Terça, 21 Abril 2015
Foi uma semana
difícil, a que passou, porque eu perdi uma amiga e nós, na cidade de Évora,
perdemos alguém que era detentora de um imenso saber. Não me era nada
familiarmente, nem sequer íntima ou até “chegada” no relacionamento fora do
contexto de trabalho em que tantas vezes, fora de horas, nos encontrámos. E por
isso, também, me sinto à vontade para exteriorizar o que sinto, assim de forma
tão pública.
A Ludovina foi a pessoa que me
apresentou à carta ética da administração pública. Até porque a tinha afixada,
para quem a quisesse ler, no serviço em que trabalhava. Fazia-o com essa
certeza de quem cumpre e nada tem a esconder. E também porque a queria ver
cumprida por todos quantos ali entrassem nessa condição, que também era a sua e
que tão exemplarmente desempenhou, de funcionária pública.
E depois partiu o meu
Ministro, o que também me voltou a entristecer. Sou de opinião que foi dos
governantes que durante a minha vida enquanto estudante e depois professora e
investigadora de facto assumiu, na área da educação e da ciência, essa função
de servir, que é o que significa literalmente um ministério, o interesse
público. Como lho ouvi dizer, “quis levar a ciência para a rua, a
experimentação para a escola e a argumentação científica para os debates da
sociedade e para a política”.
Estas perdas
lembraram-me a expressão the show must go on, popularmente
imortalizada por quem, com uma morte anunciada, ainda cantou as palavras
àqueles amigos que já se preparavam para chorar a sua partida. Uma expressão
que é um alento para que quem sobrevive aos que partiram continue a viver a
vida, e não apenas a sobreviver, até em sua memória. O Shakespeare também
disse, mais ou menos assim, que o mundo inteiro era um palco e que todos os
homens e mulheres não passavam de meros actores, que entram e saem de cena. A
fama, sabiam-no eles os famosos, não leva à imortalidade. Mas a memória, digo-o
eu, honra os que partiram e nós amamos, nas diferentes formas de amar que a
amizade conjuga.
Choramos os nossos
mortos e nesse chorar não estão eles mas estamos nós. Choramos e isso
alivia-nos, ou não, mas a eles, aos que partiram, já de nada lhes serve. Ainda
assim continuemos a chorar, sim, porque isso é de Homem, com maiúscula. Mas
depois de chorar, teremos de continuar a rir, a lutar, a exigir, a
zangarmo-nos, a aprender, a ensinar, e a amar a vida que é o que eles, os que
partiram, já não podem fazer.
Hoje vou ficar-me por
aqui e vou ali respirar. E faço-o hoje, também, não só porque tenho de o fazer
para viver, mas também pela minha amiga. The show will go on.
Cláudia Sousa Pereira
1 comentário:
Bom dia,
Em primeiro lugar quero dar os parabéns à autora deste belíssimo e sentido texto. E também ao “AL TEJO” por publicar boas crónicas.
Se me é permitido quero aqui associar-me ao sentimento e tristeza pela partida precoce, digo eu - porque como sabemos todos temos data marcada para esta viagem, simplesmente não a conhecemos (e ainda bem).-, do Professor e ex-Ministro Mariano Gago. Grande Homem que tive o privilégio de conhecer pessoalmente e trabalhar na mesma instituição onde ele, à época, colaborava como grande investigador que sempre foi. Concordo com o que aqui é dito sobre a pessoa e a sua obra. Um Homem que serviu a causa pública na educação, na ciência, na investigação, etc.
Portugal, nas últimas semanas ficou mais pobre com a perda de figuras como o Prof Mariano Gago e o Dr. Silva Lopes, perda que também já comentei, em jeito de homenagem, noutro Blogue.
Obrigada pela publicação deste tipo de crónicas, são sempre bem-vindas. Transmitem estados de alma que são factos reais pelos quais temos de passar. E como a autora nos faz sentir temos que continuar a viver e vamos continuar a respirar porque necessitamos.
Tenham um bom dia
MM
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