quarta-feira, 26 de agosto de 2015

MEMÓRIAS - Hoje do Chico Manuel

Este foi um dos automóveis no qual o Senhor Domingos Maria Peças, normalmente às Segundas-feiras trazia a muitos Alandroalenses uma noite de sonho e magia. No mesmo transportava uma "catrefa" de material. 
Alem das bobines dos filmes a exibir, a máquina de projectar, as cornetas do som, uma enorme caixa para enrolar e desenrolar as bobines, iluminação necessária e frequentemente um “compagnon de route”, de seu nome Salustriano quando vinha de Monforte, o Padoca quando partia do Alandroal para outras paragens.

Esta é a parte dos incompletos “Casarões”, que por certo muitos Alandroalenses ainda se recordam. Era neste imóvel, que nunca chegou a servir o fim para o qual foi idealizado que o Domingos Peças, nas quentes noites de Verão procedia à exibição dos filmes programados.
Teria sido uma obra de grande envergadura se motivos, julgo pecuniários, não tivessem impedido o seu acabamento. 
Tratava-se de ali construir a sede da então Sociedade Artística, mas que se ficou apenas pelos alicerces, duas grandes divisórias, e o espaço destinado a uma cave de grande dimensão. Na segunda divisória de considerável comprimento, ao fundo foi adaptado um ecran fixo, que permitia o visionamento até em cinemascópio e tecnicolor das “fitas” , muitas vezes com a intromissão de personagens estranhas ao filme (ratinhos, osgas e afins) procedentes do fosso onde era suposto construir um palco, mas que na falta deste se foi enchendo de estranha flora. Ao alto das paredes que separavam as duas divisórias eram colocados os  “alti–falantes” que sem necessidade de Soround nos faziam sonhar escutando o sussurrar de uma Sophia Loren, Grace Kelly, Marilyn Monroe, Brigitte Bardot, Liz Taylor, ou a voz inconfudível de um Burt Lencaster, Tony Curtis, Jonh Wayne, James Stwart…. E então  a “pancadaria” de um Eddie Constantine, ou Tyrone Power que sem necessidade de   3D nos faziam sentir como se os “murros” nos  fossem dirigidos!
Houve que elevar o muro principal na medida em que muitos “borlistas” utilizavam o adro da Igreja como 1º balcão substituindo os poiáis pelas “confortáveis” cadeiras de ferro, ao custo de 2$50, para quem não trouxesse "assento" de casa.
Já a parte lateral (visível na fotografia), era o cemitério das bolas de futebol saídas nas rifas no Domingos Cachamela, pois era ali que duas pedras serviam como traves da baliza, do campo de futebol proporcionado pela extensão dos Arquizes, e onde a bola embatia impulsionada pelos “biqueiros” dos craques.
Com o final do cinema ambulante do Domingos Peças, tornaram-se desnecessários os Casarões, pois chegou-se à conclusão que era de todo impossível concretizar a obra. Foram os mesmos vendidos na altura por 50 contos, verba que deu azo a que a Direcção da Sociedade Artística sugerisse, tendo como fundo de maneio essa verba em caso de prejuízo, a realização das Festas de Setembro. Tal não foi necessário porque em Assembleia Geral, realizada para o efeito, todos os Sócios presentes se comprometeram, conforme as suas posses a disponibilizar a verba necessária em caso de prejuízo.  Não foi necessário, antes pelo contrário.
Mais de meio século se passou. Onde eram os Casarões está agora um Parque Infantil. O local onde se projectava o cinema foi substituído por uma confortável sala de espectáculos, incluída num moderno Forum Cultural.

O local de pó, pedras e lama, que servia de campo da bola, de seu nome Arrequizes, é agora um aprazível local, onde em noites de calor, confortavelmente sentado, se pode disfrutar de um agradável serão.

Saudades do tempo passado. Vontade de usufruir o tempo presente, que vai excasseando...

Chico Manuel

5 comentários:

Anónimo disse...

O local de pó, pedras e lama, que servia de campo da bola, de seu nome Arrequizes, é agora um aprazível local, onde em noites de calor, confortavelmente sentado, se pode disfrutar de um agradável serão.

Pois é, por mérito de um Autarca que fez obra, gastou mas fez, ao contrário de outros que gastaram e não fizeram.

Velho da Praça

Anónimo disse...


E mais não consigo dizer...


..."Esta palavra Saudade dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta, fica na cama a chorar..."

artemiso peças disse...

Mais um execelente artigo dedicado ao cinema ambulante que o meu Pai proporcionou durante décadas aos grandes amigos da bonita Vila do Alandroal.
Ainda me recordo de estar nesse local a exibir à noite muitos filmes.
Hoje tenho 66 anos nessa altura devia ter uns 8/9 anos quando ia com o meu querido Pai nas férias da escola a muitas localidades lembro me de Bencatel Alpalhao Vila Boim Santa Eulália Barbacena Veiros Estrmoz Arronches Asumar Vaiamonte Marvao Monforte etc
Isto para dizer que alem de MONFORTE terra do seu coração estava e sempre esteve também no seu coração a bonita VILA DO ALANDROAL.
HOJE SEI O PORQUÊ É QUE AO FIM DE DEZ ANOS DO SEU FALECIMENTO AINDA HOJE É LEMBRADO COMO UM AMIGO.
BEM HAJAM A TODOS OS ALANDROENSES.
EU ASSIM COMO TODOS OS FAMILIARES ESTAMOS MUITO GRATOS POR TODAS ESTAS BONITAS E DIGNAS HOMENAGENS AO NOSSO QUERIDO PAI.
EM PARTICULAR AO EXCELENTE BLOG AL TEJO NA PESSOA DO SR E GRANDE AMIGO FRANCISCO TATA

Helder disse...


Todas estas recordações são um mar de saudade e para além disso o cinema Peças foi um dos epicentros fazedores de momentos recordativos, de amizades que feliizmente tem continuidade nos nossos encontros chixareiros.
É sempre agradável recordar.
Um abraço de amizade
Helder

Anónimo disse...

Um abraço a todos, em especial ao Sr. Artemiso Peças.