e às vezes
nem queira estar. Ficar nas margens a ver passar quem governa a corrente é
sempre o lugar mais resguardado, quer seja vivenciado com maior ou menor
inquietude, atividade, empenho ou indiferença. É que, por muito pouco
respeitada que esteja a política pelo cidadão comum as suas vidas dependem
muito mais dela do que os indiferentes possam talvez suspeitar…
Quem está por isso mais atento por ter
atividade, profissional ou de intervenção ativa, que dependa dos atores e ações
dos governantes, deita-se a tentar adivinhar o futuro projetando cenários que,
até no “pim-pam-pum” da escolha aparentemente aleatória, são previsíveis. Se na
rima lúdica de escolha a contagem das sílabas métricas pode fazer recair sobre
um outro escolhido, mais à frente ou atrás na roda, quando se conhece o
percurso dos atores que ditarão o futuro do Governo de Portugal talvez seja
mais certa a previsão sem certezas antecipadas. O que me parece por demais
ridícula é a atitude de quem olha este futuro, nesta área, mais do que
colocando hipóteses, que tenho ouvido bem colocadas por gente das duas margens,
irrompendo em histerias que vão até mais longe e mais alto do que muitos soundbites lançados
por quem deles vive, quais claques de uma regata em que parece só ser possível
que ganhe aquele que, por se terem afundado os restantes concorrentes, chega à
meta em primeiro.
Bem sei que muitos esquecerão, metidos
no mesmo baú trancado e selado, os disparates cuspidos ou as afirmações
convictas que antes da corrida chegar ao fim se foram dizendo em público. E é
pena. Mas é também humano. É a memória seletiva com que contamos mesmo no
interessante exercício intelectual de juntar factos, dados e conjeturar. Pode
parecer trabalho a mais para valer, quanto mais não seja, um voto numa urna em
dia de eleições, mas olhem que acabará por contar para decidir quem nos governa.
O Vergílio Ferreira escreveu que Tentar provar o futuro é muito mais
interessante do que poder conhecê-lo. Como no jogo, não o ganhar, mas o poder
ganhar. Porque nenhuma vitória se ganha se se não puder perder. E eu
concordo. Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
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