Terça, 07 Julho 2015
No dia e à hora em que
gravo esta crónica já sabemos que o “ Não” ganhou no referendo do lugar onde
nasceu o conceito de Democracia.
Mas continuaremos, como nos últimos dias
antes de sabermos os resultados, a tentar analisar comportamentos, adivinhar
reacções, compor possíveis cenários para o que será a Europa e os países que
nela se querem ancorar em espírito de união. Uma união com contrato, e não “só”
de facto. Uma união com problemas de passado que não queremos para o futuro e
que leva ao terapeuta, ou multidão deles, apenas um dos seus elementos.
Pusemos, para já, a Grécia no divã.
O divan (ou
em grafia portuguesa “divã”) é, como sabemos, uma espécie de sofá, uma peça de
mobiliário. Ficou famoso por ser o lugar onde os psicanalistas desenvolvem as
suas atividades terapeuticas ouvindo os seus pacientes, mas a palavra original
vem-nos da Turquia onde tinha o significado de Sala do Conselho do Sultão. É
que essa sala estava cheia de almofadões, espécie de sofás sem braços nem
encosto, e lá se aconselhava quem manda a decidir o que fazer por um colectivo.
Se habitualmente e de facto a relação entre o paciente e o terapeuta é assim.,
de tête-à-tête, por detrás de cada um deles está uma multidão e as
diferentes circunstâncias que os levam ali naquele momento.
Independentemente de
gostarmos ou não do resultado imediato do gesto que pode significar uma mudança
para o resto das vidas de quem tem problemas, esperamos sempre que essa mudança
ocorra. Aliás, as revoluções e os mortos que elas fizeram – e é por isso que
não gosto das armas, sejam em que nome forem usadas, e são para mim o último
dos últimos recursos fabricados por e ao alcance da humanidade – as revoluções
e as guerras já se escudavam nessa vontade de mudança. O civilizado modo de
organizar entre os gregos a forma de expressão da sua proposta para solucionar
a situação insustentável, a vários níveis, em que se encontram, deveria
levar-nos a corresponder com o mesmo grau de civilização e civismo na
prossecução do caminho de saída de um estado em que não queremos que nenhum par
chegue, nem nós próprios.
Como no divã, o
problema do que ali está deitado a ser analisado e “curado” é também o problema
de todos os que convivem para além daquele momento e com quem, forçosamente,
interagem. Mas todos irão precisar muito mais do que aquele que parece ser o
mais paciente dos pacientes ficar no divã a dizer o que de mal está, à procura
de solução. Há-de ser preciso sair dali e em conjunto com os que o rodeiam
mudar alguma coisa para que…não, para que muito fique diferente. Deste gesto de
quem a custo vai tentando sair do divã espera-se de todos os outros um
correspondente gesto de ajuda, ou não vale a pena andarmos a disfarçar que o
que se faz não é um caótico “salve-se quem puder”. A menos que esse seja o
plano e assim não vale a pena discutirmos com mais ninguém, porque já perdemos,
mais cedo ou mais tarde.
Cláudia Sousa Pereira
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