sexta-feira, 25 de setembro de 2015

IN MEMORIAM

                                Old friends
Quando começamos a perder seres que nos amaram incondicionalmente ao longo de toda a nossa vida e que, pelo sangue ou pela amizade, faziam parte indissociável de nós, do nosso ser, das nossas entranhas, do ar que respirávamos, tentamos, timidamente, encontrar formas de ultrapassar a dor, de minimizar o desgosto, de nos aproximarmos, discreta mas eficientemente, dos seus olhos, dos seus ouvidos, dos seus lábios. O ser humano, ainda que se diga sem fé, tem feito a sua vida, desde tempos imemoriáveis, como homem religioso que tenta encontrar noutra dimensão o que não encontra no mundo, na cidade, na rua onde vive. A certa altura, muitos afastam-se de uma prática religiosa, com maior ou menor intensidade, porque pretendem, com um olhar mais objectivo, tentar perceber a lógica do que, aparentemente, não tem qualquer lógica. Essa separação, quase sempre temporária, acaba, tantas vezes, por dar frutos. E é preciso começarmos a perder os que mais nos amavam para percebermos que o mundo pode ser mais do que terra, água, ar e fogo.

João Luís Nabo
In "O Montemorense", Setembro de 2015 


Sem comentários: