Quinta, 29 Outubro 2015
O Presidente da
República dirigiu-se aos portugueses e indigitou o líder do PSD para formar
governo. Até aqui nada de estranho ou de particularmente dramático,
independentemente de achar que, com o chumbo anunciado na Assembleia da
República, pode o Presidente da República ter colocado numa situação pouco
confortável o futuro ex-primeiro-ministro.
Mas o Presidente não fez apenas esse
anúncio. Dirigiu-se aos portugueses para lhes dizer que não conta com um milhão
de concidadãos seus para qualquer solução governativa, com ou sem a presença de
representantes seus eleitos nos mesmos termos que todos os outros.
Também apelou de forma
explícita à dissidência de deputados eleitos por um partido que, entende o
Presidente, não pode entender-se com o tal milhão de proscritos.
Fez tudo isto com a
habitual inabilidade para o uso da palavra e conseguiu que a maioria dos
analistas e comentadores honestos de direita e do centro (os de esquerda, ainda
que vagamente, parece terem sido banidos da opinião publicada) tivessem criticado
o seu discurso.
Mas pronto, o homem lá
indigitou o presidente do seu partido para formar governo e, passados uns dias,
apareceu uma lista de homens e mulheres que irão ser o governo do país durante
uns dias.
Todas as televisões se
entretiveram a passar em revista os nomes apresentados, dissecando
características, perscrutando o seu passado e tentando adivinhar o seu futuro.
Independentemente da
duração do governo, este exercício de elogio ou crítica a personalidades
apresentadas como ministros sempre me pareceu absolutamente estéril.
O que está em causa
não são nomes, percursos pessoais ou profissionais, mas apenas e só a
orientação política e económica do próximo ex-governo.
Eu confesso que nutro
algum respeito, por pessoas que se sujeitam ao vasculhar da sua vida sabendo
que irão ser ministros por meia dúzia de dias.
Já não me parecem tão
respeitáveis os argumentos dos que acham que a eleição do Presidente da
Assembleia da República, realizado por voto secreto, deva ser uma espécie de
ritual que garante a eleição do deputado indicado pelo partido mais votado e
por isso gostei que, pelo menos desta vez, o arco da governação, que também é
da exclusão, não se tenha desenhado sobre as cabeças dos deputados.
Os próximos dias serão
ainda mais tensos que os que vivemos desde o dia 4 de Outubro e irá adensar-se
a barragem de fogo sobre a alternativa ao governo que tomará posse na próxima
sexta-feira.
Se já vale tudo para
pressionar, chantagear e amedrontar, nem imagino o que por aí virá.
Provavelmente em vez de programas com quatro comentadores do mesmo espectro
político, teremos oito a dizerem a mesma coisa.
Continuo com a mesma
esperança de há duas semanas. Que seja possível um outro governo, quero lá
saber dos nomes, que rompa com o curso político dos últimos anos.
Até para a
semana
Eduardo Luciano
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