quinta-feira, 2 de abril de 2015

DUQUES & CENAS - Rubrica do Dr. J.L.N.

                                                                  Alegre convívio 

Montemor é uma pequena aldeia. Já o sabemos. Mas é uma grande metrópole quando pensamos na dificuldade que existe em estarmos, mais amiúde, com os amigos ou com os familiares. É a falta de tempo. É o cansaço depois de um dia de trabalho. É outra coisa qualquer. O motivo é sempre válido e aceite tacitamente por todos. 
Contudo, para além das missas de Domingo ou de uma ou outra iniciativa cultural ou desportiva que nos junta, quase por acaso, existem outros momentos em que se aproveita para matar saudades, para pôr as novidades em dia e combinar, ainda que sem grande força anímica, uma jantarada, um passeio ou apenas um café para descontrair. Esses momentos são... os funerais.

Pois é: é aí que damos de caras com quem não conversávamos havia muito tempo. E, sem qualquer desrespeito para com o falecido ou a família, fala-se de tudo um pouco, desde o tempo, até ao primo que se alistou na marinha para fugir ao desemprego. Desde a conta da luz, à vizinha do segundo esquerdo que já vai no quarto casamento. Dos assaltos de que somos vítimas por causa dos banqueiros e de outros tubarões, ao nascimento do netinho da vizinha Ercília que tem um marido de ouro só que já não diz coisa com coisa. Durante uns bons minutos (por vezes umas boas horas) o cenário do velório esbate-se e fica lá muito longe, com o espaço ocupado pelas memórias, pelas novidades, pela alegria que reina entre os amigos que há muito não se viam. E passam-se alguns momentos... agradáveis.
E à despedida? Bom, nessa altura, lá vem a velha frase: “Para funerais temos sempre de arranjar tempo. Para fazermos um petisco lá em casa... é uma carga de trabalhos para todos estarem disponíveis”. “É verdade, é verdade! Temos de combinar qualquer coisa!” 

E pronto. Damos um abraço e até qualquer dia que tenho pressa. Ou até ao próximo funeral... desde que não seja o nosso. 

João Luís Nabo - Março 2015

1 comentário:

Anónimo disse...


Obs.

Gostei muito deste pequeno texto. Jeitoso e bem ao jeito português.

Mas é também por estas e por outras que o Manoel de Oliveira quando lhe perguntavam porque é que não ía aos funerais dos Amigos (pedia à sua mulher para ir) costumava responder que: "estava a ver se não ía ao dele".

Mas teve que ser. Foi hoje. Honra seja feita ao realizador e ao actor que contracenou com o Vasco Santana.
E quis e conseguiu ser mais velho e valioso do que o século em que nasceu.
Um século português (monárquico, republicano, fascista e democrático) que ele viveu e captou como só os mestres o conseguem fazer.

Viva o Cinema! Dizia-nos Ele.

Melhores saudações

António Neves Berbem