Quinta, 26 Março 2015
Decidi que tentaria
não fazer crónicas sobre a realidade política local enquanto estivesse a
exercer o cargo para o qual fui eleito. Não é por nada, ou melhor, é mesmo por
uma questão de pudor.
Não faz muito sentido estar aqui
semanalmente proceder a um exercício de auto elogio ou de auto crítica. Prefiro
deixar essa tarefa a outros que podem destilar o seu veneno de forma anónima ou
assumida. Perdoem-me a imodéstia mas é a minha forma de contribuir para que
ninguém morra afogado na bílis que destila.
E por isso, esta
crónica não é sobre política local. É sobre uma certa forma de estar, em que o
ressabiamento, a fulanização e o encantamento com o seu próprio umbigo leva a
perder a noção do ridículo e, essencialmente, a incapacidade de distanciamento
necessário para não entrar em coisas que a idade, embora permitindo, lhe retira
toda a graça.
Esta forma de estar
(ou de ser) tem como característica principal uma espécie de desvio
comportamental que leva a uma quase completa falta de percepção da realidade,
ou melhor, a uma distorção da realidade em função daquilo que se percepciona.
É a velha história da
mãe que foi assistir ao juramento de bandeira do filho e extasiada afirmou “que
bonito desfile, é pena que 499 levem o passo trocado e o meu menino leve o
passo certo”.
Há gente assim. Sempre
com o passo certo, mesmo quando vai tropeçando nas botas de quem vai à frente.
Normalmente têm a certeza que nada nem ninguém fará melhor do que fizeram,
curtindo uma espécie de ciúme permanente que se cose com um ressentimento que
vai crescendo à medida que o tempo passa.
Estão sempre atentas
ao pormenor e distraídas do essencial o que as leva a entrar pelos caminhos da
incoerência ou mesmo de afirmações que se viram contra si próprias.
Quando deitam a cabeça
na almofada dormem mal e acordam sobressaltadas pela assombração do seu passado
recente. Nunca fecham uma gaveta, encerram um capítulo ou sublimam um raiva.
Ficam presas num acerto de contas sem sentido, como se a vida fosse essa
competição em que precisamos de sair sempre a ganhar, nem que seja perante o
espelho.
Nesse processo
obsessivo, chegam a acusar os outros de apenas fazerem a sua obrigação,
assumindo implicitamente que falharam quando tiveram oportunidade de fazer o
mesmo.
É verdade, não estive
a falar de política local. Estive a pensar alto sobre uma certa forma de estar
(ou ser) que não é boa nem má. Apenas não a acho muito saudável.
Até para a semana
Eduardo Luciano
1 comentário:
ENORME COMENTÁRIO
TABELIÃO
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