Este foi um dos automóveis no
qual o Senhor Domingos Maria Peças, normalmente às Segundas-feiras trazia a
muitos Alandroalenses uma noite de sonho e magia. No mesmo transportava uma "catrefa" de material.
Alem das bobines dos filmes a exibir, a máquina de
projectar, as cornetas do som, uma enorme caixa para enrolar e desenrolar as
bobines, iluminação necessária e frequentemente um “compagnon de route”, de seu
nome Salustriano quando vinha de Monforte, o Padoca quando partia do Alandroal
para outras paragens.
Esta é a parte dos
incompletos “Casarões”, que por certo muitos Alandroalenses ainda se recordam.
Era neste imóvel, que nunca chegou a servir o fim para o qual foi idealizado
que o Domingos Peças, nas quentes noites de Verão procedia à exibição dos
filmes programados.
Teria sido uma obra de grande
envergadura se motivos, julgo pecuniários, não tivessem impedido o seu
acabamento.
Tratava-se de ali construir a sede da então Sociedade Artística,
mas que se ficou apenas pelos alicerces, duas grandes divisórias, e o espaço
destinado a uma cave de grande dimensão. Na segunda divisória de considerável
comprimento, ao fundo foi adaptado um ecran fixo, que permitia o visionamento
até em cinemascópio e tecnicolor das “fitas” , muitas vezes com a intromissão
de personagens estranhas ao filme (ratinhos, osgas e afins) procedentes do
fosso onde era suposto construir um palco, mas que na falta deste se foi
enchendo de estranha flora. Ao alto das paredes que separavam as duas
divisórias eram colocados os “alti–falantes”
que sem necessidade de Soround nos faziam sonhar escutando o sussurrar de uma
Sophia Loren, Grace Kelly, Marilyn Monroe, Brigitte Bardot, Liz Taylor, ou a voz inconfudível de um Burt Lencaster, Tony Curtis, Jonh Wayne, James Stwart…. E então a “pancadaria” de um Eddie Constantine, ou Tyrone
Power que sem necessidade de 3D nos faziam sentir como se os “murros”
nos fossem dirigidos!
Houve que elevar o muro
principal na medida em que muitos “borlistas” utilizavam o adro da Igreja como
1º balcão substituindo os poiáis pelas “confortáveis” cadeiras de ferro, ao
custo de 2$50, para quem não trouxesse "assento" de casa.
Já a parte lateral (visível na
fotografia), era o cemitério das bolas de futebol saídas nas rifas no Domingos
Cachamela, pois era ali que duas pedras serviam como traves da baliza, do campo
de futebol proporcionado pela extensão dos Arquizes, e onde a bola embatia
impulsionada pelos “biqueiros” dos craques.
Com o final do cinema
ambulante do Domingos Peças, tornaram-se desnecessários os Casarões, pois
chegou-se à conclusão que era de todo impossível concretizar a obra. Foram os
mesmos vendidos na altura por 50 contos, verba que deu azo a que a Direcção da
Sociedade Artística sugerisse, tendo como fundo de maneio essa verba em caso de
prejuízo, a realização das Festas de Setembro. Tal não foi necessário porque em
Assembleia Geral, realizada para o efeito, todos os Sócios presentes se
comprometeram, conforme as suas posses a disponibilizar a verba necessária em
caso de prejuízo. Não foi necessário, antes pelo contrário.
Mais de meio século se
passou. Onde eram os Casarões está agora um Parque Infantil. O local onde se
projectava o cinema foi substituído por uma confortável sala de espectáculos,
incluída num moderno Forum Cultural.
O local de pó, pedras e lama,
que servia de campo da bola, de seu nome Arrequizes, é agora um aprazível local,
onde em noites de calor, confortavelmente sentado, se pode disfrutar de um agradável
serão.
Saudades do tempo passado.
Vontade de usufruir o tempo presente, que vai excasseando...
Chico Manuel
5 comentários:
O local de pó, pedras e lama, que servia de campo da bola, de seu nome Arrequizes, é agora um aprazível local, onde em noites de calor, confortavelmente sentado, se pode disfrutar de um agradável serão.
Pois é, por mérito de um Autarca que fez obra, gastou mas fez, ao contrário de outros que gastaram e não fizeram.
Velho da Praça
E mais não consigo dizer...
..."Esta palavra Saudade dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta, fica na cama a chorar..."
Mais um execelente artigo dedicado ao cinema ambulante que o meu Pai proporcionou durante décadas aos grandes amigos da bonita Vila do Alandroal.
Ainda me recordo de estar nesse local a exibir à noite muitos filmes.
Hoje tenho 66 anos nessa altura devia ter uns 8/9 anos quando ia com o meu querido Pai nas férias da escola a muitas localidades lembro me de Bencatel Alpalhao Vila Boim Santa Eulália Barbacena Veiros Estrmoz Arronches Asumar Vaiamonte Marvao Monforte etc
Isto para dizer que alem de MONFORTE terra do seu coração estava e sempre esteve também no seu coração a bonita VILA DO ALANDROAL.
HOJE SEI O PORQUÊ É QUE AO FIM DE DEZ ANOS DO SEU FALECIMENTO AINDA HOJE É LEMBRADO COMO UM AMIGO.
BEM HAJAM A TODOS OS ALANDROENSES.
EU ASSIM COMO TODOS OS FAMILIARES ESTAMOS MUITO GRATOS POR TODAS ESTAS BONITAS E DIGNAS HOMENAGENS AO NOSSO QUERIDO PAI.
EM PARTICULAR AO EXCELENTE BLOG AL TEJO NA PESSOA DO SR E GRANDE AMIGO FRANCISCO TATA
Todas estas recordações são um mar de saudade e para além disso o cinema Peças foi um dos epicentros fazedores de momentos recordativos, de amizades que feliizmente tem continuidade nos nossos encontros chixareiros.
É sempre agradável recordar.
Um abraço de amizade
Helder
Um abraço a todos, em especial ao Sr. Artemiso Peças.
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