sexta-feira, 18 de setembro de 2015

VASCULHAR O PASSADO - Rubrica mensal do Augusto Mesquita

                                               Tributo aos 25 anos da APORMOR          
           
                                                         Feira da Luz/Expomor:
                                                uma parceria de sucesso!

 Tudo leva a crer que as feiras medievais de Montemor-o-Novo surgiram na sequência do Foral de 15 de Março de 1203 concedido por D. Sancho I. Mas, apenas existem registos da existência de feiras na nossa terra no século XV, mais propriamente em 1442. No Livro da Vereação, se determina, em 5 de Julho, que as vendedeiras “ao dia da feira venham armar suas tendas no Alpendre”. Anos depois, no reinado de D. João II e, por conseguinte, ainda no século XV, já contava nada menos que três feiras.
            Perante a importância que tinham para as localidades, a partir de 1890, as câmaras municipais começaram a criar espaços específicos para a sua concretização e incentivaram a sua efectivação periódica.
            Durante muitos anos, Montemor-o-Novo acomodou três feiras: Maio, Julho (extinta depois da Revolução dos Cravos), e a de Setembro, também conhecida por Feira da Luz, todas com a duração de três dias.
            De todas, a Feira da Luz (certamente por se realizar junto ao Recolhimento de Nossa Senhora da Luz), era, e continua a ser, a mais importante.
            Alem de albergar numerosas tendas de quinquilharia, chapelaria, sola, louça, obras de palma do Algarve, correeiros, albardeiros, ourives, fotógrafos à lá minuta e comes e bebes, esta feira era completada com a transacção de muito gado cavalar, bovino, suíno, ovino e caprino.
            Os vendedores da “banha da cobra” e os “vendedores de cobertores” eram uma presença assídua nos certames. Ainda tenho no ouvido a mensagem do vendedor, transmitida através de aparelhagem sonora: “Não custa nem vinte, nem quinze, nem dez escudos! Custa apenas cinco, e quem levar dois, leva um totalmente de graça. Um para aquele senhor, outro para aquela  menina…
            Os visitantes podiam ainda divertir-se nos carrosséis, carrinhos de choque, poço da morte e nos circos. Na Feira da Luz realizada em 1945 foram montados nada mais, nada menos do que três circos: “Mariano”, “Luftan” e “Cardinal”.
            A ocasião era aproveitada por saltimbancos e outros artistas de rua, que procuravam a generosidade da população que afluía a esses eventos. Os aguadeiros e os homens das quadras eram também presenças assíduas nas feiras. A violência e actividades marginais eram também comuns: malfeitores, prostitutas, ladrões e mendigos afluíam às feiras para furtar, burlar os mais desprevenidos, criar desordens e pedir esmolas.
            No decorrer da Feira de Setembro, os montemorenses ausentes, aproveitam a ocasião para se reunirem na terra natal. Antigamente, quando o transporte próprio era uma miragem, os nossos conterrâneos recorriam aos autocarros e à ferrovia (caravana da saudade), para se deslocarem até à terra que os viu nascer, e desta forma, matarem saudades da família, dos amigos, de lugares, e da gastronomia    .
            Com a construção da Escola Secundária, o Rossio ficou sem possibilidades de albergar as feiras anuais, mais concretamente a de Setembro. Após a aquisição por parte da autarquia da Courela da Pedreira, as feiras mudaram-se para aquele espaço, mais concretamente, para onde se encontra o encantador Parque Urbano. Para que a memória não se apague, ao campo de jogos pelado construído no local, quando da remodelação do Estádio 1.º de Maio, foi atribuído o nome de “Campo da Feira”.
            Com a Revolução dos Cravos surgiu a Festa das Colheitas que foi integrada na Feira de Setembro. Os pequenos e médios agricultores vendiam fruta, cebolas, batatas, feijão, grão, tomates, pimentos, e outros produtos da sua própria produção. Era hábito, o visitante, comprar produtos para todo o ano.
            Também a Reforma Agrária nascida da revolução, faz luxo em vender um pouco do que produzia e de mostrar o gado que criava. Esta conquista de Abril, começa a ser atacada com a Lei n.º 77/77 de 29 de Setembro, mais conhecida por Lei Barreto, e mais tarde, na sequência da integração de Portugal na CEE, a Reforma Agrária é liquidada através da Lei 109/88 de 26 de Setembro.

Expomor /90
Paralelamente à realização da Feira da Luz, situada junto ao Cemitério de S. Francisco, decorreu em Montemor-o-Novo, nos dias 1, 2 e 3 de Setembro de 1990 a primeira edição da Expomor. Organizada pela APORMOR – Associação de Produtores de Bovinos, Ovinos e Caprinos da Região de Montemor-o-Novo, criada em 11 de Julho desse ano, teve como palco o Rossio da nossa cidade.

            Com a realização desta mostra, pretendeu a organização dar a conhecer a qualidade da produção de animais que se regista no nosso concelho, dado que somos uma região relevante a nível nacional no sector da pecuária, a tal ponto que alguns dos nossos produtores registaram já importantes participações, tendo inclusive obtido alguns prémios em certames desta natureza quer a nível nacional quer a nível internacional.
            De forma a garantir um elevado nível de qualidade dos animais expostos, a organização apenas admitiu no certame, exemplares puros de raça, inscritos nos livros genealógicos, tendo estado representados bovinos, ovinos, caprinos e equinos.
            Convidado a deslocar-se a Montemor-o-Novo, o Secretário de Estado do Ministério da Agricultura e Pescas, Eng.º Luís Damásio Capoulas, veio inaugurar a Exposição Pecuária.
            Aguardado pela Corporação dos Bombeiros locais, em formatura, a que passou revista acompanhado do Comandante José Reis, foi depois cumprimentado pelas Autoridades. Após os cumprimentos, o Secretário de Estado cortou a fita da entrada da Exposição, percorrendo em seguida, os vários pavilhões onde se admiravam impressionantes exemplares de gado bovino, lanar e caprino.
            Depois de uma breve visita à Feira da Luz, seguiu-se um valioso Colóquio na Biblioteca do Convento de S. Domingos.
            O saudoso Dr. Francisco Capela do Carmo Reis informou que Montemor-o-Novo dispõe de um efectivo pecuário de 23.500 vacas e 81 000 ovelhas, sendo o concelho de maior produção animal no Alentejo. Por isso, torna-se imperioso dotar esta nossa região de melhores condições para divulgação da nossa capacidade produtiva, criando estruturas para albergar amostragens pecuárias, bem como promover cursos, leilões e outras iniciativas julgadas convenientes. Oportuno é solicitar à Câmara Municipal a sua colaboração para a realização deste objectivo – construção de um espaço polivalente onde se possa desenvolver e promover a actividade pecuária no Concelho de Montemor-o-Novo.
            Depois de algumas intervenções de lavradores e técnicos presentes, usou da palavra o Secretário de Estado, dissertando sobre a situação actual da lavoura e pecuária, face aos condicionalismos da CEE.
            A Câmara Municipal apoiou com tudo aquilo que estava dentro das suas possibilidades, realizando as infra-estruturas necessárias ao certame. Como reconhecimento, a Associação de Agricultores presenteou o presidente do município José Vicente Grulha, com o seu símbolo.
            Esta, não foi a primeira exposição pecuária que se realizou em Montemor-o-Novo. Em Setembro de 1929, igualmente integrada na Feira da Luz, o Sindicato Agrícola de Montemor-o-Novo, (associação local, fundada por agricultores ao abrigo do decreto de 5 de Julho de 1894), promoveu uma mostra, que exibiu diferentes representantes do sector pecuário, que segundo a imprensa da época, foi bastante concorrida.

Parque de Leilões
O apelo do Dr. Francisco Reis acima referido, foi ouvido pela autarquia. Por iniciativa desta, realizou-se uma reunião com a Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, a Câmara e a APORMOR, onde foi feito um acordo que permitia construir o Parque de Leilões no local pretendido pela APORMOR.
            Foi com base nesse acordo, que a APORMOR fez a candidatura aos fundos comunitários e se partiu para a concretização da obra, tendo-se avançado para um Protocolo entre a APORMOR e a Câmara onde se definiu o apoio da autarquia à obra do Parque de Leilões.

                                                                            Inauguração
 No dia 2 de Setembro de 1995 o Primeiro Ministro Cavaco Silva, acompanhado do Ministro da Agricultura, Arlindo Cunha, do Ministro das Obras Públicas, Ferreira do Amaral, do Secretário de Estado da Alimentação, Luís Capoulas, do Presidente da CAP, José Manuel Casqueiro, do Governador Civil de Évora, Mira Branquinha e do Presidente da Câmara Municipal, Carlos Pinto de Sá, de membros da associação em festa, de muito povo e da comunicação social, inaugurou as instalações (inacabadas) da Apormor, e a Expomor/95.
            O leilão inaugural apenas se realizou nos finais do ano de 1996.
            Sabendo colocar acima de outros, os interesses do nosso concelho, a Câmara Municipal e a APORMOR, colaboraram na concretização de uma obra fundamental para o desenvolvimento de Montemor. A velhinha Feira da Luz, apoiada pela Expomor, passou de uma vulgar feira, para um dos mais importantes certames do Alentejo, que trás até nós, milhares de visitantes. É sem dúvida alguma, a altura do ano em que a cidade mais fervilha de alegria e de intensa actividade, que se prolonga por 6 dias. Mais do que nunca, a feira é um lugar cheio de sons, movimentado e colorido. Por isso, a “Vila Notável” fica-lhes eternamente grata.

Setembro/2015
 Augusto Mesquita


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