DO CINEMATÓGRAFO PARA A
PÓLIS, - por Henrique José Lopes
O SOL NASCE PARA TODOS. (Por
um voto se ganha…por um voto se perde).
No próximo dia 4 de outubro temos as eleições legislativas.
Momento em que cada um de nós pode ser exercer o seu direito de cidadania.
Descansem que não vou fazer campanha eleitoral neste artigo, mas sim, campanha
de cidadania em tons cinéfilos. Neste sentido lembrei-me de um filme de John
Ford intitulado “O Sol Nasce Para Todos” e foi realizado no ano já distante ano
de 1953 (cá estou eu com a mania dos filmes do tempo da maria caxuxa…). Não sei
se Ford é ou não o maior realizador de toda a história do cinema (certamente
não anda muito longe disso….), por outro lado, a acreditar nas palavras do
saudoso critico e diretor da cinemateca portuguesa João Bénard da Costa, esta
obra cinematográfica era a mais amada pelo realizador.
Não foram poucos os que acusaram o realizador ao longo da sua
longa e prolífera carreira (realizou mais de 130 filmes e um dos raros nomes
que foi igualmente grande no mudo como no sonoro) de ser um conservador.
Verdade ou não, a sua obra fala por si e esclarece essas questões. Assim de
repente, estou a lembrar-me de “As Vinhas da Ira” (1940), magistral adaptação
do romance homónimo de John Steinbeck e que constitui (ainda hoje) uma das
melhores adaptações de uma obra literária ao cinema, ou de “A Grande Esperança”
(1939), onde Ford nos oferece um prodigioso retrato de juventude de Abraham
Lincoln e do seu inicio de carreira. Filmes de forte cunho humanista e de
sentido de justiça. Voltemos a “O Sol Nasce Para Todos”, a sinopse do filme que
o DVD lançado em Portugal (feliz e muito pertinente iniciativa) propõe é
elucidativa do já referido humanismo e sentido de justiça que Ford patenteia
admiravelmente nesta obra:
No princípio do século XX,
numa pequena população de Kentucky, o popular Juiz Priest, interpretado por
Charles Winninger, candidata-se à reeleição contra um fiscal ianque. É
considerado um homem bom, honrado e tolerante que luta por um mundo justo, numa
América dividida e cheia de preconceitos. A tentativa de resolver e mediar
várias situações dramáticas, como o linchamento de um negro acusado de
violação, irão permitir-lhe ganhar o respeito de uns e a ira de outros. Ainda
que isso possa afetar as votações do povo, o Juiz decide continuar a sua luta
até ao fim.
No dia das eleições o juiz Priest quase se esquece de votar e em
cima da hora exerce o seu direito de cidadania. Vence as eleições por um voto,
e é o seu voto em cima do fecho que decide o destino de quem irá governar. Já
de noite e longe do medo que assaltava a mente de muitos, a perspetiva de uma
vitória do adversário do juiz Priest, brancos e negros prestam-lhe a devida
homenagem. Pelo filme desfilam outros momentos antológicos: a fabulosa cena do
funeral da prostituta, o portentoso discurso-sermão do juiz na igreja e os
momentos musicais (tão presentes na obra de Ford).
Do cinematógrafo para a polis? Precisamente e é tanto…tanto
assim. A propósito desta relação entre o cinema e a vida, recordo Manoel de Oliveira. O genial cineasta português referiu
(a partir do que ouviu [ou leu] do grande cineasta francês Jean-Luc Godard) o
seguinte: “o cinema não é uma arte. O cinema não é a vida: mas situa-se
precisamente entre as duas”. Também por isso, este filme de Ford é uma
espantosa metáfora para o próximo ato eleitoral. Por um voto se ganha…por um
voto se perde. A democracia apesar de ser um sistema frágil e imperfeito, ainda
é o melhor de todos os sistemas como alguém um dia disse.
Concluo com as palavras de Bénard da Costa retiradas de um texto
a propósito deste filme (a cada revisão vai ganhando uma maior importância para
o espetador) e no qual fica “a ideia de que a democracia acaba por funcionar
contra manobras e que o povo sabe escolher”. Veremos o que acontece em 4 de
outubro…
Henrique Lopes
Publicada in "Folha de Montemor" - Setembro 2015 - transcrição autorizada pelo Autor
13 comentários:
“O SOL NASCE PARA TODOS. (Por um voto se ganha…por um voto se perde).”
Gosto particularmente destas frases que tomei a liberdade de reproduzir aqui no meu comentário.
Concordo plenamente com este post. Boas frases, óptimas comparações. Uma grande lição a lembrar o que é a cidadania. Esperamos que ninguém se esqueça que a cidadania tem direitos e deveres. No próximo dia 4 de Outubro todos temos o dever de exercer o direito ao voto que foi conquistado com a democracia. Que é realmente como diz no seu testo “ um sistema frágil e imperfeito, ainda é o melhor de todos os sistemas como alguém um dia disse.” Devemos preservá-lo e se possível melhora-lo. Como qualquer sistema está em constante mutação, devemos, por isso, alimentá-lo. No exercício de cidadania, estamos a construir o futuro e a louvar os antepassados que lutaram por isso. O direito ao voto deu muito trabalho a conquistar.
Nunca nos podemos esquecer que o voto é uma arma.
Parabéns ao autor do testo
Maria M
se o voto dos portugueses for o previsto nas projeções da catolica estamos fritos mas so nos resta respeitar a democracia e rezar aos anjos e santos que esses senhores nos permitam sempre votar ...
Nem que seja votar em branco quando toda a classe política não prestar.
... quando TODA a classe política não prestar.
Qual ?
A que tem sido votada para governar o País no pós 25 de Abril?
Atente-se na PERSEGUIÇÃO (diária) das sondagens!!!
... nem que seja votar em branco ...
N U N C A
Fraternidade - Igualdade - Humanidade
S E M P R E
Votar em branco é muito perigoso...
Quem não quiser dar votos a nenhum partido deve inutilizar o boletim,
fazer-lhe um ou mais riscos.
Atenção, olhem que sei do que estou a falar.
Em sintonia quando escreve: "Votar em branco é muito perigoso..."
Já agora, não votar em quem estragou as nossas vidas... PS/PSD/CDS. É deveras muitíssimo perigoso!!!
Atenção, penso que muitos sabem do que falo pois num ápice viram as suas vidas a andar para trás.
Cautela e caldos de galinha.
Anónimo Anónimo disse...
... quando TODA a classe política não prestar.
Qual ?
TODA, ou o amigo não sabe ler?
Anónimo Anónimo disse...
Em sintonia quando escreve: "Votar em branco é muito perigoso..."
Já agora, não votar em quem estragou as nossas vidas... PS/PSD/CDS. É deveras muitíssimo perigoso!!!
PENSAVA QUE O VOTO É UMA ESCOLHA INDIVIDUAL, MAS PELOS VISTOS ESSE DIREITO PARA O CARO COMENTADOR NÃO EXISTE, E AO JEITO DA DITADURA VEM AQUI DIZER AOS OUTROS EM QUEM DEVEM OU NÃO VOTAR.
CADA UM VOTA EM LIBERDADE ONDE QUER E ATÉ EM LIBERDADE PODE VOTAR EM BRANCO OU ATÉ NEM IR VOTAR, O QUE É QUE O AMIGO TEM COM ISSO?
E DEPOIS FICAM ADMIRADOS QUANDO SE DIZ QUE OS POLÍTICOS E JÁ AGORA A CAMBADA QUE OS SEGUE NÃO PRESTAM, VEJAM LÁ QUE ATÉ QUEREM DIZER AOS OUTROS ONDE DEVEM VOTAR.
ISSO JÁ FOI, 25 DE ABRIL SEMPRE.
A este propósito pretendo esclarecer, que os comentários estão abertos, desde que não enveredem por ofensas, a todas as correntes politicas, e partidos que assim o entenderem. Não vejo portanto qualquer mal em que cada um defenda o seu candidato/partido, aconselhando o voto. Não se faz o mesmo em comicios, alvoradas, panfletos e outros meios que a democracia permite?
Claro que preferia que os comentários nesta postagem se concentrassem mais sobre cinema...mas na verdade o Autor na sua análise cinematografica tambem "puxa a brasa à sua sardinha" !
Tudo bem
Chico Manuel
O anónimo de 28 setembro, 2015 13.34 quer ainda mais ditadura que aquela que nos tem oferecido o arco da governação PS/PSD/CDS???
25 de Abril sempre???
Muito longe dos ideais de Abril que foram traçados pelo MFA/POVO.
Anónimo Anónimo disse...
O anónimo de 28 setembro, 2015 13.34 quer ainda mais ditadura que aquela que nos tem oferecido o arco da governação PS/PSD/CDS???
A ESQUERDA QUE SE UNA, E QUE PENSE NO PAÍS EM VEZ DA META DO NUMERO DE DEPUTADOS NACIONAIS E EUROPEUS, ASSIM COMO O NUMERO DE AUTARCAS QUE VÃO CHEGANDO PARA MANTER E FINANCIAREM O PARTIDO.
OS TAIS DE DIREITA ESTÃO UNIDOS E OS DE ESQUERDA NUNCA TIVERAM , PORQUÊ.
EU RESPONDO, PORQUE LHES DÁ JEITO, PRIMEIRO OS SEUS INTERESSES E DEPOIS OS DO PAÍS.
TODOS DIFERENTES MAS TODOS IGUAIS, E TODOS RESPONSÁVEIS DO ESTADO EM QUE NOS ENCONTRAMOS DE FORMAS DIFERENTES, MAS TODOS RESPONSÁVEIS.
25 DE ABRIL SEMPRE MAS COM OUTROS POLÍTICOS.
Dá jeito meter tudo no mesmo saco, não é?
Desata-me esse nó!
Alguns destes filmes o meu pai exibiu no Alandroal.
Aliás este realizador fazia parte dos que o meu pai mais gostava.
Parabens pelo comentário
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