Se há personagens que
perduram na memória dos Alandroalenses, o “Cachamela” será sempre uma a ter em consideração.
De seu nome próprio
Domingos Rosado, foi uma figura que marcou a década de sessenta no Alandroal.
Muitas foram as
peripécias, que assinalaram a sua presença nesta terra, pois infelizmente o “Cachamela”
já há muitos anos nos deixou.
Não sei porque cargas
de água lhe puseram “Cachamela”, sei isso sim o quanto exímio era no desempenho
do seu ofício como taberneiro, com tasca onde agora se situa a Chaminé. No
roteiro das tabernas do Alandroal, uma visita ao Domingos era imprescindível. E
os seus petiscos, talvez pela falta de higiene com que eram confeccionados, os
mais saborosos. Lembro-me de um dia ao querer presentear umas visitas, com o
melhor que na altura se servia no Alandroal, os mesmos depois de provarem um
tintinho com um bocado de toucinho rançoso, servido na tasca do Domingos, me
confidenciarem que nunca tinham provado presunto tão saboroso.
Considerado um dos
melhores músicos da terra, não houve instrumento de sopro que ele não tocasse
na Banda, sendo frequentemente convidado para outras filarmónicas, para tocar
trombone ou barítano. Quem pode esquecer o primeiro dia do mês de Dezembro,
quando pelas quatro da manhã acordava a Vila, tocando o patriótico “Lusitanos é chegada a hora da Restauração””,
bem no alto das ameias do Castelo, em manifesta provocação aos nossos vizinhos
Espanhóis.
Muitas são as história
que se poderiam contar do Domingos, desde aquela em que meteu no saco uma visita
da tarde, com quem se estava a amanhar,
e que teve que pedir desculpa aos fregueses, que entretanto, e sem serem
esperados se acumularam na taberna, dando como desculpa que tinha ali aquele
saco de lixo que urgentemente tinha que ir despejar na Ladeira das Pedras; só
que não contava que o saco se rompesse. As seis multas seguidas que apanhou da
G.N.R., pois teimou em abrir o estabelecimento, fora de horas, quando as
pessoas regressavam da Sociedade, depois de fechar a Televisão. O ficar detido
quando em pleno Tribunal, teve o desplante de contrapor ao Meritíssimo que ele
não percebia nada das razões dos “porquês”, porque “os porquês” eram o grande
mistério do mundo.
Também eu fui vítima
de uma partida do “Cachamela”, ainda que a mesma não se destinasse,
propriamente a mim, mas sim a um amigo, companheiro inseparável de muitas “aventuras”
na altura, e cujo nome me abstenho de mencionar: Havendo nessa noite baile na
Sociedade da Musica e namorando o meu amigo uma familiar do amigo Domingos,
coisa que não era lá muito do seu agrado, urdiu o seguinte estratagema. Antes
do inicio da função, da qual ele era o principal abrilhantador, convidou-nos a
provar uns passarinhos fritos que tinha acabado de arranjar e que estavam a
fritar na vizinha. Antecipando um bom “aquecimento” para a noitada que se
avizinhava, lá fomos. Esperem aqui um
bocadinho que eu vou ali buscar os passarinhos, mas fecho a porta não apareçam
mais alguns fregueses, que depois o petisco não chega, e entretanto até pode
aparecer a Guarda.
E zás…porta fechada à
chave, e os dois “gulosos” encerrados.
Bem … a ordem de
libertação só chegou quando o baile acabou, e passarinhos nem o cheiro.
Perante a iminência de
uma grande “zaragata” lá surgiu a desculpa: É pá a Guarda viu-os entrar e só
agora é que abalou aqui do pé da porta…não podia fazer nada…senão eles
multavam-me outra vez. Pena foi os pássaros…fugiram todos.
Certa vez travou-se de
razões com um freguês. Convêm dizer que o “Cachamela” era aquilo que se costuma
chamar de rodas baixas, não media mais que metro e meio, enquanto o cliente tinha
cerca de dois metros.
A provocação não
agradou ao outro que sem mais pespegou uma orelhada bem assente no “Cachamela”.
Passados uns dias,
quando o freguês passou à frente da tasca, foi chamado pelo “Cachamela” que lhe
apresentou mil desculpas pois já estava meio tocado, que não era intenção
ofendê-lo, pois não queria dar-se mal com ninguém e blá…blá….blá.…. E até fez
citação da Bíblia: “Deus disse que quando
se bate numa face se deve oferecer a outra”, e se quiseres podes dar mais uma
que eu mereço. É evidente que não deu… e vamos mas é beber um copo.
Depois de emborcarem
meia dúzia…diz o nosso amigo: Eu sou
assim pequeno, qualquer me bate…mas tenho muita força….Queres apostar que posso
contigo? E perante os sorrisos dos presentes….Riem-se! Deixa lá experimentar se consigo ou não levantar-te do chão.
Reuniu todas as forças…começou a levantar o outro e quando achou que era uma
altura já suficiente… larga o desgraçado que desamparado pregou com os costados
no chão…É pá…és pesado…na verdade pesas
mais do que eu pensava…desculpa lá mas faltaram-me as forças.
Todo derreado com a
queda lá rumou a casa…foi então que ufano o “Cachamela” se vira para os
presentes….TINHA QUE AS PAGAR….
Xico Manuel
ADENDA EM COMENTÁRIO DO A.N.B
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ADENDA EM COMENTÁRIO DO A.N.B
.
«OBS.
Começando pelo fim, vou meter uma colherada na
saga que foi a vida do Domingos Cachamela retomando o brilho do texto do
Francisco Manel.
"(...)Anos depois de deixar o Alandroal finalmente o Domingos encontrou a mulher que seria (e foi) a companheira para o resto da sua vida".
O acontecimento esteve bonito e teve de tudo: casamento oficial, copo de água, flores, sorrisos, felicidades e um casal amoroso e já idoso aos beijinhos. O Domingos e a sua velha nova amada no seu melhor numa festa linda.
O João José Galhardas e eu fomos convidados de honra por sermos seus amigos. Mas sobretudo por sermos do Alandroal. Esta é a verdade.
O João J. Galhardas preparou um breve discurso invocando Nossa Senhora da Conceição. Eu preparei outro, onde discorria sobre o seu passado no Alandroal. Como podem concluir a Festa do casamento do Domingos atingiu assim um certo clímax com várias e furtivas lágrimas à mistura.
E de uma coisa ficámos certos: mais lágrima menos lagrima, todas estavam particularmente viradas para os seus tempos áureos no Alandroal.
Ou seja; para os Amigos, para a Banda, para a sua Taberna, para as suas malandrices, para as muralhas, para as multas injustas.
Em suma para o tudo que foi a sua vida, feita de um grande amor pela sua terra. Por mais que casasse e fosse feliz como foi no Lavradio.
Onde acabou reformado dos Transportes Públicos do Barreiro.
Agora, imaginem, reformado enquanto lavador e higienista dos autocarros.
Imaginem, lá isto e digam lá se a vida do Domingos não foi ela mesma um delicioso,asseado e brilhante arco-íris.
Melhores saudações
Antonio Neves Berbem
"(...)Anos depois de deixar o Alandroal finalmente o Domingos encontrou a mulher que seria (e foi) a companheira para o resto da sua vida".
O acontecimento esteve bonito e teve de tudo: casamento oficial, copo de água, flores, sorrisos, felicidades e um casal amoroso e já idoso aos beijinhos. O Domingos e a sua velha nova amada no seu melhor numa festa linda.
O João José Galhardas e eu fomos convidados de honra por sermos seus amigos. Mas sobretudo por sermos do Alandroal. Esta é a verdade.
O João J. Galhardas preparou um breve discurso invocando Nossa Senhora da Conceição. Eu preparei outro, onde discorria sobre o seu passado no Alandroal. Como podem concluir a Festa do casamento do Domingos atingiu assim um certo clímax com várias e furtivas lágrimas à mistura.
E de uma coisa ficámos certos: mais lágrima menos lagrima, todas estavam particularmente viradas para os seus tempos áureos no Alandroal.
Ou seja; para os Amigos, para a Banda, para a sua Taberna, para as suas malandrices, para as muralhas, para as multas injustas.
Em suma para o tudo que foi a sua vida, feita de um grande amor pela sua terra. Por mais que casasse e fosse feliz como foi no Lavradio.
Onde acabou reformado dos Transportes Públicos do Barreiro.
Agora, imaginem, reformado enquanto lavador e higienista dos autocarros.
Imaginem, lá isto e digam lá se a vida do Domingos não foi ela mesma um delicioso,asseado e brilhante arco-íris.
Melhores saudações
Antonio Neves Berbem
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